Não fará mal às oposições democráticas colocar a luta contra a corrupção na agenda
Progressistas de todos os matizes precisam dar atenção especial aos resultados da pesquisa Datafolha do último fim de semana. Mais da metade dos entrevistados (58%) reprova as conversas do então juiz Sergio Moro com os procuradores da Operação Lava Jato. Igual porcentagem considera que, tendo sido imprópria a conduta do hoje ministro da Justiça, suas decisões deveriam ser revistas.
No entanto, um contingente quase igual (55%) considera o trabalho da Lava Jato bom ou ótimo, ante 18% que o avaliam como ruim ou péssimo. É da mesma ordem o apoio a Moro ministro (52%). Não surpreende que a percepção positiva seja maior entre os eleitores de Bolsonaro e os que aprovam o seu desempenho.
Só que cinco em cada dez entrevistados que votaram em branco, ou se abstiveram, ou ainda anularam o voto também aplaudem a Lava Jato; fazem-lhes companhia pouco mais um terço dos eleitores de Haddad.
Para parte do público uma coisa é a conduta condenável de Moro, outra são os resultados da operação que expôs o conluio entre grandes empresas, figurões do governo e dirigentes dos principais partidos brasileiros nos colossais contratos da Petrobras. A operação desembocou, segundo a contabilidade oficial, na condenação de 159 pessoas, devolução de R$ 14 bilhões ao erário e geração de R$ 24 bilhões em créditos tributários.
A Lava Jato também engendrou o terremoto que fraturou o sistema partidário da Nova República, abrindo caminho para a chegada da extrema direita ao poder. Talvez não precisasse ser assim, fosse outra a reação do PT e do PSDB. Mas passemos.
O que sobressai da sondagem é que a repulsa à corrupção está a léguas de se circunscrever aos que veneram o "mito" e —em nome da batalha contra o que chamam de "velha política"— enxergam em Moro um super-herói credenciado a cruzar a linha da legalidade que separa o juiz do justiceiro. Nada mais natural numa democracia em que a sociedade tem a seu alcance farta e fundamentada informação.
Se não por princípio, ao menos por interesse elementar, as oposições democráticas precisam inscrever o combate à corrupção na primeira página de sua agenda. Isso o resgataria do moro-bolsonarismo, promovendo a busca de soluções institucionais que reduzam a influência de dinheiro não contabilizado nas campanhas eleitorais, a propina nas obras públicas e o tráfico de cargos para engordar o caixa do partido e o patrimônio de seus dirigentes. Além de novas regras que permitam ao sistema de justiça apurar, julgar e punir —dentro da lei. Sem elas, a luta contra a corrupção continuará servindo à extrema direita.
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