Às vésperas do uso do ‘volume morto’ do reservatório, órgãos gestores do manancial paulista negociam restrição de vazão; consórcio das bacias diz que há projeções sobre falta de água no pico do inverno
14 de maio de 2014 | 3h 00
Fabio Leite - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Às vésperas do início da captação do chamado "volume morto" do Sistema Cantareira, previsto para esta quinta-feira, 15, os órgãos gestores do principal manancial paulista estudam limitar a quantidade de água retirada das represas para abastecer cerca de 14 milhões de pessoas na Grande São Paulo e na região de Campinas ao volume de chuva que cai nos reservatórios. A ideia é tentar evitar o colapso do Cantareira, mas pode comprometer o abastecimento nos próximos meses, que são tradicionalmente secos.
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Na prática, se chover menos do que a média histórica do período em 15 dias, por exemplo, a proposta é diminuir proporcionalmente a vazão máxima de água que poderá ser retirada do sistema nos 15 dias seguintes. A proposta está sendo discutida entre a Agência Nacional de Águas (ANA), do governo federal, e o Departamento de Água e Energia Elétrica (Daee), do governo paulista. Os dois órgãos devem definir as novas regras de retirada de água do Cantareira a partir de amanhã, quando a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) deve iniciar a captação da reserva profunda.
Hoje, por exemplo, a Sabesp pode retirar até 22,4 mil litros dos principais reservatórios do sistema para abastecer a Grande São Paulo. A região de Campinas fica com até 3 mil litros, independentemente da quantidade de chuva que cai nas represas. Só em abril, por exemplo, o déficit entre o volume de água que entrou e o volume que saiu foi de 9,1 mil litros por segundo, ou 23,6 bilhões de litros no mês. Só ontem, o prejuízo foi de 19,5 mil litros por segundo.
"Nossa posição é: choveu menos, tira menos; choveu mais, tira mais. Com critério de retirada semanal, no máximo quinzenal, a partir das vazões afluentes, porque estamos diante de um quadro de anomalia absoluta, no qual não podemos fazer previsões a longo prazo. Precisamos trabalhar com intervalos curtos", afirmou o presidente da ANA, Vicente Andreu.
Ele e técnicos do Daee estiveram nesta terça-feira, 13, em Campinas para debater medidas de contingência que podem ser adotadas na região para enfrentar a crise de abastecimento. Após uma das reuniões, o Consórcio das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), que abastece a região, emitiu uma nota afirmando que cálculos apresentados pela ANA confirmavam o prognóstico feito pela entidade de que "vai faltar água no pico da estiagem em agosto e setembro" para Campinas e para a Grande São Paulo.
Em nota, a agência federal negou que tenha feito as projeções. Segundo a ANA, se forem mantidas as condições atuais de retirada de água do Cantareira pela Sabesp (cerca de 21 mil litros por segundo) e a média histórica retirada pelas Bacias do PCJ no inverno (cerca de 7 mil litros), em um cenário no qual a vazão afluente ao sistema tem sido 60% da mínima histórica, faltariam 10 mil litros por segundo para suprir a demanda por água. "Esse foi um exercício que fizemos, não é uma projeção", disse Andreu.
Sem racionar. Nesta terça, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse que o "volume morto" será suficiente para garantir o abastecimento sem racionamento. "Se não tiver nenhum fato superveniente, analisando a mínima histórica de vazão, nós chegamos à próxima estação das chuvas (o sistema) cobre o final do outono e o inverno." / COLABOROU CAIO DO VALLE
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