quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Corinthians e Flamengo levam discussão da ética ao futebol, PVC FSP

 Tite desembarcou no Rio de Janeiro na terça-feira (26), cercado por repórteres ávidos por saberem se aceitaria convite do Flamengo. Afirmou apenas: "O que me pauta é o respeito". Depois, reforçou ter residência na Barra da Tijuca, zona oeste carioca. Estava apenas voltando para casa.

Nas entrelinhas, deixou claro não se sentir à vontade para falar sobre um clube com um treinador empregado.

Não há nenhum motivo para duvidar do respeito de Tite.

Há todos para desconfiar da ética no futebol.

Tite na partida Brasil x Coreia, na Copa 2022 - Xu Zijian/Xinhua

Menos de 24 horas depois do desembarque do ex-técnico da seleção brasileira, surgiu o boato de seu empresário, Gilmar Veloz, ter estado na Neo Química Arena durante Corinthians 1 x 1 Fortaleza.

Segundo o rumor, o presidente corintiano, Duílio Monteiro Alves, ouviu de Veloz que Tite não poderia aceitar o Corinthians, por já estar apalavrado com o Flamengo.

A história foi desmentida veementemente por quem estava com Duílio. "O presidente perguntou por curiosidade e ouviu que Tite não pretende trabalhar no Brasil neste ano." Numa só tacada, Gilmar Veloz descartou o Corinthians, sem perder a hipótese de mudar de ideia mais tarde, em caso de acerto com o Flamengo.

Enquanto isso, a direção rubro-negra deixou Jorge Sampaoli trabalhar no Ninho do Urubu, enquanto o país inteiro sabia estar demitido.

Aconteceu com Paulo Sousa, dispensado no dia 9 de junho de 2022, logo depois de dar treino em Atibaia, um dia antes do anúncio de Dorival Júnior como seu substituto. A expectativa é de Tite acertar salários e, então, Sampaoli ser oficialmente dispensado.

Mas...

E se Gilmar Veloz tiver dito a verdade ao afirmar a Duílio Monteiro Alves que Tite não pretende trabalhar no Brasil em 2023? E se Tite não quiser viver num ambiente em que ele possa ser o próximo exposto, dando treinos, com todo o país já sabendo que está demitido?

Tite tinha um problema pessoal grave em 2003, quando foi convidado por Juvenal Juvêncio e não pôde assumir o São Paulo.

Publicou-se que rejeitou o Morumbi. Na verdade, pediu semanas para solucionar a questão familiar antes. Não deu tempo.

Também se disse que se arrependeu de não ir para o Morumbi. Poderia ser o campeão da Libertadores dois anos mais tarde. Esperou mais nove e ganhou o torneio continental pelo Corinthians.

O que é do homem, o bicho não come.

Há quatro meses, antes de contratar Vanderlei Luxemburgo, o Corinthians fez proposta a Mano Menezes. Mano nem pensou que as eleições para presidente do clube fossem problema, por saber ser pretendido pelas duas chapas.

Recusou por não querer romper o contrato com o Internacional. Recebeu críticas de quem trabalha perto dele. O argumento: o Inter iria demiti-lo, mais cedo ou mais tarde. Em julho, o Beira Rio recebeu Eduardo Coudet como substituto de Mano Menezes.

Em quatro meses, o Corinthians contratou e demitiu Luxemburgo e fechou com Mano Menezes.

demissão de Luxemburgo não parece justa, pois ele tinha sete titulares acima de 31 anos e diminuiu para três, descobriu Moscardo, efetivou Murillo —depois vendido— e perdeu Roger Guedes no meio das semifinais da Copa do Brasil, enquanto o São Paulo se reforçava com Lucas.

Injusta, mas respeitosa.

Luxemburgo na partida Corinthians 1 x 1 Fortaleza, em Itaquera - Marcello Zambrana/AFP

Uma vez decidida, a demissão foi comunicada ao funcionário e, logo depois, anunciada.

Você já teve chefe que deixou o escritório saber que seu colega de trabalho seria demitido na sexta-feira, depois do expediente? Gostaria de trabalhar com ele de novo?

Mario de Andrade escreveu "Amar, verbo intransitivo".

Respeitar também deveria ser.

Prêmio Stálin, Helio Schwartsman, FSP

 Algum filantropo precisa instituir o prêmio Stálin de adulteração da história. A disputa pelo galardão seria acirradíssima.

No mês passado, Lula, comentando o arquivamento de uma ação de improbidade contra Dilma pelo TRF-1, afirmou que a decisão provava que as pedaladas fiscais que levaram ao impeachment da ex-presidente nunca existiram. Na verdade, os desembargadores concluíram apenas que a ação não era cabível, porque Dilma já fora punida por essa mesma conduta com o afastamento no foro adequado, que é o Senado.

