quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Bolsonaro, finalmente, ex, Ruy Castro , FSP

 Justamente agora, que aposentei meu talão de cheques e comecei a me habituar ao Pix, os cérebros das finanças vêm aí com o Drex. É uma nova moeda digital, prima do Pix e com a mesma tecnologia das criptomoedas, só que, ao contrário destas, à prova de hackers e apta à transferência de gigantescas quantias sem o controle do Banco Central. Pelo que li, o Drex já está circulando em fase experimental desde março, o que significa que foi concebido no ano passado, quando Bolsonaro ainda tinha certeza de vitória nas eleições, eternização no poder e impunidade perpétua.

Não que Bolsonaro seja pessoalmente adepto de transações bancárias. Toda a sua carreira de tubarão imobiliário —mais de 100 apartamentos, casas, salas e terrenos em vários estados— foi feita com dinheiro vivo, acumulado à base de altos salários e dos salários de funcionários fantasmas e, como acabamos de descobrir, de interceptação, contrabando, ocultação e venda de joias por um office boy fantasiado de militar. Imagino o transporte desses valores em espécie pelas ruas de Rio, São Paulo e Brasília, em carros-fortes com homens armados, porta-malas abarrotados de cédulas e porta-joias em escaninhos secretos.

Não sei o que Bolsonaro cometeria com o Drex que não pudesse cometer com ou sem o Pix, mas imagino que, em seu ameaçador segundo governo, seríamos brindados com novas moedas passíveis de salamaleques, talvez denominadas Ônix, Fênix, Cômix, Cérvix, Cóccix, Mix, Remix, Matrix (pronunciado mêitrix), Sex, Tex-Mex e até Oedipus Rex. Tudo, menos as formas tradicionais de pagamento sujeitas a rastreamento, como cheques e contracheques.

Na verdade, hoje temos consciência de que os rombos que Bolsonaro custou ao país e pelos quais terá de responder foram coisa de pulhas e moleques.

Só não se lhe poderá perguntar as horas. Bolsonaro, finalmente ex, botou à venda seu Rolex.

Juca Kfouri - A marca da cal arruinada, FSp

 "O Medo do Goleiro Diante do Pênalti" é o título do livro do austríaco Peter Handke que virou filme homônimo sob a direção do alemão Wim Wenders.

E que serviu para discutir temas como a incomunicabilidade na sociedade moderna, além de despertar estudos sobre como evitar que pênaltis se transformem em gols, nem de longe objeto do livro ou do filme.
Mas tema desta coluna, por motivos óbvios (só tratamos de futebol…), ainda mais depois da epopeia do 9 a 8 no Beira-Rio —que classificou o Inter e eliminou o favorito River Plate da Libertadores.


Fazia tempo que 90 minutos de futebol não causavam tamanha gangorra emocional na vida do torcedor. Felizmente, desta vez, com desfecho justo.

Para começar porque houve pênalti claríssimo para o Colorado não observado pela arbitragem.

A continuar pelo 2 a 0 arrancado a fórceps pelos gaúchos que garantiria a classificação no tempo normal, possibilidade frustrada no último minuto, diante de 50.479 torcedores, recorde de público no estádio desde sua reinauguração, em 2014, para sediar a Copa do Mundo.

Lance de Internacional 2 (9) x (8) 1 River Plate, no Beira-Rio - Nelson Almeida/AFP


Disputas da marca do pênalti em casa pressionam mais os anfitriões que os visitantes, além de, no caso, ter representado a sobrevida para os argentinos no instante derradeiro. Era de se supor superioridade emocional entre os portenhos, que tinham sido golpeados pelo primeiro gol do Inter, marcado por Gabriel Mercado, ídolo do clube, campeão da Libertadores de 2015.

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Ninguém errava cobrança alguma quando a SÉTIMA dos Milionários, bem-sucedida, foi fruto de escorregão do batedor. O atacante Solari teria tocado com os dois pés na bola, segundo imediata reclamação do goleiro uruguaio do Colorado, Sergio Rochet. Depois de intermináveis três minutos, o VAR anulou a cobrança.

Estava posta a chance para outro uruguaio, o meia Carlos de Pena, desempatar a decisão e dar o xeque-mate. Desgraçadamente a bola encontrou a trave e despejou uma cachoeira de água gelada à beira-rio: 6 a 6!

Vida que segue, drama que segue, Recomeçaram as cobranças, que só terminariam quando um dos times obtivesse a vantagem.

E vieram as sextas, as sétimas, as oitavas e as nonas cobranças de cada time.

Certeiras, 8 a 8, sem que nenhum dos goleiros conseguisse defender, de um lado Rochet, da seleção uruguaia, do outro Franco Armani, campeão, como titular, da Copa América de 2021, no Maracanã, pela Argentina, e da Copa do Mundo, no Qatar, em 2022, na reserva, único jogador que atua em seu país entre os convocados.

Então aconteceu o lance raro, como as leitoras e leitores da coluna: a marca da cal estava arruinada, impraticável para a sequência das batidas.

Jogadores do Internacional festejam a classificação - Nelson Almeida/AFP

O apitador determinou a mudança para a outra área, tamanho o buraco no gramado brasileiro.

O drama mudou de lado.

O zagueiro Rojas, do River, o herói saído do banco para fazer o 1 a 2 no derradeiro minuto, cobrou o 10° penal no travessão e virou vilão.

