sexta-feira, 30 de março de 2018

Clodoaldo Pelissioni: A importância da gestão, FSP

Clodoaldo Pelissioni: A importância da gestão

Temos uma visão global do sistema de trilhos, trens e ônibus metropolitanos de São Paulo; fazemos cobranças diárias sobre as obras em curso

Com vista do alto, passageiros aguardam na plataforma da Estação da Luz, que terá área para embarque de um trem expresso para o aeroporto de Guarulhos
Estação da Luz, que terá área para embarque de um trem expresso para o aeroporto de Guarulhos - Bruno Santos/Folhapress
Muito se fala em ferramentas de gestão na esfera privada. Mas uma boa gestão também é essencial no serviço público. Não se faz política pública sem eficaz sistema de gerenciamento. Foi esse nosso principal recurso para conseguirmos programar para este ano a entrega de 20 novas estações, 18 de metrô e duas de trens.

É a primeira vez, inclusive, que a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) entrega uma linha própria, a 13-Jade, que vai ligar São Paulo ao aeroporto de Guarulhos.

Para isso, contamos com profissionais e equipes qualificados, trabalhamos com uma visão global do sistema de trilhos, trens e ônibus metropolitanos, fazemos cobranças diárias sobre a operação e os empreendimentos em curso.

Não aceitamos procrastinação, damos suporte administrativo ao Metrô, à CPTM e à EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos), auxiliando as empresas, dentro da mais estrita legalidade, a obter financiamentos, licenciamentos ambientais e a cobrar construtoras e demais fornecedores.

Além disso, fazemos visitas semanais às obras e reuniões mensais com os gestores de todas as áreas envolvidas em cada projeto.

Uma boa administração é ainda mais crucial em tempos de crise, como a que assola o Brasil mais fortemente nos últimos quatro anos, após o início da operação Lava Jato. O setor da construção civil, em especial, sofreu forte impacto, já que as principais empreiteiras estão envolvidas no escândalo e, por isso, com sérias dificuldades de manter seus negócios. Nesse cenário, dar andamento e concluir obras públicas é um desafio ainda maior.

Neste ano, já entregamos as estações de metrô Higienópolis Mackenzie, da linha 4-amarela, e a Eucaliptos, da linha 5-lilás, e até dezembro serão mais 16: duas na linha 4, seis na linha 5 e oito na linha 15-Prata, em um investimento de R$ 17,3 bilhões. Ao fim do ano, a rede metroviária passará dos atuais 83,3 km para 101,2 km.

Demos prioridade aos empreendimentos já em andamento, mas deixaremos outros dez encaminhados para que nossos sucessores deem continuidade: oito estações na linha 17-Ouro de monotrilho; uma na linha 15-Prata, também de monotrilho; a última da linha 4-amarela; e duas novas estações na linha 9-Esmeralda, da CPTM, que será estendida até Varginha, na zona sul da capital.

Além da ampliação da rede metroferroviária, temos investido na melhoria do transporte metropolitano. Concluímos no ano passado o primeiro trecho do Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT) da Baixada Santista, entre Santos e São Vicente, interligando os dois municípios mais importantes da região ao longo de 11,5 km e 15 estações. Inédito no país, esse moderno sistema de transporte recebeu um investimento da ordem de R$ 1,3 bilhão.

Nos próximos dias devemos publicar os editais de contratação das obras da segunda etapa, de Conselheiro Nébias a Valongo e de contratação do projeto executivo para o terceiro trecho, entre Barreiros e Samaritá.

Também estamos ampliando e aprimorando os corredores e terminais metropolitanos de ônibus. Demos início no último dia 12 às obras complementares do Corredor Metropolitano Biléo Soares, em Hortolândia, e à construção do viaduto Jean Nicolini, em Nova Odessa. Além disso, foram entregues 5 km de faixa exclusiva nos municípios de Americana e Santa Bárbara d'Oeste, duas estações de transferência e cinco paradas.

