segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Proálcool: uma das maiores realizações do Brasil baseadas em ciência e tecnologia


05 de dezembro de 2016

Elton Alisson | Agência FAPESP – O Programa Nacional do Álcool (Proálcool), criado por decreto governamental no Brasil em novembro de 1975 e que contribuiu para impulsionar a produção de bioenergia no país nas últimas quatro décadas, representa uma das maiores realizações genuinamente brasileiras baseadas em ciência e tecnologia.
Esse marco só foi possível de ser alcançado, entre outras razões, por uma profunda sinergia entre universidades e instituições de pesquisa, empresas e o governo no âmbito do programa.
A avaliação foi feita por pesquisadores participantes do encontro “Proálcool, universidades e empresas: 40 anos de ciência e tecnologia para o etanol brasileiro, realizado no dia 30 de novembro, na FAPESP.
O objetivo do evento foi mostrar a história do Proálcool, relatando a evolução da cana e do açúcar no Brasil, até o uso do etanol como combustível, no século XX, além de avaliar o momento atual do etanol combustível e as oportunidades que ainda são reservadas à bioenergia de cana-de-açúcar.
Na ocasião foi lançado o livro Proálcool 40 anos, organizado por Luís Augusto Barbosa Cortez, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN).
São autores da publicação Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, além de Gláucia Mendes Souza, professora do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP); Heitor Cantarella, pesquisador do Instituto Agronômico (IAC); Marie-Anne van Sluys, professora do Instituto de Biociências da USP; e Rubens Maciel Filho, professor da Unicamp – todos membros da coordenação do BIOEN.
“No Brasil há uma tendência de não reconhecer as grandes realizações tecnológicas e científicas feitas por brasileiros. Mas, talvez, a maior realização baseada em ciência e tecnologia do país foi fazer com que uma frota de automóveis de uma economia industrializada como a nossa seja movida por etanol”, disse Brito Cruz durante palestra no evento.
Fruto da perseverança
Na avaliação dos participantes do evento e dos autores do livro, as razões para o sucesso do Proálcool devem-se não só à escolha de uma cultura energética eficiente, como a cana, além das condições climáticas e de solo existentes no Centro-Sul brasileiro, mas, principalmente, à perseverança de empresários, governo e, em grande parte, de pesquisadores que acreditaram na viabilidade tecnológica do etanol produzido a partir da cana.
“Quando o Proálcool foi lançado, surgiram muitas críticas e havia um grande ceticismo no mundo em relação à opção do Brasil em produzir um combustível alternativo ao petróleo”, disse Cortez.
“O governo, juntamente com os empresários e os pesquisadores, não deu muita bola para o que o mundo pensava e decidiu persistir nessa ideia. E dificilmente o Brasil teria alcançado a autossuficiência em petróleo sem a contribuição do Proálcool”, afirmou.
A principal motivação da criação do Proálcool foi justamente a de diminuir a dependência brasileira do petróleo, cujo preço disparou subitamente em 1973, quando ocorreu o chamado primeiro choque do petróleo.
Com o passar dos anos, contudo, se observou que, além das vantagens econômicas, o etanol da cana-de-açúcar apresentava uma grande vantagem do ponto de vista ambiental para o país, porque emitia menos carbono para a atmosfera em comparação com a gasolina e outros combustíveis.
Além disso, foi constatado que a cana-de-açúcar apresentava balanço energético muito positivo – a diferença entre a energia gasta para produzir a cultura, em termos da utilizada para produzir os fertilizantes utilizados no cultivo e no transporte da cana por caminhões, entre outros fatores, da energia que gera.
Um artigo publicado na revista Science em 1977 por José Goldemberg, professor do Instituto de Energia e Ambiente (IEA) da USP e presidente da FAPESP, e colaboradores, deu a primeira contribuição nesse sentido.
Os pesquisadores calcularam a energia gasta para produzir etanol a partir de três diferentes culturas no Brasil: a cana, a mandioca e o sorgo sacarino.
Os resultados do estudo demonstraram que a cana-de-açúcar era a cultura mais eficiente para produção de etanol, seguida pelo sorgo sacarino e a mandioca, em razão, principalmente, do bagaço.
“Esse trabalho foi importante não pela precisão dos números que apresentou, que eram muito primitivos e foram melhorados com o passar do tempo, mas porque deu maior confiança para o setor ao demonstrar o quão era importante produzir cana-de-açúcar porque era, efetivamente, uma maneira de capturar energia solar e que o etanol é energia solar liquefeita”, avaliou Goldemberg em palestra durante o evento.
“Não havia o menor interesse na comunidade acadêmica, na época, tanto por etanol, como por açúcar da cana”, afirmou.
Hoje, em razão dos investimentos na produção do etanol da cana iniciados com o o Proálcool, entre as 10 maiores economias do mundo, o Brasil é o país onde as energias renováveis mais contribuem na matriz energética, com 43,4% do total. A bioenergia da cana sozinha responde por 18,1% do total, de acordo com dados do Ministério de Minas e Energia destacados no livro e por participantes do evento.
O país também é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo, com produção de 28 bilhões de litros de etanol na safra de 2015/2016, segundo dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).
Na safra 1975-1976 – quando foi lançado o Proálcool –, a produção brasileira de etanol foi de 555 milhões de litros.
A quantidade de cana por hectare produzida por 174 usinas da região Centro-Sul do Brasil na safra 2016-2017 é de 82 toneladas por hectare, ainda de acordo com dados da Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) apresentados por Goldemberg.
“É preciso fazermos esforços para melhorar a produtividade agrícola das usinas. Algumas apresentam uma produtividade muito boa, mas, em média, esse fator não está muito bom”, avaliou.

