sábado, 12 de agosto de 2017

STF volta a suspender julgamento sobre uso do amianto no Brasil STF volta a suspender julgamento sobre uso do amianto no Brasil, RBA


A presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, assegura retomada de julgamento na próxima semana. (Carlos Moura/SCO/STF)

O Supremo Tribunal Federal (STF) voltou a interromper julgamento, retomado após nove meses, de um conjunto de ações sobre o uso do amianto no Brasil. Por volta de 18h desta quinta-feira (10), a presidenta da Corte, ministra Cármen Lúcia, decidiu suspender a sessão, que deverá ser retomada daqui a uma semana. O julgamento havia sido interrompido em 23 de novembro do ano passado, após pedido de vista do ministro José Antonio Dias Toffoli.
Algumas ações questionam a proibição do produto em estado como São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Pernambuco, enquanto outra, a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4.066, de responsabilidade de procuradores e magistrados do Trabalho, contesta parte de lei federal (9.055, de 1995) que permite o uso “controlado” do amianto, na modalidade crisotila. Único a votar hoje, Dias Toffoli manifestou-se favoravelmente às leis estaduais.
“Hoje, o que se observa é um consenso em torno da natureza cancerígena do mineral e da inviabilidade de seu uso de forma segura, sendo esse o entendimento oficial dos órgãos nacionais e internacionais que detêm autoridade no tema”, afirmou o ministro. A ADI sobre a lei federal começou a ser discutida, mas não houve votação.
A polêmica está no fato de que algumas entidades e especialistas afirmam que é possível haver um uso controlado do produto, enquanto outros afirmam que não há um nível seguro de exposição. A ex-auditora fiscal do Trabalho Fernanda Giannasi, ativista contra a substância, sustenta que não há possibilidade de uso seguro da fibra, o que ela considera uma “falácia”.
“Eu fui fiscal por 30 anos do Ministério do Trabalho e posso lhe assegurar que não existe uso seguro do amianto. Isso é mais do que provado”, afirmou ao Brasil de Fato. “Em lugar nenhum do mundo o uso controlado foi considerado factível. A própria Organização Mundial do Comércio, imagine, um órgão que tem interesses de defesa do livre comércio, disse que não havia factualidade na tese do uso controlado, que não ocorria nem nos países de economia desenvolvidos nem nos periféricos.”
Atualmente, há apenas uma mina de amianto em atividade no Brasil, a Cana Brava. Fica no município goiano de Minaçu, no norte do estado, a 500 quilômetros de Goiânia. A mina é explorada pela Sama, do grupo Eternit. “Cidade criada em torno da mina”, disse no julgamento o advogado Marcelo Henriques Ribeiro de Oliveira, pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria (CNTI), que defende o uso controlado do produto. “O amianto usado da forma como é hoje não faz esse mal propalado. Vários cientistas sérios dizem que não há problema em usar o amianto crisotila.”
O advogado Roberto Caldas, pela Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho (ANPT), afirma exatamente o contrário. “A presença do amianto na nossa sociedade gerou, ao longo do tempo, diversos consensos. (…)  O consenso internacional científico é de que não há tolerância no corpo humano para sequer se dizer que é cumulativo. Um único contato com a fibra do amianto pode ser letal ao indivíduo. A OMS (Organização Mundial da Saúde) já muitos anos atrás recomendava expressamente que a forma mais eficaz de eliminação das enfermidades decorrentes do amianto consiste em cessar completamente o uso de todo e qualquer tipo de amianto”, afirmou Caldas, atual presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Segundo Mauro Menezes, advogado da Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (Abrea), existe uma “trilha de dor, sofrimento e morte que no mundo afora está sempre associada ao amianto”.
