quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Nunes veta aumento do teto de multas do TCM à sua gestão e amplia crise, FSP

 


SÃO PAULO

O prefeito de São PauloRicardo Nunes (MDB), vetou artigo de um projeto de lei do Tribunal de Contas do Município que propunha aumento de R$ 900 para R$ 39 mil no teto das multas que o órgão pode aplicar em casos de despesas ilegais e irregularidade na prestação de contas da administração pública municipal.

No TCM, o aumento era visto como uma forma de tornar a fiscalização mais eficiente, já que o valor atual é considerado insuficiente para coibir infrações dos gestores públicos.

Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo, durante entrevista à Folha
Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo, durante entrevista à Folha - Karime Xavier-14.jun.2021/Folhapress

Nessa leitura, o veto de Nunes foi recebido por membros da corte como uma forma de evitar aumento de pressão e complicações futuras para membros de sua gestão (secretários, chefes de gabinete, subsecretários, presidentes de empresas municipais), já que eles poderiam ser penalizados com os valores.

Por se tratar de um tema que envolve a gestão do próprio prefeito, membros do tribunal afirmam que ele deveria ter devolvido o projeto de lei para que a Câmara Municipal promulgasse. Da maneira que agiu, dizem, ele legislou em causa própria.

Outra ala do TCM-SP defende que Nunes sancionou a parte mais importante do projeto de lei, a que promovia reorganização de cargos na corte. Com isso, o tribunal poderá nomear 15 novos auditores já aprovados em concurso público. Como o texto previa também a extinção de 75 cargos, a perspectiva na instituição é a de economia de custos.

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"A sanção ou veto aos dispositivos do projeto é prerrogativa do prefeito", diz o tribunal, em nota.

Aprovado na Câmara Municipal de São Paulo em setembro, o projeto contém um artigo que estabelece que as multas que o TCM-SP pode aplicar devem variar de acordo com a natureza da infração (leve, média, grave ou gravíssima) e podem chegar R$ 39 mil.

Na justificativa de veto, a prefeitura argumenta que o projeto não apresenta critérios objetivos para definir a gravidade das infrações praticadas e, por consequência, para determinar a dosimetria das multas

O veto se insere em contexto de tensão entre o prefeito e a corte municipal de contas. O emedebista critica constantemente o TCM-SP por supostamente atrapalhar a evolução ou interromper obras de sua gestão, ao passo que os conselheiros e o corpo técnico da corte afirmam que os projetos têm problemas técnicos frequentemente e por isso precisam passar por modificações.

Presidente da Câmara de SP envia projeto para liberar seu 4º mandato consecutivo, FSP

 Guilherme Seto

SÃO PAULO

Presidente da Câmara Municipal de São Paulo, o vereador Milton Leite (União Brasil) incluiu em um projeto de lei que tramita na Casa uma proposta de alteração da lei orgânica do município que libera reeleições para o cargo que ele atualmente ocupa.

A legislação hoje só permite duas reeleições —ela foi modificada em 2022 por iniciativa do próprio Leite, pois antes só autorizava uma.

Com isso, o vereador disputará o seu quarto mandato em dezembro, buscando a terceira reeleição consecutiva.

Milton Leite (União Brasil), presidente da Câmara Municipal de SP, durante entrevista à Folha
Milton Leite (União Brasil), presidente da Câmara Municipal de SP, durante entrevista à Folha - Danilo Verpa-7.mar.2018/Folhapress

Na formulação do texto que hoje circula no Legislativo, Leite não coloca limite ao número de reeleições. No entanto, seus interlocutores afirmam que ele manifestou intenção de estabelecer algum limite futuramente.

O presidente da Câmara também tem discutido a possibilidade de estender o mandato de presidente para dois anos em vez de a um só em outro projeto, a ser enviado no ano que vem.

Como mostrou o Painel, um dos motivos de Leite para continuar no cargo é o desejo de participar com protagonismo de dois eventos em 2024.

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Um deles é o processo de privatização da Sabesp proposto pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP). Após a gestão estadual sinalizar que a autorização dos Legislativos municipais não seria formalmente necessária, Leite marcou posição de que a Câmara deveria, sim, participar, o que fez com que o governo paulista recuasse.

Outro é a eleição para prefeito de São Paulo, na qual ele apoia a recondução de Ricardo Nunes (MDB). Leite já manifestou à coluna a intenção de ser vice na chapa do atual mandatário, o que se torna mais fácil com a sua continuidade por mais um ano como presidente da Câmara.


Hélio Schwartsman - Presidentes devem sempre dizer a verdade?, FSP

 SÃO PAULO

Lula afirmou que o déficit fiscal de 2024 não precisa ser zero e, ao dizer isso casualmente, acabou passando uma bela rasteira em Fernando Haddad, seu ministro da Fazenda. Pouca gente acredita em déficit zero, de modo que é possível dizer que Lula foi apenas honesto. Presidentes devem sempre dizer a verdade?

Acho que existem profissões que estão comprometidas com a honestidade. Penso que um médico, por exemplo, jamais pode mentir para o paciente competente que o questiona diretamente sobre seu estado de saúde. Fazê-lo, aliás, seria inútil, já que o paciente pode sempre requisitar seu prontuário e descobrir o que o médico desejava esconder. Mas o caso de presidentes é diferente.

Fernando Haddad e Lula, em foto na revista The Economist
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - Reuters

Existem até situações em que o chefe de Estado é obrigado a mentir. Imagine que o governo prepara um plano econômico que inclui o congelamento de preços. Imagine também que um repórter pergunta ao presidente se haverá congelamento. Se o mandatário disser a verdade ou tentar sair pela tangente, ele estraga o plano, daí que negar o congelamento é um imperativo.

Acredito, porém, que esses sejam casos raros. Situações mais frequentes são aquelas em que o presidente tem o dever da omissão, isto é, de esconder o que ele realmente pensa, a fim de preservar espaços para a negociação política ou para não criar embaraços futuros. Diplomatas e policiais são outras categorias profissionais que precisam saber manter a boca fechada, mesmo que isso implique algum grau de ilusionismo e manipulação.

Lula não é um presidente inexperiente, que ainda está descobrindo o peso de suas palavras. Daí que há duas maneiras de interpretar sua declaração sobre o déficit. Ou ele pisou feio na bola, o que significa que está em pior forma do que se imaginava, ou quis mesmo passar um recado para Haddad. A pergunta é: por quê? A revisão às pressas da meta que ora se cogita parece mais uma operação de redução de danos.