quinta-feira, 5 de agosto de 2021

‘Vamos ficar quietos assistindo a isso?’, diz Fábio Barbosa sobre ataque de Bolsonaro às eleições, OESP

 Pedro Venceslau, O Estado de S.Paulo

05 de agosto de 2021 | 16h34
Atualizado 05 de agosto de 2021 | 18h27

Um dos signatários do manifesto assinado por empresários e intelectuais em apoio ao sistema eleitoral, o ex-presidente do Santander e da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) Fábio Barbosa afirmou ao Estadão que o texto representa uma mudança de postura do meio empresarial, que não havia se manifestado até agora.

“Muitos setores têm se manifestado. A gente entendeu que esse mundo empresarial não havia se manifestado. Nosso ponto de vista é que o sistema é confiável e não há razão para duvidar da legitimidade das eleições que aconteceram. Vamos ficar quietos assistindo a isso aqui ou vamos participar e colocar nosso ponto de vista?”, afirmou Barbosa. Até agora o texto conseguiu mais de 6 mil assinaturas, segundo o empresário.

Fabio Barbosa
Fábio Barbosa, ex-presidente do Santander e da Febraban Foto: Denise Andrade

O empresário disse que o movimento começou com um grupo de 30 pessoas ligadas ao Centro de Debate de Políticas Públicas (CDPP) e cresceu em 24 horas. “(O manifesto) tem um impacto por ser uma manifestação de empresários que normalmente não se manifestam e evitam entrar em discussões políticas”, avaliou.

O manifesto foi divulgado na quarta-feira, 4, mesmo dia em que o presidente Jair Bolsonaro passou a ser investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito das fake news, e publicado na edição do Estadão desta quinta-feira, 5. A decisão do ministro Alexandre de Moraes atendeu a um pedido do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A Corte vai apurar a possível prática de 11 crimes pelo presidente.

O texto não cita Bolsonaro, mas é categórico ao dizer que o País “terá eleições e seus resultados serão respeitados” e ao afirmar que “a sociedade brasileira é garantidora da Constituição e não aceitará aventuras autoritárias” – leia abaixo a íntegra e a reprodução do manifesto.

Sobre os desdobramentos do documento, Barbosa que é preciso esperar. “Vamos ver como as coisas vão caminhar. O Congresso está definindo agora se vai votar. O Brasil tem uma série de problemas, e a Justiça Eleitoral não é um deles”, diz. 

Além de Barbosa, entre os signatários estão nomes como Frederico e Luiza Trajano, do Magazine Luiza, Pedro Moreira Salles e Roberto Setubal, do Banco Itaú Unibanco, Carlos Jereissati, do Iguatemi, Pedro Passos e Guilherme Leal, da Natura, e Luis Stuhlberger, gestor do Fundo Verde. Também assinam economistas como Armínio Fraga, Pedro Malan, Ilan Goldfajn, Persio Arida, André Lara Resende, Alexandre Schwartsman e Maria Cristina Pinotti.

Leia a íntegra do manifesto

“O Brasil enfrenta uma crise sanitária, social e econômica de grandes proporções. Milhares de brasileiros perderam suas vidas para a pandemia e milhões perderam seus empregos. 

Apesar do momento difícil, acreditamos no Brasil. Nossos mais de 200 milhões de habitantes têm sonhos, aspirações e capacidades para transformar nossa sociedade e construir um futuro mais próspero e justo. 

Esse futuro só será possível com base na estabilidade democrática. O princípio chave de uma democracia saudável é a realização de eleições e a aceitação de seus resultados por todos os envolvidos. A Justiça Eleitoral brasileira é uma das mais modernas e respeitadas do mundo. Confiamos nela e no atual sistema de votação eletrônico. A sociedade brasileira é garantidora da Constituição e não aceitará aventuras autoritárias.

O Brasil terá eleições e seus resultados serão respeitados.”

Gerdau volta a produzir aço em Mogi das Cruzes nesta semana e diz que aposta no setor automotivo, FSP

 A Gerdau reativou nesta semana a aciaria de Mogi das Cruzes, em São Paulo, que estava parada desde 2019.


A empresa diz que o retorno, que estava previsto para o segundo semestre deste ano, é reflexo do otimismo com a retomada do setor automotivo, especialmente de veículos pesados, e visa atender à demanda crescente pelo insumo na indústria nacional.

Gerdau volta a produzir aço em Mogi das Cruzes nesta semana - Bloomberg News


A usina vai produzir 180 mil toneladas de aço por ano. Foram criados 150 postos de trabalho.

A retomada acontece após um anuncio feito no primeiro semestre de um previsão de investimentos de R$ 1 bilhão para modernizar e ampliar as operações de aço no país, que vão beneficiar também as aciarias de Pindamonhangaba, em São Paulo, e Charqueadas, no Rio Grande do Sul.

com Mariana Grazini Andressa Motter

De filho para mãe, editorial FSP

 Rompimentos e traições, assim como alianças e reaproximações, estão na essência do jogo da política. Não obstante, políticos têm pesadelos com a possibilidade de serem apunhalados pelas costas por correligionários que um dia apoiaram e elevaram a cargos mais altos.

Michel Temer (MDB) não foi fiel à presidente Dilma Rousseff (PT), de quem era vice. João Doria demonstrou pouca gratidão a Geraldo Alckmin, seu padrinho político no PSDB. Exemplos não faltam.

Na utopia dos políticos, eles só trariam para seu entorno pessoas cuja possibilidade de traí-los fosse zero, especialmente em cargos cuja incumbência seja a de substituí-los. No mundo real, é difícil.

Um candidato a presidente, governador ou prefeito precisa convidar para a chapa um vice que traga votos ou, ao menos, reduza resistências, o que invariavelmente resulta num copostulante com uma agenda política diferente da sua —isto é, um potencial traidor.

Existe, contudo, uma espécie de Shangri-La em que se podem indicar para vice apenas pessoas de extrema confiança: o Senado. Como ninguém presta maior atenção a quem são os suplentes dos candidatos a senador, os cabeças de chapa sentem-se livres para chamar quem bem desejarem.

Essa situação ficou escancarada com a ida de Ciro Nogueira (PP-PI) para a Casa Civil. Ocupará sua cadeira no Senado ninguém menos que sua mãe, Eliane Nogueira. Chamar a mãe para suplente constitui provavelmente o que de mais perto existe de um seguro antitraição.

Do ponto de vista do interesse público, contudo, a existência de suplentes de senador não é uma ideia feliz do constituinte. Pode-se argumentar que o problema está em eleitores e imprensa, que não dão o devido destaque a esses cargos, mas o fato é que estamos diante de um déficit democrático.

Pessoas que passam quase escondidas pelo escrutínio do voto são com alguma frequência convocadas a exercer temporária ou definitivamente mandatos na Câmara Alta do Parlamento.

Há meios de enfrentar o problema. Nos menos intervencionistas, apenas se proibiria que cônjuges e parentes se tornassem suplentes.

Numa saída mais radical, o próprio cargo poderia ser extinto —e, havendo impedimento do titular, uma nova eleição seria convocada, definindo-se um substituto temporário. Qualquer que seja o remédio, o caso de Ciro Nogueira demonstra que o tema merece debate.

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