O tema foi objeto de audiência pública organizada pelo Supremo em 2012. Naquele ano, o Ministério Público do Trabalho (MPT) criou o Programa Nacional de Banimento do Amianto. Desde então, várias empresas fizeram acordos para substituir o produto. Dez estados já aprovaram leis de restrição ao uso e comercialização.
Na audiência pública de 2012, o então titular da Coordenadoria Nacional de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho (Codemat), procurador Philippe Gomes Jardim, defendeu a abolição do amianto na indústria. “Não há possibilidade do uso controlado”, afirmou. De acordo com o MPT, a exposição ao amianto ou a produtos fabricados com a fibra pode causar vários tipos de câncer.
Na semana passada, o procurador-geral do Trabalho, Ronaldo Fleury – que acaba de ser reconduzido ao cargo até 2019 –, e a vice-presidenta da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho, Noemia Porto, foram recebidos pelo ministro do STF Ricardo Lewandowski para discutir a ADI 4.066, que questiona a Lei federal 9.055, de 1995, que prevê uso controlado do amianto crisotila.
“Embora apenas duas empresas ainda utilizem o amianto crisotila na indústria de fibrocimento, o potencial de adoecimento e mortes é significativo no Brasil”, diz a Anamatra. “Apenas no período de 2000 a 2010, em todo o país, foram registradas no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) 2.400 mortes relacionadas ao amianto, entre pessoas com 20 anos ou mais de idade. Dentre os casos de câncer, foram 827 óbitos por mesotelioma e 1.298 por neoplasias malignas da pleura.”
São discutidas seis ações diretas de inconstitucionalidade (ADIs) e uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF). Confira as ações:
Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 109: Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria x Prefeitura e Câmara de São Paulo. Contesta a Lei 13.113, de 2001, e decreto que regulamenta a proibição do uso de amianto como matéria-prima na construção civil.
Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 3.356: CNTI x governo e Assembleia Legislativa de Pernambuco. Contesta a Lei estadual 12.589, de 2004, que proíbe fabricação, comércio e uso de materiais constituídos por amianto ou asbesto.
ADI 3.357: CNTI x governo e Assembleia do Rio Grande do Sul. Contesta a Lei estadual 11.643, de 2001, que proíbe produção e comercialização de produtos à base de amianto no estado.
ADI 3.937: CNTI x governo e Assembleia de São Paulo. Contesta a Lei estadual 12.684, de 2004, que proíbe o uso no estado de “produtos, materiais e artefatos que contenham quaisquer tipos de amianto ou asbesto ou outros minerais que, acidentalmente, tenham fibras de amianto na sua composição.
ADI 3.470. CNTI x governo e Assembleia do Rio de Janeiro. Questiona a Lei 3.579, de 2001, que trata de substituição progressiva da produção e da comercialização de produtos que contenham asbesto. A ADI 3.406também questiona essa lei.
ADI 4.066, da Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho e da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho, contra Presidência da República e Congresso Nacional. Pede suspensão parcial da Lei 9.055, de 1995, que disciplina o uso, comercialização e transporte de asbesto/amianto.

