sexta-feira, 31 de março de 2023

Dois golpes, com e sem ódio, Ruy Castro FSP

 Entre as muitas imagens do quebra-quebra dos bolsonaristas no dia 8 de janeiro, em Brasília, há uma sequência que me intriga sempre que a vejo. Começa pelo vagabundo que joga ao chão e destroça o relógio de dom João 6º, depois derruba o móvel e, dando-se por flagrado, atira os extintores contra a câmera no teto. Há nesse elemento um visgo de ódio contra algo que não sabe o que é, mas, para glória maior de seu líder, ele sente que precisa destruir. Equivale ao outro vândalo que estripou a tela de Di Cavalcanti —o mesmo rancor contra um objeto apenas porque ele não faz parte do seu mundo.

Mas a cena a que me refiro é a que se segue ao destruidor do relógio. Estamos agora no salão de um dos palácios sob ataque e vemos um homem que passa por uma mesa de tampo de vidro. Ele constata a existência da mesa e aplica-lhe um golpe de picareta que estilhaça o vidro. É um golpe rijo, desferido contra um objeto do inimigo —e, até aí, faz sentido. É o ódio. Mas o homem continua andando e, agora sem sequer olhar para a mesa, desfere-lhe mecanicamente mais um golpe.

Não sei o que havia naquela mesa. Imagino que objetos ou documentos preciosos sobre alguma passagem da história do Brasil, merecedores de exposição, mas frágeis ou valiosos a ponto de exigir a proteção de um vidro. O depredador bolsonarista, no entanto, é indiferente ao conteúdo da mesa. Vibra-lhe o segundo golpe já sem ódio e vai em frente. É destruir por destruir.

Fico a fantasiar como seria se Bolsonaro, antes de fugir para os EUA, tivesse se esquecido de recolher suas joias sauditas, seus Rolexes incrustados de diamantes, seus anéis, canetas e abotoaduras de ouro, e os deixado em algum recôndito móvel ou vitrine no Planalto.

Quase posso ver aquele depredador espatifando-os a martelo, burocraticamente, sem ódio, sem olhar, sem saber a quem pertenciam, só porque estavam no seu caminho.

Relatório do Ministério Público vê irregularidades em reparos de vigas do monotrilho de SP, FSP

SÃO PAULO

Parecer técnico produzido pelo Núcleo de Engenharia do CAEx (Centro de Apoio Operacional à Execução), do Ministério Público, apontou irregularidades em reparos feitos em vigas da linha 15-prata, do monotrilho, que circula na zona leste paulistana.

O documento, de 41 páginas, divulgado no fim da tarde desta quinta (30), foi elaborado a pedido do Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social da Capital para investigar a queda de um bloco de concreto, da altura de 15 metros, em um trecho da ciclovia da avenida Professor Luiz Ignacio Anhaia Mello, entre as estações Oratório e Parque São Lucas.

No episódio, em setembro do ano passado, pedaços de concreto ficaram espalhados pela via de ciclistas e pelo gramado ao lado. Ninguém se feriu.

O Metrô diz em nota que não teve acesso ao documento e que prestará todos os esclarecimentos ao Ministério Público.

Buraco em viga da linha 15-prata após queda de um bloco de concreto sobre a ciclovia que fica na avenida Professor Luiz Ignacio Anhaia Melo, na zona leste de São Paulo
Buraco em viga da linha 15-prata após queda de um bloco de concreto sobre a ciclovia que fica na avenida Professor Luiz Ignacio Anhaia Melo, na zona leste de São Paulo - Reprodução/Diário do Transporte

O relatório também cita que na manhã de 11 de janeiro deste ano um pedaço de concreto em uma das vigas se destacou, entre as estações Vila Prudente e Oratório, causando a interrupção do trecho entre as estações Vila Prudente e Vila União.

A vistoria, em três pontos da viga, ocorreu na madrugada do último dia 18 de janeiro, quando os trens não estavam em operação, e foi realizada por dois engenheiros do CAEx, acompanhados pelo Metrô.

O órgão também diz no documento que teve uma reunião com o Metrô, nesse mesmo dia, para conversar sobre as falhas.

"Não se observou risco iminente de desplacamento de reparos estruturais nesses locais [vistoriados]", diz trecho do documento, que aponta, porém, a constatação de irregularidades que prejudicam a durabilidade e a segurança do local, caso não sejam tomadas medidas de correção ou a substituição dos consertos.

O texto cita que o tipo de concreto usado em reparos pode ter fissuras prematuras. "Segundo o Manual de uso, operação e manutenção de via elevada, para todos os elementos estruturais deverão ser tomadas todas as medidas tecnológicas para assegurar a vida útil, mínima, de 100 anos", explica trecho do parecer.

No relatório, o CAEx afirma que há necessidade de se revisar os métodos empregados nos reparos e reconstituições nas estruturas de concreto realizados pelo CEML (Consórcio Expresso Monotrilho Leste), responsável pela construção da linha, bem como a elaboração de projetos específicos para a realização desses serviços.

