Uma liminar da Justiça de São Paulo suspendeu o projeto de construção de um prédio residencial da Pouliche Empreendimentos Imobiliários, do grupo Even, na área do bairro da Pompeia, zona oeste da capital, perto da obra da Linha 6-Laranja, do Metrô, vizinho da futura Estação Sesc Pompeia.
A decisão judicial, da 5.ª Vara da Fazenda Pública , atende pedido da Linha Uni, concessionária responsável pela obra do Metrô, para suspender a construção do residencial, lançado em dezembro pela construtora, por suspeita de interferência das fundações do edifício no traçado de construção da nova linha.
“Concedo a tutela de urgência para determinar que a ré se abstenha de imediato de dar prosseguimento a quaisquer atividades construtivas relacionadas ao empreendimento Modo Pompeia, diante de sua interferência direta nas obras da Linha 6, até que seus novos projetos estejam aprovados pela Autora e pela STM, sob pena de multa diária de R$ 100.000,00 em caso de descumprimento”, diz a decisão, publicada em 17 de janeiro no Diário da Justiça, referente a processo de dezembro.
A obra do empreendimento, um prédio residencial chamado Modo Pompeia, ainda não foi iniciada, embora o stand de vendas esteja montado no endereço da futura torre, na Rua Venâncio Aires.
Licenças
De acordo com a construtora do empreendimento imobiliário, “a empresa obteve todas as licenças necessárias para a realização e execução do projeto em questão, cuja aprovação se deu em junho de 2021”.
Em nota ao Estadão, a Pouliche informou que foi acionada no fim de 2021 pela concessionária da Linha 6 do Metrô. “E segue em negociação para chegar, o mais breve possível, a uma solução técnica que permita que metrô e projeto possam coexistir”, afirma a construtora no comunicado.
De acordo com a empresa do Metrô, a Linha Uni negocia com a Construtora Even “soluções para viabilizar ambas as construções de forma harmoniosa, uma vez que as fundações do empreendimento imobiliário, da forma originalmente proposta, interferem diretamente nos túneis de via da Linha 6-Laranja.” No dia 1.º, um acidente em obra da Linha 6 causou o desabamento de parte do túnel escavado pelo tatuzão na Marginal do Tietê.
Linha deve atender 600 mil passageiros por dia
15 estações em 15 km. A concessionária Linha Universidade é a responsável pela retomada da Linha 6-Laranja do Metrô de São Paulo, projeto de construção de 15 estações, por 15 km, interligando a Estação São Joaquim à Brasilândia, na zona norte.
O empreendimento é uma parceria público-privada (PPP) com o governo estadual firmada em outubro de 2020, que estabelece um contrato de 24 anos entre a construção e a operação. A Linha 6 atenderá um fluxo previsto de mais de 600 mil pessoas por dia.
Raisa Moura, de 35 anos, começou a dar aulas de yoga online logo no início da pandemia do novo coronavírus, em 2020. Paralelamente, atuava como professora de ensino infantil em uma escola particular em Brasília (DF). Porém, há sete meses, decidiu pedir demissão do emprego e se mudar de vez para Aiuruoca, na Serra da Mantiqueira, no sul de Minas Gerais, para se tornar empreendedora em um terreno comunitário.
“Era um projeto de sonho antigo. Vimos que a pandemia era o momento ideal para sair da cidade, onde me sentia muito mais vulnerável. Avisei aos alunos sobre a mudança e a adesão se manteve”, lembra a professora, que cobra R$ 160 de mensalidade para aulas duas vezes na semana.
No terreno, que pertence à família de um dos moradores, Raisa e amigos produzem xarope de limão, que pode ser usado como suco, refrigerante (ao adicionar água com gás), chá e até no preparo de drinques alcoólicos. São comercializadas cerca de 50 garrafas por mês, cada uma a R$ 15.
O grupo ainda tem como renda a fabricação de brinquedos infantis em madeira. Em paralelo, está construindo chalés para turismo ecológico e produzindo alimentos orgânicos. “Vamos beneficiar os alimentos. Vender o tomate, por exemplo, em forma de molho ou desidratado com a nossa marca, Batuque na Mesa, que já tem até logo. Depois, pretendemos iniciar a produção de velas de cera de abelha”, explica.
A migração de moradores de cidades para as áreas rurais é descrita em estudos como neorruralidade. O fenômeno pós-industrial reúne indivíduos que buscam um novo meio de vida e trabalho que combine bem-estar, cuidados com a natureza e, eventualmente, novas formas de ação coletiva.