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Presidente da Sabesp quer acordo social por tarifa de água mais cara, FSP

a semana em que comemorou um lucro recorde da empresa e o fim dos efeitos da crise hídrica que abalou São Paulo especialmente nos anos de 2014 e 2015, o presidente da Sabesp, Jerson Kelman, 69, afirma ser necessário um pacto social por uma nova tarifa de água e esgoto no Estado.
Segundo a proposta da companhia, ainda a ser encaminhada à agência reguladora, uma conta de água mais cara para a classe média, por exemplo, permitiria arrecadação suficiente para ampliar os investimentos e resolver num prazo menor o deficit de saneamento –hoje 31% das moradias ainda não contam com tratamento de esgoto.
No ano passado, a Sabesp, empresa de capital misto sob o controle do governo do Estado, lucrou R$ 2,9 bilhões, dos quais a empresa se compromete a reverter 75% em investimentos em saneamento.
Eduardo Anizelli/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 30-03-2017, 11h00: Entrevista com o presidente da Sabesp e professor em hidrologia Jerson Kelman, na sede da companhia paulista de saneamento. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress, COTIDIANO) ***EXCLUSIVO***
O presidente da Sabesp, Jerson Kelman, na sede da companhia paulista de saneamento
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Folha - Especialistas ainda falam da iminência de uma nova crise da água no Estado. Há perspectivas disso?
Jerson Kelman - Tenho um quadro na minha sala com frases ditas pelo que eu chamo de profetas do apocalipse.
Durante a crise foram feitas obras de segurança hídrica que não são suficientes. É preciso terminar também três obras estruturais importantes [o sistema São Lourenço, a interligação do rio Paraíba do Sul com o sistema Cantareira e reversão do rio Itapanhaú]. Com a conclusão delas, estamos preparados para enfrentar, sem solavancos, a repetição das situações hidrológicas análogas ao que aconteceu entre 2014 e 2015. Sempre é possível ter uma nova crise, mas estaremos preparados.
Em 2014, não se escondeu demais da sociedade o real tamanho da crise? A questão eleitoral, com a disputa à reeleição de Geraldo Alckmin [PSDB], não atrapalhou?
Naquela época, não se sabia que o verão entre 2014 e 2015 seria tão ruim quanto foi. O biênio de 2014 e 2015 ensejou uma revisão na percepção do que a natureza pode nos oferecer. Eu acho ruim avaliar decisões tomadas em um ambiente de incerteza à luz de um conhecimento posterior.
Hoje a Sabesp é festejada como uma empresa que conseguiu reverter a crise, mas, se tivéssemos sido malsucedidos, todo esse esforço teria sido jogado fora.
Mas, em 2014, o sr. também era crítico à falta de transparência da real dimensão da crise.
Não sei exatamente a qual fala minha você se refere, não me recordo se fiz alguma crítica. Mas sou adepto de total transparência. Uma queixa que fiz [antes de assumir a Sabesp] é que poderia ter ocorrido a melhor gestão da água dos rios. Essa água é utilizada por irrigação, e já há experiência mundial e no Brasil de compensar [produtores] irrigantes para não usarem água. Temos que pensar no futuro, numa situação de crise.
Além das obras, a demanda não deveria ter sido atacada de maneira mais duradoura?
O legado positivo da crise é a mudança de hábitos da população que já está ocorrendo. Há hoje uma redução de produção da empresa em 15% no volume de água [em relação ao período anterior à crise].
Mas há interesse da empresa em voltar a produzir água como antes, uma vez que a Sabesp lucraria com isso?
O primeiro interesse da empresa é que haja segurança hídrica. Portanto essa redução de consumo é boa. Claro que [vender menos água] afeta a receita, mas tem que hierarquizar os temas. Na contradição entre faturamento e segurança hídrica, não tem dúvida nenhuma de que nossa prioridade é a segurança hídrica.
Os vazamentos voltaram a subir depois de anos, chegando a perdas de 32% do que é tratado. Como solucionar isso?
Estamos reativando um grande programa de redução de perdas com apoio da Jica [agência de fomento do governo japonês]. Para se ter ideia, se não fizermos nada para evitar vazamentos, o índice de perdas não fica estacionado, ele sobe. Apenas para que ele fique estacionado, gastamos na ordem de R$ 400 milhões por ano. Se você quiser que baixe, temos que gastar mais de R$ 400 milhões. E vamos avançar neste setor. Estamos fazendo uma discussão interna para saber quais são os métodos que, com menos recurso, obtemos maiores resultados. Uma das táticas é trocar hidrômetros, já que hidrômetros velhos quase sempre medem errado contra a Sabesp. Além disso, há fraudes e furtos. O combate a essas perdas é o que dá melhores frutos.