Até o fim deste mês será entregue ainda o trecho prioritário do corredor Itapevi-São Paulo, até Jandira, e iniciaremos a fase final de obras da segunda etapa até Carapicuíba. Esperamos, com todos esses empreendimentos, melhorar significativamente a mobilidade urbana e, consequentemente, a qualidade de vida da população.
Clodoaldo Pelissioni
É administrador público e secretário de Estado dos Transportes Metropolitanos de São Paulo

    Nenhuma bala é perdida ,FSP

    Nenhuma bala é perdida 

    Quem naturaliza atentados, ajuda a abrir a porta para a naturalização de toda forma de reação 

    "Ele colheu o que plantou". Foi com esta frase singela que o governador de São Paulo e candidato a presidente da República, Geraldo Alckmin, comentou os tiros que atacaram a caravana eleitoral de um ex-presidente. No que o vice-rei da província de São Paulo foi seguido por outros personagens da fauna política local a repetir análises no mesmo tom.
    Reações desta natureza demonstram a explicitação de uma dinâmica de guerra civil que há tempos orienta a vida nacional. Ela vem semanas depois do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, que caminha calmamente para o esquecimento e para a blindagem dos envolvidos. Ela vem meses depois que manifestantes foram recebidos a bala em Brasília enquanto brigavam contra as "reformas" do atual desgoverno.
    Mas analisemos o momento de honestidade de quem afirma, diante de balas: "Ele colheu o que plantou". A ideia por trás é que os que acirram conflitos sociais, os que "jogam um lado da sociedade brasileira contra o outro" (como se fosse necessário realmente jogar um lado contra o outro, como se isto já não fosse a situação real desde há muito), não devem reclamar quando são acolhidos a bala. Ou seja, tudo se passa como se não houvesse diferença alguma entre a violência simbólica da política e a violência real da eliminação física do outro.
    No entanto, esta diferença existe. Primeiro, devemos falar de violência simbólica porque a política é uma atividade violenta, ela sempre foi e sempre será. Ela é a atividade produzida pela consciência de que nossas sociedades são antagônicas, por isto ela mobiliza continuamente as divisões existentes na vida social, ela as nomeia enquanto os verdadeiros antipolíticos querem escondê-las para melhor perpetuá-las. Eles querem vender a paz, a necessidade de unidade enquanto continuam a guerra social e a acumulação a partir de interesses particulares. Em política, quem fala em unidade normalmente mente, pois a única unidade possível é aquela que reconhece o caráter originário da divisão.
    Por isto, a política é indissociável do uso da força da pressão, da paralisação, da resistência, da não colaboração, da desobediência, da revolta. Isto, no entanto, não significa a eliminação física do outro. Significa lutar pela constituição de novas hegemonias e partilhas do poder. Significa destituir o poder de certos grupos e eliminar sua força, o que não significa atirar contra quem questiona seus privilégios (mesmo que este não seja exatamente o caso do ex-presidente Lula, diga-se de passagem).
    E nem há, é sempre bom lembrar, linha direta alguma que vá da tensão simbólica em redes sociais à bala.
    Neste sentido, as balas que correm nos nossos dias não são consequência de uma maior divisão e antagonismo da sociedade brasileira. Elas são, na verdade, a reação desesperada para tentar barrar tal divisão, para amedrontar os que começam a perceber sua impressionante resiliência. No Brasil, todas as vezes que a consciência dos antagonismos sociais aflora, balas começam a chover e discursos do tipo: "Quem semeia vento, colhe tempestade" retornam. Há um bestiário enorme de discursos desta natureza desde a República Velha: a mesma república da qual a classe política brasileira parece nunca ter saído. Neste sentido, a melhor resposta a tais situações é lembrar que não precisamos de mais unidade, precisamos de mais divisão, de parar de temê-la e começar a aceitá-la.
    Já a estes que gostam de justificar a violência real ou que demonstram uma complacência explícita com ela, talvez seja o caso de lembrar que não há lei nenhuma da física que garanta que balas só correm da direita para a esquerda. Ao que se sabe, a fraca resistência do ar é a mesma dos dois lados. Quem naturaliza ou minimiza atentados, ajuda a abrir a porta para a naturalização de toda forma de reação. No entanto, não me parece que seja este o horizonte que queremos. Seria, por isto, mais prudente parar por aqui.
    Vladimir Safatle
    Filósofo, é professor livre-docente do Departamento de Filosofia da USP (Universidade de São Paulo).