Sérgio Schneider, professor de Sociologia do Desenvolvimento Rural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), explica que essa revalorização do rural se dá em um cenário em que a qualidade da vida urbana tem se deteriorado por problemas como poluição e violência. “A insatisfação das pessoas tem motivado o surgimento de novos negócios no campo”, destaca.
Segundo o professor, a pandemia acelerou o movimento ao trazer à tona uma nova visão sobre a saúde pessoal e o consumo de produtos que reforçam a biodiversidade, além de ter popularizado conceitos como trabalho remoto e anywhere office (escritório em qualquer lugar, em tradução livre).
“As nossas finanças, que ainda incluem as atividades profissionais de cada um dos cinco moradores, como as minhas aulas de yoga, são divididas igualmente em conta conjunta, independentemente do valor individual, e utilizadas para os custos gerais, como alimentação, internet e gasolina. O grupo se sustenta junto”, salienta Raisa, que sempre trabalhou com carteira assinada e chegou a ficar desempregada no início da pandemia.
Entre os desafios da nova vida como empreendedora, ela destaca a dificuldade para divulgar o trabalho, por exemplo, nas redes sociais, seja para prospectar novos alunos ou vender produtos. “Passei um perrengue em 2020 ao ficar desempregada e sozinha. É uma segurança estar em grupo. Sem contar que aqui a qualidade de vida é muito maior e o dinheiro gasto é menor. Estou agora falando com você e olhando para três cachoeiras”, celebra.
Desde março de 2020, o Sebrae, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), realiza pesquisas para mensurar o impacto da pandemia nos pequenos negócios. “Estamos na 13ª edição e chegamos a entrevistar cerca de 10 mil empreendedores no Brasil em uma única sondagem. Percebemos que o agronegócio é um dos setores que menos foi afetado”, explica Eduardo Santiago, gerente adjunto de Competitividade do Sebrae.
Segundo a última versão do estudo, publicado em novembro, os empreendedores do agro disseram que o faturamento caiu 11% se comparado com o período anterior à atual crise, sendo que a média de todos os setores é de 30%.
De acordo com Santiago, dados do Instituto Cepea, ligado à Universidade de São Paulo (USP), mostram ainda que no terceiro trimestre de 2021 havia cerca de 19 milhões de pessoas atuando no agronegócio no Brasil. “O número representa um avanço de 10% com relação ao mesmo período do ano anterior e 3,6% equivalente ao segundo trimestre do ano passado, o que reforça como o setor vem crescendo”, destaca.
Desenvolvimento sustentável da Amazônia
Esse crescimento é percebido pelo engenheiro agrônomo Ramom Morato, de 36 anos. “Tenho observado um movimento de pessoas procurando trabalhar com a agrofloresta, em busca de uma vida mais rural. É uma tendência e estamos sendo demandados para isso.”
Ele e o engenheiro florestal Eric Brosler, de 34 anos, são de cidades do interior de São Paulo e hoje vivem em um sítio em Maués, interior do Amazonas. Com a pandemia, ambos saíram das instituições em que atuavam para fundar a Bio Territórios Agroflorestais, que presta serviços de consultoria em sistemas agroflorestais e tecnologias sustentáveis.
“Decidimos cair de cabeça junto a algumas associações para fortalecer a cadeia do guaraná, que é muito tradicional por aqui. Troquei o salário estável para fazer aquilo em que acredito”, diz Ramom, que também é produtor de vídeos e mostra a realidade dos povos da Amazônia na internet.
Hoje, os amigos trabalham em conjunto com famílias de comunidades ribeirinhas e indígenas, auxiliando tecnicamente na promoção da agricultura sustentável, que leva em consideração não só o aspecto ambiental, como também o econômico e social.
Paralelamente, têm um sítio com três hectares de sistema agroflorestal plantado, com diversas culturas locais, e estão fundando o Epicentro Agroflorestal da Amazônia. A ideia é usar o espaço como renda extra para a formação de pessoas, intercâmbio entre pesquisadores e interessados na vivência da floresta.
Uma das associações que a Bio Territórios presta serviços é a Associação Comunitária Agrícola do Rio Urupadi (Ascampa), considerada a maior produtora de guaraná de Maués, composta por cerca de 50 famílias. A parceria deu origem ao Guaraná Agroflorestal Orgânico da Amazônia, um produto em pó orgânico que é vendido para todo o Brasil.
