sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013
De que são feitos os sonhos?
Poucos dias antes de seu assassinato, o presidente americano Abraham Lincoln (1861-65) teria tido um sonho vívido sobre sua própria morte. Paul McCartney ouviu a melodia de "Yesterday" durante o sono, mas acordou cantando as palavras "ovos mexidos". E Freud e Jung tinham uma ou duas coisas a dizer sobre os sonhos.
O reino do inconsciente do pintor Salvador Dalí há muito oferece sugestões formidáveis de simbolismo e profecia. E, embora a ciência questione décadas de suposições sobre a importância e o significado dos sonhos, muitas pessoas ainda os consideram um poço sem fundo de sabedoria e orientação.
Como Sir Paul e Dalí, os artistas continuam vasculhando seus sonhos em busca de inspiração.
Em seu novo filme, "A Origem", o diretor Christopher Nolan criou efeitos especiais futuristas para evocar as estratégias subconscientes de um especialista em espionagem mental que planta e extrai informações enquanto seus sujeitos dormem. O resultado é uma torrente enlouquecida de ação, ambientes surreais e personagens que podem ou não existir.
Conforme escreveu A. O. Scott, do "New York Times", em resenha, "O inconsciente, como sabia Freud (e Hitchcock, e muitos outros grandes cineastas), é um lugar extremamente desgovernado, um labirinto de desejos inadmissíveis, segredos confusos, anedotas e medos".
Alguns atores, incluindo Meg Ryan e Harvey Keitel, estão recorrendo a essa mesma realidade inconsciente para burilar sua arte. Em oficinas em Nova York e Los Angeles, eles usam a psicologia junguiana para representar papéis de seus próprios sonhos.
"Os atores estão sempre buscando formas de se aproximar da psicologia, da vida, da experiência dos personagens que estão criando", disse Keitel ao "Times". E acrescentou: "O trabalho com o sonho trouxe mais uma ferramenta para o ator -nós encenamos nossos sonhos, nós os colocamos de pé".
Os não artistas também podem receber um "feedback" sobre seus sonhos, sem os custos de um psicanalista. Em grupos que estão proliferando nos Estados Unidos e em outros países, as pessoas abrem seus sonhos à discussão.
"Contar seu sonho para um grupo de pessoas pode ser uma experiência muito intensa", disse ao "Times" Liz Hill, escritora que participa de um grupo de sonhos em uma igreja em Ohio (EUA). "Isso traz diferentes perspectivas, que iluminam aspectos do sonho que talvez você não percebesse sozinha."
Mas, apesar de nossa constante busca por poesia, significado e orientação nos sonhos, a neurociência pode estar se inclinado para uma interpretação mais prosaica. Como escreveu Benedict Carey no "Times", os sonhos podem ser mais fisiológicos do que psicológicos, simplesmente uma sintonização para a vigília consciente. Alguns cientistas defendem a teoria de que nossos cérebros, divorciados dos sentidos da vigília durante o sono, continuam disparando impulsos aleatórios para manter as coisas funcionando suavemente.
"Eu afirmo que o sonho não é um estado paralelo, mas a própria consciência, sem a contribuição dos sentidos", disse a Carey o neurologista Rodolfo Llinás, da Universidade de Nova York.
Quanto a símbolos e profecias portentosos, um estudo com mil estudantes das Universidades Harvard e Carnegie Mellon citados no "Times" sugeriram que o viés do interesse próprio tem um papel importante em como interpretamos nossos sonhos. Em outras palavras, nós vemos o que queremos ver.
No caso de Freud, era sexo. Lincoln poderia ter um desejo de morte. E Paul McCartney talvez quisesse apenas o café da manhã.
KEVIN DELANEY
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