sábado, 12 de fevereiro de 2022

O cinismo das redes digitais Paulo Silvestre, OESP

 Paulo Silvestre

17 de janeiro de 2022 | 07h32

Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, depõe ao Senado americano em abril de 2018, sobre o escândalo da Cambridge Analytica

Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, depõe ao Senado americano em abril de 2018, sobre o escândalo da Cambridge Analytica

 

No início de 2002, o jornalista americano John Battelle perguntou a Eric Schmidt como o Google havia se tornado uma empresa da mídia. O então recém-empossado CEO disse que a pergunta não tinha cabimento, pois o Google era uma empresa de tecnologia. Um ano depois, os dois se encontraram de novo, e Schmidt começou a conversa dizendo: “o negócio de mídia não é incrível?”

De lá para cá, as gigantes de tecnologia se tornaram companhias de mídia de uma maneira que as empresas tradicionais do setor jamais sonharam. Não apenas porque arrebataram o mercado de publicidade, centavo a centavo, mas porque desenvolveram um mecanismo de convencimento das massas poderosíssimo e sem precedentes.

Tanto poder carrega consigo grandes responsabilidades. Mas quando são confrontadas nisso, essas empresas se fazem de desentendidas, pois querem apenas a parte boa do domínio sobre seus bilhões de usuários.


Veja esse artigo em vídeo:


Por exemplo, na quinta, o comitê da Câmara dos EUA que investiga o ataque de 6 de janeiro do ano passado ao Congresso emitiu intimações ao Google, Facebook, Twitter e Reddit, criticando-as por permitir que a desinformação e o ódio se espalhassem em suas páginas e por não cooperarem adequadamente com as investigações. Apesar de outras empresas também estarem sendo investigadas, apenas essas quatro foram notificadas, porque, segundo o comitê, “não estavam dispostas a se comprometer a cooperar voluntária e rapidamente”.

Isso me lembra do depoimento de Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, ao Senado americano em abril de 2018. Na época, ele disse que havia sido vítima da empresa britânica de marketing político Cambridge Analytica, pois ela havia usado os recursos da plataforma para roubar dados de 87 milhões de usuários, que foram usados para convencer, também com recursos da rede social, as pessoas a votarem em Donald Trump, candidato à presidência americana dois anos antes.

Sim, o que a Cambridge Analytica fez é crime. Mas é basicamente o que o Facebook faz com seus mais de 2 bilhões de usuários para convencê-los a comprar de tudo em suas páginas.

Em novembro, o instituto Pew Research Center divulgou um levantamento feito com 862 desenvolvedores, líderes empresariais e políticos, pesquisadores e ativistas, sobre como eles viam o futuro do meio digital e seu papel na democracia. Desse total, apenas 61% disseram que acham que, nos próximos 15 anos, essas plataformas servirão ao bem comum, ao invés de interesses específicos. Além disso, 70% acreditam que a evolução digital traz aspectos positivos e negativos, 10% veem apenas os positivos e 18% veem só coisas ruins nisso.

Os otimistas acreditam que as próprias empresas de tecnologia trabalharão com governos e a sociedade civil para melhorar os algoritmos para o surgimento de debates mais saudáveis e democráticos. De fato, eles indicam que esses códigos são a primeira coisa a se corrigir, pois hoje eles são feitos para maximizar os lucros com o engajamento contínuo dos usuários, mas isso também favorece a polarização e o ódio. Para eles, os governos devem ser responsáveis por regulação e alguma pressão, mas sem exageros, pois isso poderia atrapalhar a inovação.

Já os pessimistas acreditam que nada disso deve acontecer, e que o aumento da inteligência artificial, a “hipervigilância” e a transformação de tudo na vida em dados pode amplificar ainda mais as fragilidades e o lado mal de cada um. Além disso, afirmam que os seres humanos são autocentrados e não “pensam a longo prazo”, concentrando-se em sua necessidade imediatas. Tampouco conseguem acompanhar a velocidade das mudanças tecnológicas. Tudo isso ampliaria ainda mais a manipulação das massas, a polarização e o ódio, colocando a própria democracia em risco.

Os brasileiros devem ter logo uma boa prévia de qual grupo tem mais razão: estamos iniciando um ano eleitoral.

 

Não há santos

Se nada for feito, e candidatos e seus apoiadores puderem atuar livremente como fizeram nas duas últimas eleições, 2022 pode representar uma verdadeira carnificina digital, com as pessoas sendo manipuladas em uma escala sem precedentes pelos diferentes grupos. Isso porque, depois de alguns anos, eles se aprimoraram no uso dos recursos tecnológicos e na criação de narrativas falaciosas.