Contribuição paulista
Aproximadamente 60% do etanol de cana produzido no Brasil é proveniente do Estado de São Paulo, cuja matriz energética é fortemente baseada nesse biocombustível, ressaltou Brito Cruz.
Em 1980, 62% da energia total usada no Estado de São Paulo era proveniente do petróleo. Em 2013 a participação do petróleo na matriz energética paulista caiu para 38% com a ajuda, em grande parte, do etanol, que aumentou sua participação de 14% em 1980 para 32% em 2013.
“A bioenergia é muito importante não só economicamente para São Paulo, mas também porque contribui para o estado reduzir suas emissões de carbono”, avaliou.
Um dos fatores que contribuíram para o expressivo aumento da participação do etanol na matriz energética nas últimas décadas, na opinião de Brito Cruz, foi o apoio à pesquisa em bioenergia no estado.
Desde a sua criação, em 1962, a FAPESP sempre apoiou muitos projetos de pesquisa na área de bioenergia. E, em 2005, a instituição decidiu ampliar o financiamento de pesquisas na área de forma mais coordenada.
Para isso, financiou um projeto, coordenado por Cortez, com o objetivo de estabelecer diretrizes para a pesquisa científica e tecnológica em bioenergia no Estado de São Paulo.
Os resultados do projeto deram subsídios para o lançamento, em 2008, do BIOEN, que reúne hoje mais de 300 pesquisadores vinculados a universidades e instituições de pesquisa no Brasil e no exterior em projetos de pesquisa sobre diferentes aspectos da bioenergia, como melhoramento de plantas, produção industrial, motores e sustentabilidade ambiental e socioeconômica, entre outros.
“O grande diferencial do BIOEN em relação a outros programas de pesquisa em bioenergia similares existentes no mundo é que ele cobre, basicamente, todas as áreas do conhecimento em bioenergia”, comparou Gláucia Souza.
O programa já estabeleceu parcerias com sete empresas com o objetivo de identificar possíveis aplicações para alguns dos resultados dos projetos apoiados.
Entre elas, a Peugeot Citroën – com que a FAPESP se associou para criar, em 2013, um Centro de Pesquisa em Engenharia voltado ao desenvolvimento de motores a combustão movidos a biocombustíveis – e a Dedini.
A Fundação estabeleceu um convênio entre 2008 e 2012 com esta empresa fabricante de equipamentos industriais de Piracicaba, no interior de São Paulo, com o objetivo de apoiar projetos voltados a contribuir para o avanço do conhecimento e da tecnologia na área de processos industriais para a fabricação de etanol de cana.
“Tivemos um papel muito relevante na implantação e no desenvolvimento do Proálcool ao ajudar a implantar centenas de destilarias autônomas no início do programa – hoje chamadas de usinas de etanol – com tecnologia totalmente brasileira”, disse José Luiz Olivério, diretor de operações da empresa, durante o evento.
Os pesquisadores vinculados ao BIOEN já publicaram mais de 930 artigos científicos nos últimos sete anos. Essa produção científica contribui para o Estado de São Paulo ser hoje a região do mundo com maior número de artigos científicos sobre cana publicados em todo o mundo, atrás apenas do Brasil como um todo, e à frente de países como os Estados Unidos, Índia, Austrália, China e Cuba, apontou Brito Cruz.
“São Paulo está virando um foco mundial da pesquisa em bioenergia no mundo, que é o que queremos que aconteça”, afirmou.
O livro “ Proálcool 40 anos” (doi:10.5151/9788521210627), de Cortez e outros, está disponível para acesso livre em openaccess.blucher.com.br/article-list/proalcool-universidades-e-empresas-40-anos-de-ciencia-e-tecnologia-para-o-etanol-brasileiro-310/list#articles.  
 

