terça-feira, 4 de abril de 2023

Corporativismo renitente, Hélio Schwartsman, FSP

 O corporativismo no Brasil é tão arraigado que se manifesta até nas raras ocasiões em que o país abraça uma medida republicana.

Refiro-me à decisão do Supremo Tribunal Federal que põe fim à prisão especial para detentores de diplomas universitários. O dispositivo a ser revogado, que consta do inciso VII do artigo 295 do Código de Processo Penal, assegura aos titulados o direito de ficarem separados dos outros presos enquanto não houver condenação definitiva.

O ministro Alexandre de Moraes, que relatou o caso no Supremo Tribunal Federal e votou contra o privilégio - Zanone Fraissat -31.mar.23/Folhapress

A lógica que presidiu aos votos da totalidade dos ministros é irretorquível. A prisão especial para os diplomados, isto é, em função de uma distinção educacional que se explica principalmente pela classe social, é um privilégio incompatível com o princípio constitucional da igualdade de todos diante da lei.

Segue intacta a obrigação do Estado, nem sempre observada, de separar os presos por sexo, idade e tipo de delito, bem como a de assegurar a integridade física e psicológica de todos os cidadãos que ficam sob sua custódia.

O que causa espanto, para não dizer repulsa, é que o STF tenha restringido seu pendor republicano à questão dos diplomados, sem estendê-lo às várias classes que permanecem com seus privilégios intocados. O próprio artigo 295 tem mais dez incisos, que protegem, entre outros, políticos, oficiais militares e ministros religiosos. Outras legislações dão a regalia, por vezes acrescida de mais benesses, a advogados, membros dos MPs e, é claro, juízes. Não teria sido difícil para o Supremo montar uma pauta mais alentada, que discutisse os privilégios corporativistas em sua totalidade e não apenas uma de suas manifestações.

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No melhor espírito do "instaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos", vou reativar minha igreja, a Igreja Heliocêntrica do Sagrado EvangÉlio, e passar a distribuir ordenações sacerdotais. Com a exclusão dos universitários do rol de beneficiados, o preço do título de ministro religioso deve subir.

Jabuti antiambiental, FSP editorial

 A Câmara dos Deputados atentou contra o meio ambiente ao aprovar emendas a uma medida provisória —baixada na última hora pelo governo Jair Bolsonaro (PL)— que desfiguram a Lei da Mata Atlântica, aprovada em 2006, e adiam de novo a implantação do Código Florestal, modificado há uma década.

A MP 1.150, de dezembro passado, fixava em seis meses o prazo para proprietários rurais adequarem seu cadastro ambiental rural (CAR), aderindo ao programa de regularização. Mas deputados ruralistas emendaram o texto para postergar pela sexta vez o prazo, do fim de 2022 para 2023 ou 2024, dependendo da área do imóvel.

Trata-se de receita certa para agraciar refratários a assumir compromisso com a recuperação de superfícies ilegalmente desmatadas.

Os parlamentares não se limitaram a alimentar a noção folclórica de que certas leis são feitas para não valer. Contrabandearam para o texto um jabuti sem relação com o Código Florestal, ao modificar a única legislação especial para proteger a mata atlântica, o bioma mais devastado do país.

À parte a possível inconstitucionalidade, a emenda ainda desvirtua a Lei da Mata Atlântica. Altera seu artigo 14, que estabelecia condições excepcionais nas quais poderia ser suprimida vegetação primária, ou com regeneração avançada, em caso de utilidade pública.

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Quando se tratar de empreendimentos como linhas de transmissão elétrica, rede de abastecimento de água ou até mesmo, como se cogita, projetos imobiliários, diz o texto da Câmara que a supressão pode ocorrer sem licença de órgãos ambientais estaduais. Bastaria autorização de prefeituras, notoriamente mais vulneráveis a pressões e interesses eleitoreiros.

Organizações ambientalistas, SOS Mata Atlântica à frente, se levantaram com razão para criticar a medida. Seria a pá de cal tanto no Código Florestal quanto na lei do bioma, em afronta ao compromisso internacional firmado pelo Brasil com a mitigação do aquecimento global e ao do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o desmatamento zero.

Apesar disso, a bancada petista participou do acordo que levou à aprovação da MP, ainda que apostando em futuros vetos presidenciais. Manobra mais que arriscada, numa administração que começa aos tropeços, apoiada em frágil base parlamentar. Mais prudente seria o Senado, para onde segue a matéria, abortá-la de pronto.

editoriais@grupofolha.com.br

Finlândia anuncia que vai entrar na OTAN hoje, The News

 O Secretario Geral da OTAN — a principal organização militar de países do ocidente — anunciou que a Finlândia vai tomar posse hoje como um país membro da organização.

A relevância: A Finlândia é o país com a maior extensão de fronteira com a Rússia — 1.300 km. Isso significa que, agora, há mais um aliado da Ucrânia em posição estratégica para a Guerra.

Inclusive, o próprio Ministro das Relações Exteriores finlandês afirmou que o principal objetivo do país é reforçar o apoio à Ucrânia, chamando a agressão russa de ilegal.

Zoom Out: A direita venceu as eleições no país nórdico na última semana, mas a entrada não tem a ver com isso. A Finlândia tenta entrar na OTAN desde maio do ano passado, mudando sua postura de neutralidade depois do início da invasão russa.