E não nos enganemos: infelizmente o ódio é uma poderosa ferramenta para atingirem seus objetivos. Isso foi demonstrado na segunda temporada da série “The Boys” (Amazon Prime Video), em que a personagem Tempesta explica que “é muito melhor ter soldados que fãs”.

O ódio não é monopólio de apenas um lado da disputa eleitoral. Não há santos nisso! Diferentes grupos de poder já perceberam sua efetividade na manipulação das massas, pois despertam os sentimentos mais primitivos dos indivíduos. Com isso, as pessoas agem mais por impulso e menos pelo racional.

Muito melhor seria promover o amor, mas a última eleição presidencial foi decidida pelo ódio e, ao que tudo indica, essa também será. Pelos discursos dos pré-candidatos, eles não aprecem dispostos a abrir mão dessa “segurança” para estimular apenas bons sentimentos no eleitorado.

O ideal mesmo seria propor um debate em torno de ideias viáveis e construtivas, estimulando o lado racional de cada um. Mas esse é o cenário diametralmente oposto do desejado para a manipulação das massas, portanto devemos ver isso bem pouco.

Meu receio é que isso contamine toda a disputa eleitoral, nos diferentes cargos eletivos e no país todo. Com isso, o voto, tido como a “festa da democracia”, poderia ser convertido em uma ameaça a uma sociedade equilibrada.

Como não podemos, de forma alguma, abrir mão dele no processo democrático, as causas desse problema devem ser resolvidas. E isso nos traz de volta às plataformas digitais.

Estamos nessa situação insustentável porque essas redes criaram os recursos para esse controle da população. Fizeram isso para seu próprio uso, o que já é questionável, dado o grau de alienação que provocam. Mas, para piorar, não deram a devida atenção quando outros indivíduos começaram a se apropriar disso para atingir seus objetivos espúrios.

Não dá mais para essas plataformas se fazerem de desentendidas no seu papel na sociedade. Elas trabalharam duro para se tornar elementos centrais na vida das pessoas, e conseguiram isso de uma maneira jamais vista por qualquer empresa, governo ou instituição. Rivalizam e possivelmente superam a influência de religiões!

Essas empresas precisam fazer mais, muito, muito mais que já fazem para tornar seus espaços mais saudáveis e democráticos. Se não fizerem isso por vontade própria –e é isso que parece estar acontecendo– devem ser pressionadas por órgãos reguladores ou pela Justiça. Ou então desligar essas ferramentas de controle de massas.

Adivinhem o que vai acontecer? Façam suas apostas!

Como se prevenir do Alzheimer? Bote o cérebro para trabalhar, OESP

 Kátia Arima, Especial para o Estadão

12 de fevereiro de 2022 | 05h00

Pode soar estranho pensar que uma criança que frequenta a escola está se prevenindo do Alzheimer, doença que provoca a deterioração das funções cerebrais. Mas estudar e fazer trabalhar o cérebro por muitos anos – de preferência por toda a vida – ajuda a evitar demências, ou seja, desordens cerebrais que afetam a memória, pensamento, comportamento e emoções.

“A prevenção das demências não deve começar na velhice, mas desde a infância. Temos de mudar a nossa forma de pensar a saúde do cérebro”, diz a professora e pesquisadora Mônica Sanchez Yassuda, que coordena o curso de Gerontologia da Universidade de São Paulo (Each/USP).

Ela afirma que está ao alcance da maioria das pessoas ter hábitos que reduzam o risco de ter Alzheimer e outras demências, embora alguns casos tenham fatores genéticos envolvidos. No ano passado, um grupo de pesquisadores divulgou um estudo na prestigiada revista médica The Lancet com uma lista de fatores de risco que, se modificados, têm o potencial de diminuir em 40% as demências. Estão nessa lista o consumo excessivo de álcool, o tabagismo, traumatismo craniano, perda auditiva e exposição à poluição do ar.

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A aposentada Eliane Monezi faz exercícios do curso da empresa Supera para treinamento do cérebro Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Cerca de 1 milhão de brasileiros sofrem de demência atualmente, sendo que a maioria deles tem Alzheimer, concluiu uma pesquisa divulgada em abril, realizada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pela Universidade de Queensland, da Austrália. A estimativa é que esse número se quadruplique em 30 anos.