O promotor Silvio Antonio Marques, da Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social, que investiga a sequência de problemas e acidentes no monotrilho há cerca de três anos, vai discutir o conteúdo documento com o Metrô e com o consórcio na próxima segunda-feira (3).

Procurado para comentar o parecer técnico, o CEML não respondeu até a publicação desta reportagem. Na época da queda do concreto, em setembro, o consórcio disse que que o evento era pontual e isolado, sem dano material ou pessoal, e que o o reparo foi integralmente realizado.

O consórcio também afirmou em setembro de 2022 que realizou vistoria completa na junção das vigas e constituiu um grupo de trabalho técnico para apurar as causas da queda do concreto.

Um relatório anterior produzido pelo Caex sobre o monotrilho, em outubro de 2021, já havia apontado falha de projeto na construção da linha, assim como na fabricação e montagem dos trens.

A Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social também deverá pedir ao consórcio uma indenização por danos coletivos e ao patrimônio público pelo que considera uma má execução da obra.

O monotrilho acumula uma série de problemas e acidentes, o que provocou a instauração de um inquérito no Ministério Público em 2020, quando o estouro de um pneu lançou uma placa de metal que caiu na avenida Sapopemba e paralisou a linha durante cerca de cem dias.

Em janeiro de 2019, dois trens se chocaram na estação Jardim Planalto. Um dia depois, um equipamento chamado terceiro trilho se soltou e ficou pendurado a 15 metros do solo. Depois, o muro de uma das novas estações desabou sobre a escada que dá acesso à plataforma.

Neste mês houve duas colisões seguidas com trens do monotrilho. A primeira delas foi entre as estações Sapopemba e Jardim Planalto, no dia 8. A segunda, na madrugada do dia 9, quando funcionários trabalhavam para separar os dois trens batidos. Segundo o Metrô, não houve vítimas ou novos danos materiais.

 

Elize Matsunaga pede para não voltar à prisão, FSP

 Condenada pelo assassinato e o esquartejamento do marido em 2012, Elize Matsunaga disse à Justiça estar "tentando trabalhar honestamente a fim de retomar a sua vida de forma digna".


Em maio do ano passado, após cumprir dez anos de prisão, Elize obteve liberdade condicional, mas o Ministério Público solicitou no início do mês o seu retorno à cadeia após ela ter sido indiciada pela polícia sob acusação de uso de documento falso. A polícia suspeita que Elize se utilizou de um atestado de antecedentes criminais de outra pessoa para obter um emprego.

A Justiça rejeitou o pedido de retorno à prisão, mas o Ministério Público recorreu argumentando que um exame pericial concluiu que ela realmente utilizou um documento falsificado.

"A prática de outro crime durante o período de livramento condicional deixa transparecer, no mínimo, menosprezo aos órgãos jurisdicionais e às regras de convívio social", afirmou o promotor Odilon Comodaro na petição.

Elize se defendeu em um documento enviado na última quarta-feira à Justiça pelos advogados Luciano Santoro e Julia Sanchez.

Ela afirmou não ter cometido qualquer falta grave, disse que as investigações sobre o uso de documento falso ainda estão no início e que não foram apresentadas provas de que cometeu esse crime.

Declarou ainda que a Justiça deve levar em consideração o fato de ser uma pessoa que "está tentando trabalhar honestamente com todas as dificuldades que se impõem a uma liberada pela justiça criminal".

Disse querer "sobreviver dignamente".

A defesa de Elize destacou no documento que ela trabalhou durante todos esses meses de liberdade condicional, "se esforçando ao máximo para apresentar bons resultados aos empregadores". Citou que atuou na construção civil e em uma empresa de confecções, "cumprindo todos os horários pontualmente".

"Ela está apta a conviver em sociedade e disposta a trabalhar para conquistar seus objetivos", afirmaram os advogados. "Há de se destacar que inexiste nos autos do processo qualquer comprovação ou indício de que Elize se dedique a atividades ilícitas ou voltada a organizações criminosas. Muito pelo contrário, há evidências concretas do seu desenvolvimento e compromisso profissional."

O recurso ainda não foi julgado.

Elize matou o empresário Marcos Matsunaga no dia 19 de maio, no apartamento do casal, na zona oeste de São Paulo. Ele foi baleado na cabeça e teve o corpo esquartejado em sete partes que foram espalhadas na região de Cotia, região metropolitana de São Paulo.

Imagens das câmeras de segurança do prédio onde viviam mostraram Elize entrando no elevador, horas após o crime, carregando três malas.

Ela alegou à época que atirou para se defender do empresário, que a agredira com um tapa no rosto após saber que ela havia contratado um detetive para segui-lo. Marcos teria também ameaçado interná-la em uma instituição psiquiátrica para mantê-la longe da filha.