domingo, 4 de dezembro de 2016

ECONOMIA MICHEL TEMER O renascimento na arena global. OESP


Com a falência do setor público em todos os níveis – federal, estadual e municipal – o equilíbrio fiscal tornou-se a prioridade número 1 do presidente Michel Temer. Mas os estragos causados por uma série de equívocos cometidos na economia nos governos do PT, sobretudo a partir do segundo mandato de Lula, vão muito além do rombo nas contas públicas. Uma das áreas mais afetadas pelos descalabros praticados nos últimos anos foi o comércio exterior do País. Talvez, em nenhum outro campo da administração, o viés ideológico predominante nas gestões petistas tenha se manifestado com tanta intensidade e provocado danos tão profundos.
Foto: Arte/Estadão
Viés ideológico causou danos profundos no comércio com outros países
A abertura comercial, implementada a partir do governo Collor, no início dos anos 1990, com o objetivo de ampliar a concorrência internacional e incentivar as empresas instaladas no País a sair da zona de conforto e aumentar a produtividade, sofreu uma súbita interrupção. Em seu lugar, ressurgiu um protecionismo caboclo que prosperou nos anos 1950 e 1960 e teve prosseguimento no regime militar, em especial no governo do general Ernesto Geisel (1974-1979). Quando muitos o julgavam sepultado, eis que, de repente, como Fênix, ele ressurgiu das cinzas, com o apoio ruidoso dos partidos e organizações de esquerda.
Impulsionado por barreiras tarifárias e não tarifárias e por medidas de estímulo ao uso de componentes nacionais em setores específicos, como o de óleo e gás, o automobilístico e o eletroeletrônico, o Brasil chegou ao topo da lista dos países que adotaram o maior número de medidas protecionistas entre 2013 e 2015. Contestadas pelo Japão e pela União Europeia, as medidas sofreram um duro revés no mês passado. A Organização Mundial do Comércio (OMC) considerou ilegais diversos mecanismos protecionistas adotados pelo País, em especial após a posse de Dilma na Presidência da República, em 2011, entre eles os das indústrias de automóveis e de eletroeletrônicos. Embora seja quase certo que o Brasil recorrerá da decisão, a tendência é ela ser ratificada. Com isso, os anabolizantes terão de ser revistos, para o País não sofrer sanções.
“Hoje, a OMC é mais importante que o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial. Sua decisão é respeitada pelos países e o próprio Brasil tem se beneficiado disso, como no caso da Embraer contra a Bombardier, do Canadá, e na guerra contra os Estados Unidos nos subsídios agrícolas”, diz o economista Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getúlio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro e ex-presidente do Banco Central. “Se continuar com essas políticas obsoletas, de protecionismo exagerado, o Brasil vai sofrer uma penalização da OMC. Então, de certa forma, a decisão vai obrigar o governo a repensar a política industrial adotada nos últimos anos.”
Mesmo nos momentos de maior liberdade comercial, o Brasil sempre foi considerado um dos países mais fechados do mundo. Em uma pesquisa realizada pela The Heritage Foundation, uma organização americana voltada para a defesa da livre iniciativa, o Brasil ocupa apenas o 134º , de um total de 186, na lista dos países com maior grau de liberdade comercial. Mas até para os padrões brasileiros o governo exagerou na dose, sob o argumento de que estava protegendo as empresas locais. “É uma falácia dizer que, limitando as importações, você estimula a indústria doméstica”, afirma Langoni. “Na realidade, você cria um ambiente artificial em que a indústria doméstica pode até se beneficiar no curto prazo, mas muitas vezes não ganha condições de competir em nível global no médio e no longo prazo.”
Segundo ele, um exemplo emblemático do fracasso dessa onda protecionista é a política de “conteúdo nacional” imposta ao setor de óleo e gás, que obriga empresas como a Petrobrás a comprar produtos com, no mínimo, 65% de componentes locais. “O setor de óleo e gás poderia ter sido uma grande alavanca para a modernização da economia brasileira” diz. “Com essa exigência absurda de conteúdo local em níveis estratosféricos, de 65%, o governo apenas premiou a ineficiência e não construiu uma indústria de fornecimento desse setor-chave, para que ele pudesse ser competitivo em nível mundial e até vendesse para outros países.”
