Usina gigante que deve ficar pronta em 2016 absorverá mais do que Dinamarca é capaz de produzir em resíduos
País escandinavo já processa totalidade de dejetos; ideia é investir em queima de lixo para a produção de biogás
SABINE RIGHETTI
ENVIADA ESPECIAL A COPENHAGUE
A produção de biogás e outros produtos a partir de lixo está dando tão certo na Dinamarca que o país deve importar resíduos a partir de 2016.
Nesse ano ficará pronta uma nova usina de processamento de lixo da cooperativa Amagerforbrænding, hoje a segunda maior do país.
A ideia é comprar resíduos de países do norte e do leste da Europa, como Alemanha e Polônia, para dar conta da capacidade total da usina.
Hoje, a Dinamarca processa 100% do lixo que produz em empresas privadas e em cooperativas sem fins lucrativos (esse é o caso da Amagerforbrænding).
A população separa o lixo em casa e também leva os recicláveis até postos de troca.
"Os dinamarqueses estão bastante acostumados a trocar garrafas de plástico e latas de alumínio por moedas", disse à Folha a ministra do Clima e Energia da Dinamarca, Lykke Friis.
A Amagerforbrænding processou no ano passado cerca de 400 mil toneladas de lixo, ou 400 caminhões carregados todos os dias.
ADEUS AOS FÓSSEIS
O tratamento de lixo reduz a emissão de CO2, principal gás do aquecimento global.
Além disso, no caso da Dinamarca, o biogás produzido a partir do lixo substitui os combustíveis fósseis que seriam usados para aquecimento das casas.
De acordo com Vivi Nør Jacobsen, da cooperativa, 4 kg de lixo processados na usina equivalem a 1 l de óleo para aquecimento das casas.
"A atividade da usina está dentro da proposta do governo de acabar com o uso de combustíveis fósseis no país até 2050", explica Jacobsen.
A Amagerforbrænding também tem uma proposta de aproximar o processamento do lixo da sociedade.
A nova fábrica será em Copenhague, assim como a atual, que é de 1970 e se destaca por ser limpa e colorida.
A diferença é que a usina que será inaugurada ficará ainda mais perto do palácio real dinamarquês e funcionará como um espaço público, tendo até pista de esqui.
"Queremos mostrar que uma usina de processamento de lixo não precisa ser feia e fedida", explica Jacobsen.
No Brasil, algumas iniciativas de reciclagem funcionam bem. Por exemplo, quase todas as latinhas de alumínio são recicladas no país.
Os lixões a céu aberto continuam predominando no Brasil pelo menos até 2014.
Esse é o prazo final estipulado pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, sancionada no ano passado, para que todos os lixões sejam completamente fechados.
O objetivo é ter aterros sanitários para os resíduos que não possam ser tratadas - e reaproveitar o restante.
A jornalista SABINE RIGHETTI viajou a convite do Consórcio do Clima da Dinamarca