Rochet, sem uma defesa sequer, chamou a responsabilidade para si e deve ter pensado: "Não aguento mais me sentir como diante de pelotão de fuzilamento. Vou acabar com esta angústia". Acabou.

Bateu de um lado, Armani voou por outro, e classificou o Inter.

A explosão de alívio tomou conta de meio Rio Grande do Sul.

Acredite: até Armani se aliviou.


Kalil vê Zema sem cultura, fala em ficar no PSD e promete voltar às urnas em 2026, FSP

 

BELO HORIZONTE

Ex-prefeito de Belo HorizonteAlexandre Kalil (PSD) marcou data para voltar a disputar um cargo público e diz que o principal líder político de Minas, o governador Romeu Zema (Novo), sofre de "falta de cultura".

De molho desde a derrota em primeiro turno na eleição para o governo, em outubro, o ex-prefeito diz que disputará o pleito de 2026, mas não sabe para qual cargo.

Em entrevista à Folha na terça-feira (8), Kalil encorpou críticas a recentes declarações de Zema, que, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo no último fim de semana, defendeu que estados do Sul e Sudeste tenham maior protagonismo nas decisões nacionais por produzirem mais que o Nordeste e Norte.

Alexandre Kalil, durante evento da campanha eleitoral do ano passado, em Belo Horizonte - PSD MG no facebook

"O que falta ao Zema é cultura", diz Kalil, citando outras declarações do rival, como a envolvendo a escritora Adélia Prado, durante entrevista a rádio na terra natal da autora, Divinópolis, região centro-oeste do estado.

Na ocasião, em fevereiro, ao receber do locutor um livro da escritora, Zema, cotado como presidenciável para 2026, perguntou se ela era funcionária da rádio. "Se não conhece Adélia Prado, não sabe quem é Rachel de Queiroz, uma nordestina, não sabe quem é Castro Alves", afirma Kalil.

A assessoria do governador não retornou pedido da reportagem por uma resposta à critica.

Zema é o único citado nominalmente como alguém com quem Kalil afirma não pretender fazer alianças no futuro. "Nem com Zema nem com ninguém da extrema direita", diz.

Kalil não pode disputar a prefeitura no ano que vem por ter sido eleito nas duas últimas disputas municipais —ele deixou o cargo em março de 2022 para concorrer ao Palácio Tiradentes.

"Tive 4 milhões de votos. Não vou jogar isso no lixo", afirmou em entrevista à Folha, em referência à disputa do ano passado ao Governo de Minas Gerais, quando foi derrotado pelo atual governador.

Zema e Kalil nunca foram aliados, mas despontaram com perfis parecidos —ambos se colocavam como candidatos "de fora da política".

Kalil, ex-dirigente do Atlético-MG, em sua primeira campanha eleitoral tinha em seu repertório de declarações uma sobre o partido em que estava filiado em 2016, o PHS, para reforçar o seu estilo. Dizia que não sabia nem onde era a sede da legenda.

Já Zema se escorava no partido Novo, que apontava para uma suposta nova forma de fazer política.

Hoje, o ex-prefeito mantém conversas com possíveis aliados. Já esteve com integrantes do PSB, partido ao qual já foi filiado, e com o senador Carlos Viana (Podemos), por exemplo. Afirma, porém, que todos os encontros são a pedido. "Não recuso receber amigos", diz.

Ele diz que vai permanecer no PSD, partido pelo qual disputou a eleição do ano passado e que, hoje, faz parte da base de Zema na Assembleia Legislativa. O PSD, inclusive, é o partido do líder de bloco governista na Casa.

"Quando acabou a eleição liguei para o [Gilberto] Kassab [presidente nacional do PSD] e ele me disse que não abria mão de mim no PSD de Minas Gerais", afirma, ao ser questionado sobre uma possível saída da legenda.

Kalil nega mágoas no estado tanto com seu partido como com o PT, partido que indicou o vice, o ex-deputado estadual André Quintão, na sua chapa para a disputa do ano passado.

Sua campanha na época buscou fazer dobradinha com a candidatura do hoje presidente Lula, com quem ele diz ter tido "conversa direta" na campanha.

O ex-prefeito diz ainda não ter compromisso com ninguém em relação à disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte no ano que vem, nem mesmo com o seu antigo vice, Fuad Noman (PSD), que assumiu o município quando o ex-prefeito deixou o cargo por causa da eleição estadual.

"Não resolvi esse assunto. Nenhum dos candidatos que estão aí me apoiou para o governo [em 2022], então, não sou obrigado a apoiar também, não. Fuad deu várias entrevistas dizendo, com razão, que estava ocupado com a Prefeitura de Belo Horizonte. Ele não entrou na campanha", lembra Kalil, que diz estar "muito livre para escolher o candidato que quiser".

Além de Fuad Noman, entre os pré-candidatos à prefeitura no ano que vem estão a deputada federal Duda Salabert (PDT), o deputado estadual Bruno Engler (PL), bolsonarista, derrotado por Kalil no primeiro turno na eleição para a prefeitura em 2020, e o presidente da Câmara Municipal, Gabriel Azevedo (sem partido).

Sobre a administração de Noman, Kalil afirma que a gestão de seu ex-vice ocorre sem muitos sobressaltos. "Não tem nada espetacular, nem para ruim nem para bom", avalia.