Brasil aperfeiçoou a capacidade de criar figuras míticas, que prevalecem no imaginário nacional
Quando eu estava no fim do curso de jornalismo, no distante ano de 1989 do século passado, um amigo —que achava estudantes de jornalismo mais bem informados que a maioria— perguntou a minha opinião sobre Fernando Collor.
Na época, Collor disputava o segundo turno das eleições presidenciais com Lula, e o Brasil tinha um medo danado do sapo barbudo —apelido que o finado Leonel Brizola havia dado a Lula ao anunciar seu apoio ao PT após a derrota do PDT no primeiro turno do mesmo pleito.
Collor, então, era chamado de caçador de marajás, alusão à fama de combater a velha política e os privilégios de servidores com altos salários quando governador de Alagoas.
Minha resposta ao amigo foi que Collor parecia um personagem, uma espécie de lenda urbana, criado pelo marketing, pela mídia e pela própria população que desejava renovação. Disse ser estranho que, na realidade brasileira daquele momento, houvesse algo tão novo, ainda mais um caçador de marajás, numa região onde a elite local ainda compartilhava a mesa com coronéis do século 19.
Meu amigo ironizou: “Todo mundo que eu conheço prefere personagens, e concordo que eles são melhores que as pessoas de verdade”.
Trinta anos se passaram e o Brasil aperfeiçoou a capacidade de criar figuras míticas —para o bem e para o mal. Os personagens triunfam no imaginário nacional.
Lula foi de sapo barbudo a estadista, pai dos pobres e, agora, demônio da corrupção. Ele não errava quando tinha popularidade. Agora, nada que faça está certo.
Para seus eleitores, o presidente Jair Bolsonaro é o mito. O sopro renovador da gestão pública —como se não tivesse 27 anos de Câmara dos Deputados e nem atuasse pela velha política que defende benefícios a categorias de servidores.
O ex-juiz Sergio Moro é o herói. Se há registros mostrando que Moro manteve conversas ostensivas com a acusação de um réu que ele deveria julgar imparcialmente, o problema está nas mensagens e no mensageiro.
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