Negócios além da agricultura
Movimentos migratórios têm sido cada vez mais observados por especialistas que atuam em áreas rurais. Segundo Ivan André Alvarez, pesquisador da Embrapa Territorial, os brasileiros estão enxergando oportunidades de negócios no campo para além da agricultura, em áreas como turismo rural, ecoturismo, gastronomia, saúde e serviços ambientais. Muitos, inclusive, costumam diversificar a renda com mais de um empreendimento.
Embora ainda não existam estatísticas sobre esse tipo de êxodo urbano, a tendência, que cresceu na pandemia com a procura por mais qualidade de vida, ocorre em diferentes regiões do Brasil e é mais frequente em áreas conhecidas como periurbanas, próximas aos centros urbanos. Um exemplo, de acordo com o pesquisador, é o Circuito das Frutas, região composta por dez municípios de São Paulo, como Atibaia, Jundiaí e Vinhedo, que abarca atividades e atrativos turísticos vinculados à produção agrícola.
“As tecnologias, como a internet, também têm contribuído para que mais pessoas migrem para o campo, ao encurtar distâncias, reduzir a necessidade de muita mão de obra e aumentar o leque de oportunidades de negócios”, explica.
Foi o que observou Augusto Pinto, de 59 anos, ao colocar para locação no site AirBnb um contêiner subutilizado de seu sítio, construído inicialmente para receber familiares, seguindo a tendência do glamping, espécie de camping com glamour que emergiu no País. A iniciativa fez tanto sucesso que as reservas para os finais de semanas já estão fechadas até abril deste ano.
A ideia do negócio surgiu em parceria com a esposa Denise Delalamo, mas somente Augusto saiu da capital paulista para morar em Gonçalves, no interior de Minas Gerais, onde a propriedade está localizada. O chef de cozinha trocou a vida na cidade pelo campo em janeiro do ano passado e, hoje, colhe os frutos de um negócio lucrativo e de uma vida mais tranquila, próxima à natureza.
“Com a pandemia, observamos que as pessoas estavam procurando lugares para se distanciar e trabalhar. O espaço passou a ter uma necessidade de gestão, com limpeza, organização e receptivo. Foi aí que vi a oportunidade de me mudar”, lembra ele, que não tem funcionários e ainda atua como personal chef no local, além de produzir alimentos orgânicos para consumo próprio. “O hóspede me vê colhendo o limão-siciliano na árvore para fazer o tempero do peixe, o que gera também uma experiência cultural, além de gastrônomica”, complementa.
Para a construção do contêiner, o casal investiu cerca de R$ 150 mil. As diárias custam R$ 650 e o serviço de personal chef gira em torno de R$ 150 por pessoa. Ao todo, os empreendimentos rendem um faturamento mensal de cerca de R$ 20 mil.
De acordo com o empreendedor, que viu o restaurante em que era contratado fechar no início da pandemia, está valendo a pena. “É diferente trabalhar para os outros e ser o dono do negócio. Toda a responsabilidade é sua, ou seja, relações com clientes, órgãos públicos e fornecedores. Mas é uma opção de vida. Para uma pessoa da minha idade, com as minhas necessidades, é quase uma aposentadoria. É menos do que retirava antes, mas é mais do que preciso para viver.”
Iniciativas fortalecem pequeno produtor
Raimunda da Costa Silva, de 56 anos, saiu de Jundiaí, no município de São Paulo, para empreender em um terreno ocioso da família localizado em Estiva, Sul de Minas Gerais. “Trabalhei por 33 anos com merenda escolar. Depois que me aposentei, comecei a vender artesanato, mas, com a pandemia, as feiras fecharam. Sempre gostei de roça”, conta ela, que começou a plantar orgânicos em 2020 para complementar a renda.
Ao todo, a agricultora já investiu cerca de R$ 12 mil e iniciou as vendas no ano passado. “Foi difícil demais, porque tudo é muito caro. Tive que contratar mão de obra para mexer na terra, sem contar que o plantio é demorado. Mas se trabalhar com culturas diferentes, sempre tem produtos. Ainda não obtive retorno total do investimento, mas estou no caminho”, diz.
Entre os alimentos, há frutas, como pêssego e pitaya, legumes e verduras. A comercialização é feita no boca a boca e em redes sociais, por meio de grupos de Facebook, por exemplo. Hoje, ela mantém uma lista de clientes no Whatsapp, por onde envia as novidades e recebe encomendas, as quais entrega pessoalmente, em cidades como Jundiaí e a capital paulista, maior desafio do seu negócio.