A doença de Alzheimer pode trazer perda de memória, dificuldade de falar e de realizar tarefas básicas, entre outros sintomas. Ainda não tem cura, nem causas bem conhecidas, e seus tratamentos são de pouca efetividade – por isso, desperta temores. O maior fator de risco para a doença de Alzheimer é a idade, segundo a Alzheimer’s Disease International, associação mundial de entidades dedicadas ao tema. Apesar disso, a demência não é parte normal do envelhecimento.

Origem genética ou não

Quando o Alzheimer acontece antes dos 65 anos, geralmente tem origem genética, explica o neurologista Fabricio Ferreira de Oliveira, professor afiliado do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp). “Nesses casos, não é possível evitar a doença, mas dá para prevenir sua manifestação com hábitos de vida que protejam o cérebro”, afirma.

Nos casos de “Alzheimer de início tardio”, que ocorrem geralmente após os 65 anos, há diversos fatores que podem causar a doença, o que significa que há maior chance de prevenção.

Preocupada em não ter a mesma doença que acometeu a sua mãe, a vendedora Eliane Monezi, de 62 anos, resolveu voltar à escola para fazer “ginástica para o cérebro”. Uma vez por semana, passa duas horas na unidade Moema do Supera, em São Paulo, que oferece um curso que promete melhorar concentração, raciocínio, memória, criatividade e autoestima. “Faço atividades com o ábaco, participo de jogos que me levam a interagir com outras pessoas e a trabalhar a concentração”, conta. Há mais de 20 meses dedicada ao curso, ela percebe resultados. “Se vou fazer o café, não disperso com outra coisa. Presto mais atenção nas coisas”, diz.

Dicas para prevenção

Estimular o raciocínio é apenas uma das possibilidades de prevenção do Alzheimer e outras demências. Veja a seguir as principais recomendações na prevenção da doença neurodegenerativa apontados pelos especialistas consultados pelo Estadão:

Estude sempre

Quanto mais você estuda, menor será a sua chance de ter uma demência no futuro, explica a psiquiatra Claudia Suemoto, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HCFM/USP). Por isso, ela defende a importância de oferecer educação de qualidade também como base para uma melhor saúde pública. “Poucos anos de escolaridade já proporcionam uma proteção. Ter uma ‘reserva cognitiva’, que é como uma “poupança do estudo”, é muito importante”, diz.

Cuide da sua audição

A perda auditiva ao longo da vida pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de demências, afirma a psiquiatra Claudia. “Se você não escuta bem, recebe menos inputs, que são estímulos para o cérebro”, diz. Por isso, ela recomenda cuidados com a saúde auditiva, como o uso de proteção no caso de exposição a ruídos contínuos e altos decibéis. Ao notar redução da audição, é indicado fazer um check-up e, se necessário, usar um aparelho auditivo para escutar bem.

Abandone vícios como álcool, cigarro e drogas

Bebidas alcoólicas, tabagismo e consumo de drogas podem causar Alzheimer, assim como agravar os sintomas de quem já tem a doença, afirma o neurologista Oliveira, da Unifesp. “O ideal, para quem já diagnosticou a doença, é não consumir álcool e cigarro”, diz.

Proteja a cabeça

Traumatismos cranianos podem ser causadores de demências, enfrentadas por muitos lutadores de boxe ou jogadores de futebol americano - ou pessoas que sofreram acidentes de carro, por exemplo. Portanto, proteja a cabeça de impactos e use capacete quando for andar de skate, patins ou bicicleta.

Pratique exercícios físicos

Mexer o corpo ao longo de toda a vida é recomendação para evitar o Alzheimer e outras demências. O neurologista Fabricio de Oliveira recomenda atividades mais aeróbicas, que ajudam a levar para o cérebro oxigênio e nutrientes, como natação, ciclismo, corrida e caminhada. A psiquiatra Claudia, do Hospital das Clínicas, reforça a recomendação das atividades aeróbicas, mas acrescenta que os exercícios que demandam resistência muscular com movimentos feitos com carga, pesos e elásticos, também são importantes para evitar demências.

Cuide da saúde cardiovascular

A pressão alta ou hipertensão arterial, ao longo da vida, é danosa para a saúde, inclusive a do cérebro, orientam os especialistas. No relatório de 2020 do periódico médico The Lancet, que divulgou os fatores de riscos para a demência, o medicamento para hipertensão é considerado o único preventivo conhecido para a demência.

