Uma semana de debates sobre dois temas que se cruzam nos caminhos da economia e desafiam o governo. Usar o câmbio para evitar que a inflação passe da meta ou para beneficiar a indústria, e combater a competição dos produtos importados, principalmente, de países como a China que desvalorizam suas moedas para vender mais no mercado mundial?
Os economistas estão divididos, e pode-se dizer, a equipe econômica também. Já se insinua nos bastidores de Brasília a volta do câmbio fixo.
Alguns analistas mais afoitos dizem abertamente que as intervenções do Banco Central para manter o dólar em torno de R$ 2, já caracteriza uma política de câmbio fixo. Não chega a ser bem isso. O Banco Central não | concorda é com um câmbio maior, como o reivindicado pela indústria, de R$ 2,3 e até mais, pois isso pressionaria os preços dos produtos importados, não só acabados, mas insumos.
Para tratar desse assunto, que alguns analistas já dizem ser um dilema, mas não o é pois podem caminhar juntos e há alternativas, a coluna conversou com um dos economistas de maior lucidez na análise desse tema, o professor Antônio Corrêa de Lacerda, que é também colaborador do Estado. Em seus artigos, sempre bem fundamentados, Lacerda tem feito análises realistas e equilibradas, e previsões muitas das quais têm se confirmado.
•A primeira pergunta é sobre o tema principal da coluna que domina hoje 0 debate econômico nacional, câmbio versus inflação, professor?
Muita coisa mudou na economia. Houve mudanças expressivas em preços fundamentais da economia, primeiro a taxa de juros, que foi reduzida a menos de 2% real ao ano, fato inédito na nossa economia. Segundo, medidas para reduzir o “custo Brasil”, como a desoneração de investimentos, facilitação de crédito, incentivos à produção e desoneração da folha de salários.
Terceiro, uma correção do rumo do câmbio, que apontava para R$1,50 em 2011 e tem se mantido ao redor de R$ 2,00. Não vejo que as recentes intervenções do BC para valorizar o real represente um recuo nessa estratégia de ampliar a competitividade, não apenas das exportações, mas da produção interna sufocada pelas importações. O importante é o câmbio real, aquele descontado a inflação. Muitos poderiam querer uma taxa de câmbio mais desvalorizada, mas se isso impulsionar a inflação tenderia a ser nulo para a competitividade. Portanto, um câmbio entre R$ 2 e R$ 2,10, me parece razoável para atingir os objetivos, desde que se persista na diminuição do custo Brasil.
; •Vamos à economia. Lacerda, vai dar para crescer mais este ano? Essa parece ser a prioridade do governo, assustado pelo choque do 1% do ano passado.
O ano de 2012 foi um ano atípico em termos de crescimento. Em 2013 poderemos crescer entre 3,0% a 3,5%. Trata-se de um desempenho aquém do desejável, mas factível para o Brasil. O interessante é que deve haver uma retomada dos investimentos, que devem crescer quase o dobro do desempenho do PIB. Muitos projetos que foram adiados para preservar o caixa das empresas serão retomados. Trata-se não apenas de projetos de expansão da capacidade produtiva e infraestrutura, mas também investimentos para ampliar a produtividade: automação das linhas de produção, informatização de processos, etc. Isso também vai colaborar para ampliar a produtividade das empresas e melhorar a competitividade da nossa produção.
• Mas a mídia internacional tem sido impiedosa, diríamos até estranhamente grosseira ao criticar a política econômica brasileira... -
Há um misto de desinformação, mas também uma falha de comunicação e interlocução do governo. Primeiro, a empolgação de anos atrás, nunca se sustentou na prática. Agora, há também uma tentativa descabida de desqualificar a estratégia do governo. Aqui poderia haver um canal mais claro de comunicação da equipe econômica. Isso ajudaria muito o setor privado a entender os objetivos, a estratégia e os instrumentos em curso na política econômica.
• Ao lado, ou melhor, quase que entrelaçado com o câmbio há a inflação. Acha que há o risco de sair do controle?
É pouco provável. A inflação caiu um pouco em 2012, ficou em 5,8%, contra 6,5%, em. 2011, e pode cair mais um pouco em 2013. É uma inflação acima do centro da meta, mas dentro da tolerância. Não é um nível muito diferente da média dos países em desenvolvimento, que é por volta dos 5%. Há países badalados; como a índia, que tem inflação anual de 10%! Isso não significa um álibi para o Brasil deixar a inflação rolar, mas temos de ser realistas e entender as causas da inflação: preços de alimentos e de serviços. Tem mais a ver com a oferta, do que com a demanda. Há ainda uma elevada indexação, formal e informal. Temos de combater tudo isso de forma estrutural.
• Administrá-la com a alta dos juros?
Não vejo que haverá elevação dos juros no Brasil este ano.
Até porque prevalece um quadro de juro real negativo (abaixo da inflação), nos países desenvolvidos e isso representa uma janela de oportunidade para o Brasil.
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