quarta-feira, 12 de junho de 2019

Defensoria Pública e entidades promovem ações contra privatização de presídios, RBA

São Paulo – Já em andamento, a privatização dos presídios em São Paulo deverá entregar cerca de 10 unidades para a iniciativa privada. Em resposta à política do governador João Doria (PSDB), diversas instituições, em conjunto com a Defensoria Pública do Estado, vêm promovendo ações para alertar a população quanto aos riscos desse modelo e atuar judicialmente contra a proposta.
De acordo com as entidades, em nota técnica, entre os serviços delegados às empresas privadas estão a inspeção, o monitoramento interno, o cumprimento de alvará de soltura e a gestão de dados de pessoas presas. O que, de acordo com o defensor público do Núcleo Especializado de Situação Carcerária Leonardo Biagioni de Lima viola a legislação. À repórter Beatriz Drague Ramos, da Rádio Brasil Atual, Lima contesta a proposta de privatização que, segundo ele, vem sendo pautada pelo governador sem qualquer diálogo com a sociedade. “Na verdade, quer passar ao empresariado, com grandes negócios aí, esse lucro a partir do sofrimento humano, aproveitando-se, infelizmente, desse bárbaro encarceramento em massa, tornado para essas pessoas um mercado muito atraente”, contesta o defensor.
O modelo proposto por Doria é de gestão compartilhada, no qual, em um contrato de cinco anos, a empresa atuará na maior parte dos serviços da unidade e uma menor parte será gerida por funcionários do estado. De acordo com a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP), dos 160 trabalhadores previstos para as novas unidades, 12% serão dos quadros da secretaria.
Na visão do advogado da Pastoral Carcerária Lucas Maurício Garcia Pimenta, os recentes massacres ocorridos em presídios privatizados, em Manaus, são um exemplo do fracasso do sistema carcerário e da falência quanto à eficiência ligada à privatização, que atende aos interesses de políticos defensores de projetos de endurecimento penal e que têm suas campanhas financiadas por essas empresas. “O lucro que essas empresas ganham é um lucro sobre a morte, um lucro em cima de cadáveres”, afirma.
Ouça a reportagem:

