Rádio MEC-AM, que Roquette-Pinto doou ao Brasil em 1936, pode ser fechada por fazer parte da EBC
Em 1936, Edgard Roquette-Pinto perguntou a Gustavo Capanema, ministro da Educação de Getulio Vargas, se o ministério se interessaria pela Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, a primeira do Brasil, fundada por ele em 1923. A oferta incluía instalações, equipamento, biblioteca, discoteca, instrumentos musicais, partituras, arquivo, móveis e, claro, a estação transmissora, em perfeito funcionamento, com as ondas médias e curtas, e locutores e técnicos com 13 anos de experiência. Tudo isso sem dívidas ou ônus para a União e até com dinheiro em caixa. Única condição: a de que a rádio ficasse fiel à sua missão cultural e educativa, sem vínculos comerciais, políticos ou religiosos.
Capanema respondeu que o presidente aceitava e agradecia, mas sugeria que a doação fosse feita ao Departamento de Propaganda e Difusão Cultural. Ao ouvir isto, Roquette recuou. Parecia adivinhar que, em menos de um ano, esse departamento se tornaria o órgão de censura e propaganda de Getulio. Reafirmou a Capanema que a doação só seria feita ao ministério, não ao governo. Capanema entendeu e garantiu que a proposta estava aceita, sem discussão. E, assim, a Rádio Sociedade se tornou a Rádio Ministério da Educação —futura MEC-AM.
Roquette continuou a dirigi-la até 1943, garantindo a fidelidade aos seus propósitos. Mas, depois dele, a emissora atravessou 20 governos e 40 diretores. Quase todos, civis ou militares, tentaram trair o acordo com Roquette. Alguns conseguiram.
Fernando Henrique fez o que nem Getulio ousou: tirou a rádio do MEC e plantou-a num órgão de propaganda de seu governo. Lula gostou da ideia e criou a EBC(Empresa Brasileira de Comunicação), que aparelhou de alto a baixo, para abrigá-la e à TV Educativa do Rio. Vem agora Bolsonaro e quer fechar a “TV do Lula” —a EBC—, com tudo que há dentro.
Inclusive a heroica e infeliz MEC-AM, que não pediu e não tem culpa de fazer parte dela.
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