Apesar da facilidade em encontrar e produzir petróleo, estatal perde nas áreas de refino, distribuição e revenda de combustíveis
30 de março de 2014 | 2h 07
Sabrina Valle, O Estado de S.Paulo
RIO - A Petrobrás é a mais rentável entre as grandes petroleiras no segmento mais crucial e desafiante do setor: encontrar, desenvolver e produzir petróleo. Seus campos são tão fartos que diluem os custos crescentes que têm assombrado petroleiras mundo afora. Mesmo assim, a estatal tem a pior rentabilidade entre as maiores petroleiras do planeta, segundo levantamento global do Credit Suisse.
O motivo é a perda na área que engloba refino, distribuição e revenda - principalmente por causa do controle do preço de combustíveis feito pelo governo para evitar impacto na inflação. Há mais de dois anos a Petrobrás vende diesel e gasolina por preços menores do que os pagos quando importa. A perda com o segmento é tamanha, segundo a equipe de analistas do Credit, que "destrói valor da empresa".
"Os principais problemas da Petrobrás são poucos, mas são muito grandes", diz o analista Vinícius Canheu, autor de estudo de 124 páginas sobre a empresa junto com André Sobreira. Canheu não entra nos problemas políticos ou nas suspeitas de corrupção dentro da companhia e se concentra nos números. Para ele, a defasagem de preços é o maior dos problemas. A estatal, calcula, teria hoje resultado anual US$ 10,2 bilhões mais gordo não fosse a defasagem de preços de combustíveis, vendidos com um desconto de cerca de 20% em relação ao mercado internacional.
Hoje, a Petrobrás vale na Bolsa cerca de R$ 200 bilhões. É menos da metade do pico do valor, de R$ 510 bilhões, em 2008.
Extremos. Trata-se de uma empresa de extremos. É a mais rentável em exploração e produção: o retorno sobre o capital bruto investido fica em 18%, ante uma média de 12% do setor e de 11% de gigantes como Exxon e Shell.
Já em refino, distribuição e revenda é a única do mundo com resultado negativo. O retorno é de -9%, ante média de 3% do setor. A Exxon lidera, com 11%, e a Shell vem atrás, com 9%. No cômputo final, o retorno sobre o capital investido é de 7%, o mais baixo do setor. A Chevron lidera com 12%, enquanto a média do setor é de 9%.
A Petrobrás também é a petroleira que mais investe: cerca de US$ 44 bilhões por ano, ante uma média de US$ 19 bilhões do setor. Em segundo e terceiro lugares vêm Exxon, com US$ 40 bilhões, e Shell, com US$ 38 bilhões nos dados mais recentes referentes a 2012.
Mas quando o parâmetro é a gastança em relação ao tamanho do bolso, a estatal também tem o pior resultado. "A empresa é não apenas a mais alavancada, mas também a que está se alavancando mais rapidamente", diz Canheu.
Enquanto o setor em média economiza 10% do que gera de caixa, segundo o levantamento, a Petrobrás desde 2007 investe mais do que faz de caixa. Para isso, tem tomando dinheiro emprestado, principalmente no exterior, elevando rapidamente o endividamento. Com a alta do dólar, o custo fica ainda mais caro. Os analistas do Credit Suisse lembram que há destruição de valor, pois ela tem de retorno de investimento menos do que gasta para pegar dinheiro emprestado (custo de capital).
Endividamento. A alavancagem da companhia está em 3,5 vezes a dívida líquida sobre geração de caixa (Ebitda), estourando um limite interno estabelecido em 2,5 vezes. Em 2011, por exemplo, estava em 1,66 vez.
O quadro é tão preocupante que o conselho fiscal da Petrobrás recomendou ao conselho de administração, presidido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que envide esforços para reduzir a alavancagem. A preocupação era com um rebaixamento da nota de risco da companhia, o que tornaria ainda mais caro para a Petrobrás tomar dinheiro emprestado, disseram os conselheiros em ata de reunião. O rebaixamento acabou vindo na semana passada, na esteira do rebaixamento do rating governo brasileiro.
A situação fez a empresa usar este ano premissas em seu plano de negócios que o mercado considera irreais. A principal delas é o câmbio de referência. Analistas têm considerado baixo demais os R$ 2,23 por dólar que a Petrobrás decidiu este ano adotar nos cálculos.
O Banco Central estima a média do ano para o dólar em R$ 2,45, um valor bem mais alto que elevaria a dívida da empresa.
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