Mulheres reagem a projeto de Janaína Pascoal que incentiva cesariana, RBA

São Paulo –  Um projeto de lei da deputada estadual Janaína Paschoal (PSL) causa apreensão a movimentos sociais de mulheres e entidades por incentivar, segundo seus críticos, o parto cesariana (PL 435/2019). O texto define que as mulheres poderão optar pelo procedimento cirúrgico independentemente de indicação médica. A proposta em discussão na Assembleia Legislativa de São Paulo pode ser posta em votação em regime de urgência a qualquer momento. O Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP) e o Núcleo de Defesa da Mulher da Defensoria Pública estadual ((Nudem) são contra o projeto.
A lei estadual proposta por Janaína, a pretexto de combater o que já chamou de “ditadura do parto normal”, autoriza o a gestante usuária do Sistema Único de Saúde (SUS) a optar pelo parto cirúrgico a partir da 39ª semana de gestação. O Brasil é o segundo país com maior taxa de cesáreas do mundo.
A principal crítica é a falta de discussão. O PL foi apresentado em março – mês em que a deputada tomou posse no parlamento paulista, e começou a ser discutido na semana passada. Não foi debatido em nenhuma comissão temática, nem foi aberto a audiência pública. Nenhuma organização técnica foi convidada a se manifestar sobre a proposta na Assembleia. Um acordo entre os deputados permitiu que o PL 435 fosse incluído no pacote de projetos de urgência, o que o levaria direto à votação em plenário. A votação sobre regime de urgência é esperada para esta quarta-feira (12).
Janaína diz que sua intenção é defender a vida e a autonomia das mulheres em relação ao que chama de “obsessão” por parto normal. “O parto cesáreo não é uma questão de comodidade, mas a salvaguarda da vida de uma criança pronta para nascer e que cuja mãe, muitas vezes, é mandada de volta para casa até que o parto normal tenha início – em função de uma verdadeira obsessão pelo parto normal – e acaba ocasionando asfixia fetal, levando crianças à morte em uma circunstância grave, triste e desnecessária”, afirmou.
O Coren, no entanto, discorda da proposta. “O PL apresentado está em desacordo com as 56 recomendações emitidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), divulgadas em 2018, que estabelecem padrões de atendimento para reduzir as intervenções desnecessárias no parto. Nas últimas décadas, houve aumento significativo das taxas de cesariana em todo o mundo, sem comprovação de benefícios significativos para a saúde das mulheres e de seus bebês”, diz a entidade.
A defensora pública Paula Sant’Anna Machado de Souza citou estatísticas em que 70% das mulheres iniciam o pré-natal com desejo de ter um parto normal. Mas ao final, mais da metade dos partos ocorre por cesariana. “Será que elas realmente estão tendo opção? O que tem havido nesse tempo, que leva a escolha de um procedimento que contraria as indicações de saúde internacionais?”, questionou.
Em 2018, o Brasil teve aproximadamente 55% dos partos realizados por cesariana. Quando se observa apenas a rede privada, foram quase 85%. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera aceitável uma taxa de até 15% dos partos serem cesarianas. A partir disso, há impacto significativo na ocorrência de mortes maternas. 52% das mortes maternas têm causas associadas ao parto por cesariana. Nós partos normais isso fica em torno de 23%.
“Projetos como esse defendem interesses de planos privados. Não existem dados ou argumentos técnicos que o justifiquem. Essa correria para aprovar parece uma necessidade da base do governo agradar ao PSL, por alguma votação posterior”, avaliou a deputada estadual Beth Sahão (PT). Um grupo de deputadas de vários partidos convocou uma audiência pública para dialogar sobre o tema com representantes de entidades técnicas da área da saúde.
A co-deputada Raquel Marques, da Bancada Ativista (Psol), considera o projeto um retrocesso a toda discussão sobre saúde das mulheres e o parto. “Um projeto que trata da saúde, da vida, dos corpos das mulheres não pode ser aprovado assim, em rito sumaríssimo, sem discussão, sem a participação da sociedade, sem ouvir especialistas. É uma solução simplista para um problema complexo. As mulheres procuram a cesariana porque ela têm, de um lado, um parto extremamente violento, hospitais sucateados, sem estrutura, e de outro elas vêm a cirurgia como uma forma de fugir dessa verdadeira tortura”, explicou.
Para Raquel, a solução apresentada por Janaína é uma falácia que visa apenas a disputa política do lugar de defensora das mulheres. “Discutir autonomia das mulheres não é só garantir o direito à cesariana. Tem que se garantir o direito a escolher o acompanhante, que já é lei e não é cumprido, o direito de pedir analgesia, de ter doula, de decidir se quer ou não episiotomia. Um projeto que realmente defenda a autonomia da mulher deve fazer isso até o fim, podemos avançar muito mais. Dar o direito à cesariana sem discutir o orçamento do Estado, sem compromisso com a melhoria das condições dos hospitais e das equipes médicas, é uma proposta totalmente falaciosa”, afirmou.

Janaína Paschoal vê ‘ditadura do parto normal’ com mulheres pobres, Veja

Deputada estadual eleita com o maior número de votos da história do país, a advogada e professora de direito Janaína Paschoal (PSL-SP) quer que mulheres grávidas possam optar pela cesárea no Sistema Único de Saúde em São Paulo sem indicação médica. Em entrevista ao editor executivo Jerônimo Teixeira no programa Páginas Amarelas, ela argumenta que sua proposta tem o objetivo de dar autonomia à gestante.
“As mulheres que têm convênio e acesso à rede particular, já exercem essa autonomia. As únicas que não exercem são as que dependem da rede pública e estão submissas a uma ditadura do parto normal”, afirmou. Ela conta ter relatos de mulheres que tiveram o pedido pela cesárea negado na hora do parto e que esta opção pode ser mais segura para os bebês.
A deputada também contou estar “apaixonada” pelo trabalho na Assembleia Legislativa de São Paulo. “Tenho a possibilidade de pegar aquelas ideias todas que eu defendia em sala de aula e estou transformando em projetos”, afirma. “É um trabalho eminentemente jurídico de uma beleza incrível. É lindo.”
Com a mesma convicção com que se empolga com o caminho percorrido por um projeto de lei, ela garante ter acertado ao declinar do convite de ser candidata a vice do presidente Jair Bolsonaro (PSL). “A condição de deputada me dá uma liberdade muito grande de manifestação do pensamento.”
Questionada sobre as disputas internas em seu partido, a deputada reputa os episódios à “juventude” do partido, catapultado à maior bancada da Alesp graças aos mais de dois milhões de votos amealhados pela parlamentar em conjunto com a onda bolsonarista das eleições de 2018 — mas espera mudanças para continuar na sigla.
“Não que eu seja superidentificada com o PSL, mas como ele está em formação, tenho esperança de que talvez eu consiga ver uma sigla mais à minha maneira do que é hoje. Vamos aguardar.”