Além de carregar no protecionismo, o Brasil tropeçou ao evitar uma maior integração na economia global. Em vez de aproveitar o momento favorável pelo qual passava o comércio internacional até a crise de 2008, para celebrar acordos que aumentassem o mercado para os produtos brasileiros, as gestões petistas privilegiaram as parcerias com países controlados por governos de esquerda, com os quais tinham afinidade ideológica, cujos resultados foram desprezíveis. Entre os países que ganharam tratamento vip do Brasil no período, figuram a Cuba do “companheiro” Fidel Castro, o ditador que perseguiu com mão de ferro seus opositores durante os quase 60 anos em que permaneceu no poder, além dos regimes bolivarianos da América Latina, como a Venezuela, protagonista da doutrina, a Bolívia e o Equador, e de diversas ditaduras africanas.
“A ideologia prejudicou muito a área externa do País durante o segundo mandato do Lula e o governo Dilma”, diz Rubens Barbosa, presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da Fiesp, a entidade que reúne os industriais paulistas, e ex-embaixador do Brasil em Londres e Washington. “O resultado do protecionismo e desse viés ideológico contra a negociação de acordos comerciais foi um crescente isolamento do Brasil.”
Com o impeachment de Dilma, a expectativa era de que a política comercial poderia, enfim, mudar de rumo. O problema é que, hoje, justamente quando o País se prepara para ampliar a sua inserção internacional e negociar novos acordos comerciais, o mundo parece caminhar em outra direção. De um lado, o comércio mundial vem perdendo força. O declínio observado em 2015 deverá se reverter neste ano, de acordo com a projeção da OMC, mas o crescimento será de apenas 1,7% – na década passada, o comércio global chegou a crescer ao ritmo de 20% ao ano. De outro, com a eleição do novo presidente americano, Donald Trump, com um discurso nacionalista, centrado na proteção ao emprego e nas restrições à imigração, tudo indica que o mundo deverá caminhar para uma nova onda protecionista, esboçada desde a vitória do Brexit no referendo que selou o destino da Grã Bretanha na União Europeia. “Vivemos um ambiente em que o viés político é a favor do protecionismo”, afirma Langoni. “O Brasil foi apanhado no contrapé”, diz Rubens Barbosa. “Quando a gente estava fechando a economia, o mundo estava se abrindo. Agora que mudou o governo e a gente quer participar do comércio internacional, há esse movimento de maior protecionismo, na Europa e nos Estados Unidos, para proteger o emprego.”
Globalização. Nos países desenvolvidos, é crescente a percepção de que uma parcela significativa da população, sobretudo da classe média para baixo, sem grau universitário, não teve benefícios com a globalização. Ao contrário, perdeu emprego e renda. “A globalização não entregou o que prometeu. Foi acompanhada por um aumento muito grande da desigualdade. Há uma desilusão mundial com o que os economistas fizeram”, diz o economista Antonio Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda, do Planejamento e da Agricultura. “Hoje, com certa distância, a gente já pode dizer que a globalização foi muito boa para uma classe mais rica e para um grupo de grandes empresas, mas não beneficiou o grosso da população, que está indignado com essa concentração tremenda de renda. E tudo isso foi agravado pela inovação e pela tecnologia, que permitiram a substituição de trabalhadores”, afirma Barbosa.
Diante do cenário nebuloso, é provável que o caminho do Brasil para dinamizar o comércio externo será acidentado, principalmente para levar adiante o acordo do Mercosul com a União Europeia, que se arrasta há anos. Ainda assim, o País pode preparar o terreno para a reviravolta. Desde já o País poderá retomar o espírito de área de livre comércio do Mercosul, que marcou o bloco até o início do governo Lula, em 2003. Aproveitando a suspensão da Venezuela, anunciada na semana passada, o Brasil poderá costurar com a Argentina, o Paraguai e o Uruguai a flexibilização da cláusula que impede o bloco de fechar novos acordos comerciais se eles não forem aprovados por unanimidade por os seus integrantes. A ideia é que, se um país não estiver pronto para dar o novo passo, os outros irão primeiro e o retardatário seguirá depois. “O Brasil tem todo o peso necessário no Mercosul para flexibilizar essa regra. Ela deve ser opcional: quem quiser vai, quem não quiser não vai”, diz Langoni. “Você não pode carregar nas costas os demais países, ficar dependendo da unanimidade, para definir uma negociação comercial que por si já é complexa.”