A companhia anuncia desde 2015 a criação de uma nova estrutura tarifária. Quando ela finalmente sairá?
Por ser mais profunda do que a revisão tarifária [de reposição da inflação, por exemplo], a reestruturação provavelmente não será adotada neste ano. Deve-se iniciar a discussão da nova estrutura tarifária de maneira transparente com a sociedade.
O que ela pode mudar?
Primeiro, o contingente da população beneficiária de tarifa social poderia ser maior [hoje é de R$ 15]. Hoje ela atinge de cerca de 300 mil [moradias], no Estado. Poderia chegar a um milhão. Mas essa bondade tem que estar associada a uma maldade. Se alguém precisa pagar menos porque é carente, aqueles que podem devem pagar mais. É absurdo que eu, morando em um flat, pague R$ 44 de água. Para a classe média, o custo da conta de água é muito baixo. Mas não é baixo para as famílias carentes.
Não é razoável algumas entidades de classe cobrarem [a Sabesp] por um serviço de padrão europeu e, ao mesmo tempo, exigir uma tarifa que não é europeia. De maneira geral, no Brasil, a tarifa é baixa se comparada à de primeiro mundo. A velocidade com que queremos avançar ao padrão de primeiro mundo, no padrão suíço, depende da população. Os suíços pagam mais. Interessa a todos dar condições à Sabesp para que ela preste melhores serviços e, ao mesmo tempo, possa exigir isso dela. A classe média não pode ir para Paris e dizer querer que São Paulo seja igual a Paris, ou Londres, sem querer se comportar como parisiense e londrino.
Que outras mudanças poderiam vir dessa reestruturação?
Outro ponto é que o preço do metro cúbico de água para casas não é o mesmo para prédios públicos e indústrias. Não é razoável que o metro cúbico de água em uma escola pública ou em um hospital possa custar quase oito vezes [a mais] o que custa a uma família de classe média. A ideia é diminuir a distância entre esses dois setores.
O mesmo vale para as indústrias e comércios? Pois, se aumentar a tarifa dos setores produtivos, eles podem buscar fontes alternativas como poços e caminhões-pipa.
Hoje temos uma situação perversa na estrutura tarifária. O preço cobrado pela água a esses setores é quase oito vezes mais alta. O preço é tão mais alto que fontes alternativas se tornam mais baratas. Não faz sentido que o sujeito traga um caminhão pipa, se ele tem acesso ao cano da Sabesp. Ele faz isso porque o preço está exageradamente alto, precisamos baixar. Hoje existe um subsídio em benefício da classe média, que acaba não pagando o preço integral de um serviço que é prestado a ela.
O sr. acredita que a sociedade está aberta a essa mudança?
Isso é uma questão de pacto social, que passa por impostos. A sociedade brasileira não quer aumentar a diferença de classes, viver ilhada em fortalezas cercadas de grades. Queremos que nossos filhos e netos cresçam numa sociedade mais harmônica. Não estou querendo penalizar a classe média. Estou apenas dizendo que, se ela quiser, podemos ir mais rápido nos investimentos. Não quero impor.
Com o fim da crise imediata no abastecimento de água, quais serão as prioridade?
Estamos desenvolvendo métricas objetivas para organizar prioridades. Os investimentos para garantir a qualidade de água é o topo da lista. Depois, vem atender aqueles que têm o fornecimento de água em casa, mas de maneira muito precária, tipicamente em favelas. Depois, vem investir em coleta de esgoto. E, por último, tratar o esgoto. Quando tivermos a lista de investimentos bem estruturada nesses critérios, a minha esperança é que diminua muito as sentenças judiciais que não conseguem perceber o conjunto das ações.
Essa mazela decorre de uma falta de uma visão sistêmica de quem tem que tomar uma decisão. E cabe a nós, Sabesp, dar essa visão. No meu plano, quando alguma autoridade judicial cobrar a implantação, por exemplo, de uma estação de esgoto terciária [mais cara e moderna] em uma determinada localidade, eu terei elementos para mostrar que aquele recurso vai tirar da fila outros investimentos que evitariam que crianças pisem no esgoto em outra localidade.
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RAIO-X