O ministro do STF Dias Toffoli - Carlos Moura/SCO/STF

Lula até poderia ter dito que as pedaladas, no seu entender, não justificavam o impeachment, mas não que elas não ocorreram e menos ainda que o TRF-1 disse que não ocorreram. A própria Dilma já tentou se justificar afirmando que todos os presidentes anteriores a ela, incluindo Lula, também pedalaram.

Esta semana, o ministro do STFDias Toffoli, que já sugerira que o petrolão não passou de uma armação, disse que a democracia brasileira provavelmente só sobreviveu a Bolsonaro graças à "força do silêncio" de Augusto Aras. O bonito na democracia é que todos são livres para formar seus próprios juízos. Na minha interpretação, diametralmente oposta à de Toffoli, Bolsonaro só foi tão longe em suas investidas golpistas porque Aras e Arthur Lira deixaram de cumprir suas obrigações.

Dentre os mais de 200 milhões de brasileiros, eles eram os dois únicos que poderiam ter cortado desde cedo as asinhas usurpadoras do ex-presidente. Aras poderia e deveria tê-lo denunciado por qualquer uma de suas primeiras infrações penais comuns (e foram várias). Lira poderia e deveria ter criado a comissão que avaliaria a admissibilidade de algum dos mais de cem pedidos de impeachment. Se tivesse tomado uma estocada lá no começo, duvido que Bolsonaro, que não é famoso por ser uma pessoa muito corajosa, tivesse chegado aonde chegou.

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Meu voto vai para Toffoli, pelo conjunto da obra.

terça-feira, 26 de setembro de 2023

A ministra Anielle, sua assessora e a ‘mordomie’ no voo da FAB, Marcelo Godoy OESP

 Aos 86 anos e com sua saúde debilitada, o papa Francisco deixou o Vaticano no domingo e se dirigiu ao Palazzo Madama, sede do Senado italiano, em Roma. Ali se postou em silêncio e rezou diante do caixão de um ateu e ex-comunista, que expressara a vontade de ter um enterro laico. Era Giorgio Napolitano, o único político a ser eleito duas vezes presidente da Itália.

Francisco é o papa da encíclica Fratelli Tutti (Todos irmãos). Ele afirmou: “Às vezes aqueles que dizem não crer podem viver a vontade de Deus melhor do que os crentes”. A gravidade do momento parecia reconciliar as duas grandes forças políticas que conduziram a Itália no pós-guerra: a Democracia Cristã e o Partido Comunista. Não é preciso saber que nem a racionalidade, nem a sociedade ou as normas e valores podem ter uma existência fora da linguagem para se compreender o alcance do gesto. A importância da autoridade também está no exemplo.

Print publicação Marcelle Decothe assessora Anielle Franco
Print publicação Marcelle Decothe assessora Anielle Franco Foto: Reprodução/Twitter/@amandavetorazz

A República se alimenta deles e das leis. Seus funcionários deveriam desconhecer a vulgaridade e o deboche, facilmente identificáveis por aqueles que comparecem às urnas de dois em dois anos. Quando nem a ameaça de demissão serve de constrangimento para controlar a conduta do agente público, é porque a degradação se tornou normal. Para saber disso, não é necessário conhecer As Regras do Método Sociológico.

O mesmo vale para o comportamento de Marcelle Decothé, a chefe da assessoria especial da ministra Anielle Franco (Igualdade Racial). Torcedora do Flamengo, pegou uma carona em um avião da FAB para ir a um evento do ministério no Morumbi, no dia em que seu time e o São Paulo disputavam a Copa do Brasil. Ali publicou em uma rede social a seguinte mensagem: “Torcida branca que não canta, descendente de europeu safade.” Seria só uma pilhéria tola de uma flamenguista? E, portanto, perda de tempo lembrar que, do outro lado, havia a Tricolor Afro ou o Comando Feminino, agremiações presentes na curva sul do Morumbi? Seria um mero bate-boca de torcidas? Não. Não é só disso que se trata.

Tricolor Afro do São Paulo; assessora de Anielle escreveu em rede social que time tinha 'Torcida branca que não canta'
Tricolor Afro do São Paulo; assessora de Anielle escreveu em rede social que time tinha 'Torcida branca que não canta' Foto: Reprodução
Política

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O problema da assessora que recebe R$ 15 mil dos cofres públicos por mês é o exemplo. As imagens dela e da ministra no conforto do avião e, depois, a caminho do estádio em um carro da PF em meio a postagens com provocações pueris exibem uma postura de quem teria resolvido “curtir a vida” com dinheiro público. O dicionário de linguagem não binária da dupla acaba de ganhar um novo vocábulo: mordomie. O MPF e o TCU poderiam ensinar-lhes que a probidade administrativa é um dever de todes.

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Em tempo: só agora se soube que Napolitano não torcia pelo Napoli, mas para a Lazio.