De acordo com Langoni, com a ameaça de Trump de não assinar a Parceria Transpacífico (TPP em inglês, de Trans-Pacific Partnership), o Brasil pode considerar a possibilidade de fazer parte do bloco. Embora afirme não acreditar que Trump cumprirá sua ameaça, ele acredita que o TPP poderá passar por uma adaptação, abrindo uma janela para o Brasil. “Seria uma alternativa interessantíssima. Estamos falando de um mercado imenso, que envolve Japão, Austrália, Canadá, Peru, Colômbia, México”, diz. “O Brasil tem de ousar. Em matéria de acesso a mercados, o Brasil tem de abrir várias frentes, sem abandonar a estratégia multilateral, que está cada vez mais complicada depois do Brexit e da eleição do Trump.” Barbosa defende a mesma posição, mas, para ele, a melhor porta de entrada para o TPP é a Aliança do Pacífico, formada por Colômbia, Peru, Chile e México, que integrará o novo bloco. “Se o Trump vetar o TPP, o Brasil tem de sair na frente e propor um acordo entre o Mercosul e os países da Aliança para o Pacífico.”
Na avaliação de Barbosa, a posse de Trump como presidente dos Estados Unidos será neutra para o Brasil. Os efeitos serão indiretos, porque, na relação bilateral, não deverá haver mudanças. “Se ele fizer alguma maluquice na área econômica, poderá haver um desajuste global. Com o aumento das incertezas, a taxa de juro internacional deverá subir e isso levará a uma diminuição dos investimentos externos prejudicando a retomada do crescimento no Brasil.”
A conquista de novas fatias no mercado global envolve também uma série de medidas, que são complicadas de implementar, no plano interno. As reformas – em especial a trabalhista e a tributária –, acompanhadas de melhorias na logística e na infraestrutura, são fundamentais para o País reduzir o chamado custo Brasil e aumentar a sua competitividade. Também é essencial, segundo Barbosa, promover mudanças na regulamentação do comércio exterior para diminuir a burocracia e agilizar os processos. A redução da volatilidade no câmbio, que deverá ocorrer com o ajuste fiscal, é outro ingrediente indispensável, na opinião de Langoni, para dar mais segurança aos exportadores e importadores e ampliar o horizonte dos negócios. “Hoje nós vemos um mundo em que os parâmetros de custos têm de ser mundiais”, diz Langoni. “Antigamente, o problema da indústria brasileira se resumia à questão cambial. Mas nós tivemos o que seria uma maxidesvalorização, com o dólar saindo de perto de R$ 2, em janeiro de 2013, para o patamar atual de R$ 3,30 a R$ 3,40, e o desempenho das exportações brasileiras continua pífio.”
Ele afirma que, para reduzir a dependência das commodities, que sustentaram a forte expansão do comércio do País até a crise de 2008, será preciso estimular a indústria, não sob a forma de subsídios, mas por meio da inovação, do conhecimento, da transferência de tecnologia e do investimento em capital humano. Langoni diz que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pode desempenhar um papel muito importante, ao focar o seu apoio às empresas nesses quesitos. “É assim que você constrói uma economia supercompetitiva, com um novo padrão de desenvolvimento, de viés liberal, e não com o band-aid do subsídio do BNDES e a isenção fiscal discricionária, que gera uma série de distorções que todos nós conhecemos.” Quem sabe um dia, lá na frente, se o Brasil seguir esse receituário, consiga se transformar num tigre sul-americano. Ou, ao menos, se tornar um gato com garras afiadas, com lugar de destaque no comércio global.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Comissão de Meio Ambiente promove debate sobre Política de Resíduos Sólidos, portal Alesp