Quem já tem Alzheimer, porém, deve manter a pressão um pouco mais alta, esclarece Oliveira, neurologista da Unifesp. “O idoso e o paciente com Alzheimer não deve manter a pressão baixa. Deve ficar em torno de 14 por 9, pois a pressão baixa pode levar à queda na circulação sanguínea do cérebro”, diz. Também é preciso ficar atento a outros parâmetros como o colesterol, o triglicérides e a glicemia - além de evitar a obesidade. Segundo Oliveira, as pessoas que estão obesas na meia idade correm risco maior de desenvolver Alzheimer mais tarde.

Fuja da poluição e do fumo passivo

Quem vive nos grandes centros urbanos terá dificuldade de reduzir esse fator de risco, mas a poluição do ar pode ser um causador de demências, especialmente para os idosos. A fumaça do cigarro também é nociva à saúde do cérebro, mesmo que de forma indireta.

Alimente-se bem

As recomendações que valem para a saúde como um todo se repetem aqui. Ter uma dieta natural e balanceada, que evite gorduras e açúcares em excesso, é válida para melhorar a saúde de qualquer pessoa. Pesquisadores da Universidade de Rush, nos Estados Unidos, desenvolveram a dieta Mind que ajuda na “resiliência cognitiva”, com benefícios inclusive para quem já está com Alzheimer. Ela inclui vegetais de folhas escuras, oleaginosas, azeite, grãos integrais, peixes ricos em ômega 3 e aves; deixa de fora carnes vermelhas, manteiga, doces e alimentos ultraprocessados (como salsicha e bolachas recheadas).

Tenha um hobby e mantenha uma vida social ativa

Mesmo que você não queira frequentar escolas ou cursos, busque desafios intelectuais do seu agrado, recomenda a pesquisadora Mônica, coordenadora do curso de Gerontologia da USP. “Vale aquilo que você gosta: trabalhar com artesanato, manter uma atividade na comunidade, pintar. É superimportante estar ativo mentalmente, aprendendo coisas novas”, diz.

Ter uma vida social ativa, em contato com amigos e familiares, favorece a saúde do cérebro, afirma Oliveira, da Unifesp. “Há pesquisas que mostram que quem tem um propósito de vida, que se preocupa com os outros e tem pessoas que dependem dela têm menos chance de desenvolver Alzheimer”, diz.

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Uma das formas de prevenção mais eficazes é seguir estudando e apredendo coisas novas Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Best-seller refutado pela comunidade médica

O neurologista Dale E. Bredesen conseguiu levar o livro A cura do Alzheimer para a lista dos mais vendidos do jornal The New York Times em 2017. Ele propõe um protocolo de tratamento chamado Recode, que incluiu suplementos médicos e mudanças de hábitos de vida, com potencial de reverter a doença. Neste ano, um novo livro do médico chegou ao mercado brasileiro, com dicas práticas para estimular a cognição e reverter o seu declínio.

A comunidade médica, porém, não reconhece o valor do trabalho de Bredesen. Em maio de 2020, Joanna Hellmuth, do Centro de Memória e Envelhecimento da Universidade de Califórnia - São Francisco (UCSF), nos Estados Unidos, publicou um editorial na revista científica The Lancet Neurology. No texto, afirma que os três artigos, publicados por Bredesen e citados como evidências de que o protocolo é eficaz, apresentam grandes falhas - embora reconheça que haja elementos do protocolo que possam ser benéficos para pacientes com a doença, como a prática de exercício físico aeróbico, a dieta do Mediterrâneo e o engajamento social.

O pesquisador Olivieira, da Unifesp, diz que não conhece o autor e o livro, mas pode afirmar que não ainda existe tratamento que reverta a doença. “O tratamento pode até desascelerar a evolução do Alzheimer, por um período, mas infelizmente não será possível voltar ao que era antes.”


Chelsea entra na lista dos campeões mundiais; confira os vencedores desde 1960

 O Chelsea se tornou neste sábado (12) o 11º time a ganhar o Mundial de Clubes desde que a Fifa passou a organizar a competição —esta foi a 18ª edição do torneio, realizado pela entidade pela primeira vez no ano de 2000 e, de forma consecutiva, a partir de 2005.

Desde 2017, o conselho da Fifa também passou a reconhecer a Copa Intercontinental, disputada entre 1960 e 2004, como um título mundial. Algo que as equipes brasileiras vencedoras sempre consideraram.

Na ocasião, o Santos teve oficializadas as conquistas de 1962 e 1963. O Flamengo, a de 1981. O Grêmio, a de 1983. O São Paulo, as de 1992 e 1993. O mesmo aconteceu com todos os clubes da Europa que venceram a competição no período. Considerando os dois interclubes, são ao todo 30 equipes campeãs.

VEJA ABAIXO A LISTA COMPLETA