Paralelamente, com apoio da Emater-MG (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural), Raimunda fechou parceria com uma escola local para fornecer produtos para a merenda, como alface, pêssego, tomate e beterraba, por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), iniciativa do governo federal para promover o desenvolvimento rural e a segurança alimentar.
Somando pedidos avulsos e a parceria com a escola, a agricultora chega a faturar cerca de R$ 3 mil ao mês, dinheiro com o qual consegue se manter mesmo sem a aposentadoria, uma vez que trabalha sozinha e só conta com apoio de um funcionário quando necessário.
Na visão da empreendedora, que está preparando a terra para expandir parcerias com outras escolas, ainda faltam incentivos por parte dos governos para levar os produtos aos grandes mercados locais. Outra dificuldade é o próprio gerenciamento do negócio. “Não tenho contabilidade, preciso aprender de tudo. Mas estou muito feliz e fazendo o que gosto. As pessoas falam que roça não dá dinheiro, mas dá sim, porque ninguém fica sem alimento”, afirma.
Para fortalecer o empreendedorismo no campo, o Sebrae atua diretamente junto aos produtores rurais por meio de iniciativas diversas, como o Empretec Rural, uma vertente do já conhecido Empretec, e o Agente Local de Inovação (ALI). Ano passado, a entidade levou o ALI Rural para sete estados, com o intuito de estimular a adoção de medidas de inovação, seja no planejamento do negócio, na adoção de novos canais de comercialização e de ferramentas digitais.
“Fazemos articulações junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e ao próprio Congresso para tentar acabar com entraves burocráticos e facilitar a regularização e a comercialização de produtos. Outro desafio é a digitalização dos negócios, como a aproximação com marketplaces, e até mesmo problemas de conexão em alguns territórios. Temos reparado certa evolução, como o surgimento de AgriTechs (startups focadas no cenário agrícola). O meio rural está repleto de inovação”, finaliza o especialista do Sebrae.
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Nada brilha mais do que o sol no futuro desenhado para a expansão dosetor elétrico. A geração de energia por meio depainéis fotovoltaicos, uma tecnologia que até pouco tempo atrás figurava como tema excêntrico em rodas de conversa sobre a matriz elétrica, deixou para trás todas as demais fontes e assumiu a ponta no leilão que o governo vai realizar daqui a três meses para expandir o parque nacional.
O Estadão fez um levantamento sobre cada um dos novos projetos de geração de energia cadastrados no leilão marcado para maio, quando serão contratados os empreendimentos que devem entrar em operação daqui a quatro anos, daí o nome “Leilão A-4”. Trata-se de um dos principais leilões do setor elétrico, porque é voltado a projetos de grande porte e que precisam de mais prazo para construção. Os dados apontam que, entre centenas de projetos de hidrelétricas, plantas térmicas e parques eólicos, nada bate as usinas solares.
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Ao todo, 1.894 projetos de geração de energia de todas as fontes se cadastraram junto à Empresa de Pesquisa Energética (EPE), órgão que realiza o leilão para escolher os empreendimentos que vão entregar energia para todas as distribuidoras do País. Desse total, nada menos que 1.263 projetos (67%) são de geração fotovoltaica. A predominância é a mesma quando verificada a potência de energia. Dos 75.250 mil megawatts (MW) previstos por todos os projetos, 52 mil MW – 70% da potência cadastrada para o leilão – têm origem nos painéis solares.
Protagonismo
Para se ter uma ideia de o que isso significa, seria o mesmo que construir quase cinco hidrelétricas de Belo Monte, que é hoje o maior empreendimento nacional de geração de energia. A se basear pelo histórico da EPE, cerca de 80% desses projetos cadastrados recebem sinal verde para participar do leilão, por cumprir todos os requisitos técnicos do processo de habilitação. Se as distribuidoras apresentam boa demanda por energia nova, portanto, tudo indica que as usinas solares podem ser protagonistas da disputa.
Entre os investidores que apresentaram projetos e se preparam para erguer parques solares está a Lightsource BP, uma das maiores companhias do mundo nesse setor. A empresa de origem inglesa, que tem a British Petroleum como sócia, está no Brasil desde 2019. Ricardo Barros de Vasconcelos Lima, diretor-geral da Lightsource BP no Brasil, diz que a companhia já iniciou a construção de um parque solar no Ceará, com 210 megawatts de potência, mas que planeja multiplicar por dez essa geração até 2025.