Nome Jerson Kelman, 69 (Natural do Rio de Janeiro)
Formação Mestre em Engenharia Civil pela UFRJ e doutor em Hidrologia e Recursos Hídricos pela Colorado State University
Trajetória Consultor do Banco Mundial, foi presidente da Agência Nacional de Águas, presidente do Grupo Light e, desde 2015, é presidente da Sabesp 

Sabesp estuda administrar o destino do lixo na Grande São Paulo, FSP



Danilo Verpa - 29.set.2015/Folhapress
CAIEIRAS - SP - 24.09.2015 - Vista do aterro sanitario em Caieiras. Lixo de cidades paulistas viaja ate 200 km para ser depositado em aterros em outros locais, ja que nao possuem aterros sanitarios proprios. (Foto: Danilo Verpa/Folhapress, COTIDIANO)
Caminhão despeja lixo em aterro sanitário de Caieiras, a 35 km do centro de São Paulo

Empresa de água e esgoto do governo paulista, a Sabesp estuda agora ampliar sua área de atuação e começar a tratar também da destinação de lixo na Grande São Paulo.
A ideia, segundo o presidente Jerson Kelman, é que a empresa possa diminuir o impacto do lixo causado nos aterros sanitários da região metropolitana e, ao mesmo tempo, obtenha energia a partir da queima do material.
Essa energia seria usada pela própria Sabesp dentro dos processos de tratamento de esgoto. No ano passado, por exemplo, a empresa gastou R$ 935 milhões com despesas de energia elétrica.
"Isso é uma ideia ainda incipiente. Hoje, principalmente o destino do lixo é um problema grave no país. [Com essa ideia] podemos não transportar o lixo por grandes distâncias e aproveitar um combustível que é renovável", disse Kelman à reportagem.
Atualmente as grandes cidades do país gastam muito e emitem poluentes ao transportar para os lixões ou aterros sanitários distantes dos centros urbanos. "Poder resolver o problema perto de onde as pessoas moram, como acontece em Paris, é uma solução possível e técnica."
Em Paris, três estações são responsáveis por beneficiar e incinerar o lixo produzido por uma população de cerca de 6 milhões de habitantes da região metropolitana. O calor do processo gera vapor que aquece as casas e energia elétrica.
Essa nova ideia da Sabesp ocorre em um momento de respiro da companhia. De 2014 e 2015, a empresa ligada ao governo Geraldo Alckmin (PSDB) esteve com suas atenções quase que 100% voltadas à crise da água no Estado, com reservatórios à beira de um colapso e diferentes pontos da Grande SP submetidos a um duro sistema de racionamento.
Nesse período de estiagem, a companhia vendeu menos água e viu seu lucro despencar. Em 2016, após dois anos abaixo de R$ 1 bilhão, o lucro finalmente fechou em patamares "normais" –R$ 2,9 bi.
AMBIENTE
No caso do lixo, o presidente da Sabesp defende que, sob o ponto de vista ambiental, a incineração é mais viável do que a construção de aterros sanitários. A ideia de Kelman é de que as usinas ou estações de tratamento de lixo fossem dotadas de filtros atmosféricos para não poluírem o céu da cidade, assim como no exemplo francês.
Também nos planos do presidente, as estações poderiam ainda ter a capacidade de incinerar o lodo gerado durante o tratamento de água e de esgoto da empresa.
Atualmente, esse rejeito é dispensado em um tipo de aterro específico. Após determinado tempo, o chorume do material é devolvido à Sabesp que o trata para descarte.
MUNICÍPIOS IGNORAM LEGISLAÇÃO
Sete anos após a lei que previa o fim dos lixões no país, cerca de 3.300 municípios ainda despejam resíduos em áreas impróprias, o que provoca a contaminação do solo. De acordo com a norma, todos os lixões deveriam ter sido desativados em 2014.
O descumprimento da regra deu origem a um novo texto em discussão na Câmara dos Deputados que prevê a prorrogação para 2021. Até lá, todas elas teriam que criar seus próprios aterros ou contratar empresas para isso. Estima-se que sejam produzidos no Brasil 195 mil toneladas de lixo por dia.
De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de Resíduos e Efluentes (Abetre), o projeto pode ser uma espécie de salvo-conduto para quem comete crime ambiental no país.
"Sempre foi crime lançar lixo no solo sem proteção. É necessário agora criar medidas estruturais que resolvam o problema. Senão, chegaremos em 2021 na mesma situação", disse Carlos Fernandes, presidente da entidade.
A Abetre estima que seria necessário investir cerca de R$ 5,8 bilhões na construção de novos aterros sanitários para dar fim aos lixões.
Na capital paulista, o lixo não reciclável é destinado a dois aterros sanitários. Um em São Mateus (extremo leste) e outro em Caieiras (Grande SP). Nos moldes do que prevê a Sabesp, ambos criaram usinas para a transformação do biogás (produzido por lixo) em energia elétrica.
De acordo com Fernandes, há exemplos de energia produzida pelo lixo que abastecem indústrias espalhadas pelo país, especialmente mineradoras. Essa energia também pode ser vendida no mercado.
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Raio-x da Sabesp

O que é
Fundada em 1973, é uma empresa de economia mista que detém a concessão dos serviços públicos de saneamento básico de SP; ela gerida pelo governo do Estado e atende 366 municípios
Principais serviços prestados hoje
> Fornecimento de água
> Coleta e tratamento de esgoto
> Produção e fornecimento de água de reuso
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Isso ocorre inclusive em estações de tratamento de esgoto na Baixada Santista, no litoral sul de SP, que têm que ser transportados pela serra do Mar até o planalto paulista e ser despejado em aterros.
Mas, se fosse incinerado, poderia render energia à empresa. Para esse passo, no entanto, é preciso ampliar os estudos na companhia. Por isso, a empresa pretende investir em tecnologia para gerar energia a partir do lodo.
Um dos projetos é o de que a Sabesp possa cobrar, em nome de prefeituras paulistas, a taxa de lixo. Em contrapartida, a empresa investiria na destinação final de lixo.
A ideia é construir usinas de incineração do lixo coletado na cidade próximo às atuais estações de tratamento de esgoto. Para o plano, no entanto, devem ser criadas novas instalações.
A nova lei de saneamento, de 2007, abriu essa brecha às empresas de água e esgoto. A Sabesp mudou seu estatuto e, na prática, está apta a ações também na área de drenagem e resíduos sólidos –no caso dos lixos, precisaria seguir o trâmite do licenciamento ambiental no Estado, por meio da Cetesb. Se a ideia avançar, a Sabesp terá de fazer um comunicado formal ao mercado.
Colaborou GIBA BERGAMIM JR.