O furto da medalha Fields de Caucher Birkar gerou repercussão internacional
Zanko Birkar tem quatro anos e não gosta que o pai, Caucher, viaje. Costuma esconder o passaporte para que ele não possa embarcar. Desta vez, o pai explicou à criança que precisava mesmo se ausentar: estava indo ao Rio de Janeiro para receber uma medalha muito importante.
Em 1º de agosto, Caucher, curdo que trabalha no Reino Unido, recebeu das mãos do ministro da Educação do Brasil a medalha Fields, a mais prestigiosa distinção do mundo da matemática, na abertura do Congresso Internacional de Matemáticos (ICM 2018). Foram igualmente distinguidos o italiano Alessio Figalli, que trabalha na Suíça, o alemão Peter Scholze e o australiano de origem hindu Akshay Venkatesh, que atua nos Estados Unidos.
Alguns minutos depois de entregue, a medalha de Birkar foi furtada, e esse fato lamentável repercutiu na mídia brasileira e internacional. Sabendo que coisas assim podem acontecer –e acontecem– em qualquer lugar em um evento desta envergadura, o comitê organizador não tinha tempo nem disposição para lamentações derrotistas. O desafio era reduzir tanto quanto possível as consequências.
Não perdemos tempo. Em poucas horas, já tínhamos identificado vídeos que mostram o momento do furto e os rostos dos envolvidos. Entregue à polícia, para auxiliar na investigação, esse material foi amplamente divulgado. Além disso, negociamos com a União Matemática Internacional a possibilidade de substituir a medalha furtada.
Para Caucher, a maior preocupação era o que dizer ao filho. Quando Zanko pediu para ver a medalha, numa videoconferência, o pai respondeu que outra pessoa estava guardando para ele. Mas, em 4 de agosto, Caucher recebeu sua nova medalha, em uma cerimônia emocionante.
Em discurso bem-humorado, Birkar, um refugiado da guerra Irã-Iraque, disse que já passou por muito pior e que se fosse de se abater com coisas tão pequenas não teria chegado aonde chegou. Lembrou que o valor da medalha Fields está na distinção, que ninguém pode tirar dele, não no objeto.
Brincou ainda que se não fosse pelo incidente não teria ficado tão famoso. E que os ladrões vão ficar desapontados, porque a medalha não custa tanto assim. Caucher disse ainda que o episódio não afetou a sua imagem do Brasil, aonde pretende voltar outras vezes.
Quanto à nova medalha, vai dá-la a Zanko: o menino decidirá o que fazer com ela.
Marcelo Viana
Diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France.