“Conseguimos uma linha de financiamento de US$ 1,8 bilhão em Londres para investir nas operações em todo o mundo. O que posso te dizer é que estaremos no leilão, com toda a certeza, mas também com prudência. Vamos ver qual será o volume de energia demandado pelas distribuidoras”, disse.
Impulso
Três fatores ajudam a entender por que a energia solar deixou de ser um experimento elétrico para entrar na base do abastecimento nacional. O primeiro é o custo da energia. Em uma década, o valor da geração solar despencou e hoje rivaliza entre as mais baratas do País, chegando até a desbancar, em alguns momentos, as eólicas e as hidrelétricas. Se em 2013 o custo do megawatt-hora da energia solar era de US$ 103, este preço caiu para US$ 31 em 2021.
O segundo fator diz respeito ao avanço da tecnologia. Hoje, um parque solar é montado com metade do investimento que seria exigido cinco anos atrás para ocupar uma mesma área, enquanto a eficiência dos novos equipamentos cresceu e hoje entrega 30% mais energia, em média, do que as estruturas que se tinham há cinco anos. O tempo de instalação também é bastante reduzido em relação a um projeto hidrelétrico, por exemplo, com usinas em operação entre um ano e meio a dois anos.
Um terceiro aspecto que favorece a expansão nacional é a incidência de sol no País, presente com forte intensidade em grande parte do território nacional e de forma constante. “Não há surpresa para nós nesses movimentos. Vemos a oferta de projetos solares como uma resposta à demanda cada vez maior do setor”, diz Marcio Trannin, vice-presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). “As eólicas são renováveis, mas o sol consegue ser ainda mais democrático que o vento. Os projetos eólicos ocorrem em áreas específicas, enquanto a fonte solar tem uma capacidade de capilaridade muito maior.”
Mesmo assim, para dar mais segurança ao setor elétrico e diversificar a matriz energética, o governo anunciou na semana passada a retomada das obras da usina nuclear Angra 3 pela estatal Eletronuclear no litoral do Rio de Janeiro.
As obras serão tocadas por um consórcio formado pelas empresas Ferreira Guedes, Matricial e ADtranz, grupo vencedor da licitação para contratar os serviços do chamado “Plano de Aceleração do Caminho Crítico” da usina. Hoje só há duas unidades nucleares em operação no País, Angra 1 e 2.
Os militares defendem que o investimento em energia nuclear deve ser feito pelo País, por, entre outros fatores, ser uma fonte que entrega o volume total de energia que suas turbinas podem gerar no momento em que o setor elétrico quiser, diferentemente de outras fontes “intermitentes” – como hidrelétricas, eólicas e solar, que dependem das condições climáticas de chuva, vento e sol para proverem energia, sobre as quais não se tem controle total.
Hoje há, basicamente, três grandes mercados de energia onde os painéis solares se espalham. Ambiente residencial e de pequenas empresas, seu uso é feito de maneira direta pelo empreendedor, que busca uma forma de gerar sua própria energia e, assim, reduzir seus custos com eletricidade. É o chamado mercado distribuído. Outro segmento explorado pelas usinas solares é a venda da geração para as distribuidoras de energia, setor conhecido como “mercado regulado”, que realizará o leilão em maio.
Um terceiro mercado, porém, deve concentrar boa parte dos projetos nos próximos anos. Trata-se do chamado “mercado livre”, onde grandes indústrias – como os setores eletrointensivos, siderúrgicas e cimenteiras, por exemplo – compram a energia diretamente de seus geradores, em contratos diretos e de longo prazo, sem passar pelas distribuidoras.
“Com certeza há muita demanda pelas distribuidoras, e o setor estará presente, como é possível ver neste leilão, mas a consolidação da energia fotovoltaica deverá se dar, mesmo, com forte entrada pelo mercado livre”, diz Marcio Trannin.
Hoje, a geração fotovoltaica reúne 7.157 empreendimentos em operação em todo o País, com uma potência total de 4.735 megawatts. É pouco se considerada a fatia do sol na matriz elétrica, de 2,60% da potência nacional, mas a tendência é de que essa participação avance a passos largos nos próximos anos, a exemplo do que ocorreu com as usinas eólicas. Há uma década, os cataventos estavam no mesmo patamar em que se encontram hoje as usinas solares. Hoje, eles respondem por mais de 11% da geração do País e, em épocas de ventania, já representam mais de 20% do abastecimento diário.