Em parceria com a Frente Ambientalista, foi discutido aperfeiçoamento da legislação

Da Redação - Fotos: Roberto Navarro


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Comissão de Saúde desta quinta-feira 01/11
Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, presidida pelo deputado Roberto Trípoli (PV), a Subcomissão de Resíduos Sólidos e a Frente Parlamentar Ambientalista e pelo Desenvolvimento Sustentável (Frepam), coordenada pelo deputado Carlão Pignatari (PSDB), realizaram, nesta quinta-feira, 1º/12, reunião com a finalidade de apresentar propostas para o aperfeiçoamento da legislação vigente, especialmente a Lei estadual 12.300/2006, que instituiu a Política Estadual de Resíduos Sólidos.

Participaram do debate o presidente da Assembleia, Fernando Capez, os deputados Trípoli, Carlão, Edson Giriboni (PV), Orlando Bolçone (PSB), Chico Sardelli (PV) e Ana do Carmo (PT); o secretário estadual do Meio Ambiente, Ricardo Salles; o presidente da Cetesb, Otávio Okano; o secretário municipal de Serviços de São Paulo, Simão Pedro; o representante da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), Odair Segantini; a coordenadora de resíduos sólidos do Instituto Polis, Elizabeth Grimberg; a gerente do Departamento de Meio Ambiente da Fiesp, Anícia Pio, e o assessor do secretario de Agricultura e Abastecimento, José Valverde.

Um dos principais aspectos discutidos foi a participação preponderante dos municípios no processo de destinação dos resíduos sólidos e suas dificuldades de ordem financeira e logística. De acordo com Salles, o Estado tem a função de fiscalizar e punir, mas também de coordenar soluções regionais e trabalhar em conjunto com a municipalidade. O alinhamento da legislação nos vários âmbitos da federação também foi considerada essencial, assim como o papel fundamental da Cetesb no processo.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos representou um grande avanço, asseguraram os debatedores, mas é necessário encontrar mecanismos para colocar em prática vários pontos que ainda estão apenas no papel. A responsabilidade estendida dos produtores, como forma privilegiada para o retorno dos materiais recicláveis e economia de recursos naturais, foi considerada imprescindível, bem como o reconhecimento e a valorização dos catadores e das cooperativas do setor. A compostagem e os sistemas de biodigestão também foram apontados como alternativas para o tratamento de resíduos.

Várias experiências concretas, suas vantagens, dificuldades e impossibilidades foram expostas, com o objetivo de promover uma revisão da política estadual de resíduos sólidos, adequando-a à realidade e à legislação em vigor.