domingo, 30 de março de 2014

Dúvida sobre preço administrado afeta inflação


Segundo especialistas, a grande questão é saber se o governo fará essa correção por etapas ou em apenas uma vez

30 de março de 2014 | 2h 05

Luiz Guilherme Gerbelli, O Estado de S.Paulo
A espera pela recomposição dos preços administrados está turvando o cenário para as projeções de inflação. Hoje, os preços são ajustados já com a expectativa de novas altas.
Para especialistas, o governo vai ter de promover a normalização dos preços administrados em algum momento - o mais provável é que ocorra depois da eleição presidencial de outubro. O grande debate é como vai ocorrer essa correção - de apenas uma vez ou aos poucos.
"O governo armou uma situação que as expectativas de inflação não têm como cair. Todo mundo sabe que vai ter uma inflação alta no período, e tornou a inflação presente muito difícil porque as pessoas estão ajustando os preços, com a expectativa de que a inflação futura vai ser alta", diz o coordenador de economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/IBRE), Armando Castelar.
O estudo elaborado pela consultoria A.C. Pastore & Associados mostra que, se o governo liberasse os preços administrados, como os de energia e combustível, o impacto na inflação seria de um ponto porcentual logo de cara. "E esses preços se propagam porque eles são insumos", afirma Marcelo Gazzano, economista da A.C. Pastore & Associados. "Nas cadeias, esses aumentos vão começar a aparecer. Não se sabe quais serão os efeitos secundários ainda porque vai depender, por exemplo, da ociosidade da economia", afirma Gazzano.
A inflação também deve ser pressionada pelo choque de alimentos. É um fator novo, que o governo não contava. O relatório de inflação divulgado na semana passada pelo Banco Central apontou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) só deve ficar abaixo de 6% a partir do segundo trimestre do ano que vem.
Juros. A expectativa por uma inflação acima do esperado tende a levar a um aumento mais forte da taxa básica de juros (Selic). No caso dos juros futuros com vencimento em dois e três anos, as taxas estão entre 12% e 13%, segundo o diretor de Gestão de Investimentos da Rio Bravo, Beto Domenici. "É uma taxa muito alta, se pensarmos que estamos falando da média no período, então vamos ver os juros subirem acima desse nível em algum momento", afirma.
A gestora de recursos Rio Bravo acredita que a taxa básica de juros deve ficar entre 11,25% e 11,50% até o fim deste ano, e se manterá nesse nível ao longo de 2015.
Desde abril do ano passado, o Banco Central tem promovido ciclos de aumento da taxa de juros. Desde então, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Selic de 7,25% para 10,75%, na última reunião que aconteceu em fevereiro.
Na avaliação de Castelar, não será suficiente apenas a ação da política monetária. Para ele, será necessário o ajuste fiscal. "Estamos numa situação fiscal em que só ficar subindo a Selic vai pressionar o gasto com juros e isso vai virar uma dinâmica na área fiscal muito preocupante", afirma. "Não estamos nesse estágio, e há espaço para subir os juros. Mas, se você insistir em só subir juros, vai se criar muita incerteza na área fiscal", afirma Castelar.

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