quarta-feira, 5 de junho de 2019

Governo de SP investe R$ 35 milhões para ações ambientais em 36 municípios, Agora Vale

Recursos vão custear projetos de saneamento, criação de parques lineares e iniciativas de educação ambiental


O Governador João Doria e os Secretários de Infraestrutura e Meio Ambiente, Marcos Penido, e de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi, assinaram nesta terça-feira (4/6) 73 contratos com municípios do interior e do litoral paulista para investimentos em ações ambientais. Os recursos provenientes do Fehidro (Fundo Estadual de Recursos Hídricos), no total de R$ 35 milhões, serão distribuídos entre 36 prefeituras e 25 instituições.
"Quero lembrar que amanhã é o Dia Mundial do Meio Ambiente, e estamos aqui tendo uma atitude voltada à proteção e preservação ambiental", declarou o Governador.
Doria ainda lembrou que todos os contratos foram assinados digitalmente. A medida reduz custos financeiros, agiliza processos administrativos e também ajuda a mitigar impactos ambientais. "É uma visão moderna de governar", acrescentou o Governador.
Os empreendimentos foram indicados pelos Comitês de Bacias Hidrográficas e abrangem projetos e obras de saneamento; como controle de perdas nas redes, drenagem, afastamento e tratamento de efluentes; revisão de planos municipais de saneamento básico; canalização de cursos-d'água; criação de parque linear em área urbana; estudos e obras para controle de erosão; projetos de educação ambiental e ainda ações regionais com foco no meio ambiente.
"Investir em saneamento, galerias pluviais, preservação e recuperação dos nossos recursos hídricos é garantir ações sustentáveis que propiciam qualidade de vida à população", disse Penido.
"Iniciativas em prol do meio ambiente são sempre bem-vindas para manter em boas condições a água que consumimos e o ar que respiramos. Esta é uma prioridade do Governo do Estado", completou Vinholi.
Recursos do Fehidro
Para acessar o apoio financeiro do Fehidro, os interessados devem elaborar um projeto compatível com os programas e as prioridades dos planos de recursos hídricos, além de receber indicação dos Comitês de Bacias Hidrográficas e aprovação técnica dos Agentes Técnicos do Fehidro. No total, foram firmados 54 contratos com instituições municipais, 12 com sociedade civil e 2 com instituições estaduais. Mais informações estão disponíveis em: http://fehidro.sigrh.sp.gov.br/fehidro/index.html.

terça-feira, 4 de junho de 2019

Governo pode aprovar hoje venda direta de etanol das usinas aos postos, NovaCana.com

O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), formado por ministros de Estado, se reúne nesta terça-feira para avaliar a possibilidade de autorizar a venda direta de etanol pelos produtores para os postos de combustíveis, entre outras medidas relacionadas ao setor. Essa autorização, que elimina a obrigatoriedade dos distribuidores na cadeia do etanol, faz parte de um plano do governo federal para aumentar a concorrência na área de combustíveis e, dessa forma, reduzir os preços ao consumidor final.
No mês passado, o CNPE já deu aval ao plano da Petrobras de vender oito de suas refinarias como forma de acabar com o monopólio da estatal no setor. O presidente Jair Bolsonaro já defendeu a venda direta de etanol aos postos.
Os preços dos combustíveis são formados por três parcelas principais: o preço da commodity (álcool ou petróleo), o repasse de impostos e as margens de lucro de distribuidores e revendedores. Segundo uma fonte técnica do setor, é nas duas últimas parcelas que o governo tenta atuar para reduzir o impacto no bolso do motorista diante das bombas.
“As regras que tratam da distribuição e da revenda são muito engessadas no país, e isso diminui a competição e cria reserva de mercado”, destacou a fonte, acrescentando que há grande chance de o CNPE adotar a venda direta de etanol para postos.
Atualmente, as usinas produtoras de etanol só podem vender o combustível para distribuidoras. A venda direta foi sugerida no ano passado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) como uma das formas de aumentar a competição e reduzir os preços nos postos. O assunto também está em discussão na Câmara dos Deputados.
Se a venda direta for autorizada, as usinas poderão passar a negociar diretamente com postos de bandeira branca, ou seja, sem contratos com distribuidoras. Mas a ideia do governo é deixar que as limitações passem a ser definidas entre postos e distribuidoras, sem interferência do governo.
A Agência Nacional do petróleo (ANP) é favorável e já publicou nota técnica defendendo a medida. O diretor-geral do órgão, Décio Oddone, lembra que a ANP já promoveu diversas audiências e públicas e tomadas de contribuições sobre o tema. Se essa medida foi aprovada, será necessário alterar regras tributárias, já que atualmente as distribuidoras é que arrecadam a maior parte dos impostos que incidem sobre os combustíveis. Os representantes das distribuidoras dizem que essa mudança pode prejudicar a arrecadação de impostos como ICMS.
Já para Oddone, a medida vai ajudar a melhorar a arrecadação. Segundo ele, muitas distribuidoras conseguem liminares na Justiça para não pagar impostos que arrecadam. Há casos de falência sem quitação de dívidas tributárias. Para o executivo, postos e usinas têm ativos que podem ser usados para eventuais coberturas de prejuízos tributários.
“Estamos permanentemente discutindo o assunto. Refuto as alegações de que não há diálogo com o setor (de distribuição). Agora, não necessariamente a ANP vai acatar todas as opiniões de todos os agentes. A ANP se preocupa com o interesse do consumidor, da sociedade e da economia brasileira, e não só com a posição dos agentes”, diz Oddone.
Ramona Ordoñez

segunda-feira, 3 de junho de 2019

O cinema na sala 14 DE SETEMBRO DE 2017 | KLEBER MENDONÇA FILHO

Este é um momento e tanto para acompanhar a abertura de uma nova sala de cinema. Em 2017, o mercado está nervoso, num crescendo. Depois do medo da TV e do home video em décadas passadas, surgem novas dúvidas sobre os hábitos do público com a internet, que agora tem no Netflix uma sombra na tela grande. Ainda assim, salas de cinema continuam sendo inauguradas.
Os americanos reclamam do pior verão em 20 anos nas bilheterias. Ações na bolsa de empresas exibidoras caíram muito nos últimos meses, e há rumores de que estúdios irão partir para o chamado Premium Video on Demand, ou Premium VOD, ideia que vem sendo estudada já há anos. A ideia é oferecer lançamentos simultâneos em casa, 17 ou 30 dias depois dos cinemas, com “preços premium”.
Isso diminui (ou extingue) a exclusividade das salas nos lançamentos. Hoje, leva em média três meses para que filmes sejam vistos fora dos cinemas. O mercado sempre a postos para “matar ou morrer” parece também pronto para correr atrás do próprio rabo e comê-lo. O mercado. Enquanto isso, Game of Thrones e Twin Peaks The Return têm tido o tipo de atenção na mídia cultural que muitos filmes de cinema não têm.
Ano passado, visitei o Metrograph, novo espaço em Nova York, com salas de rua que misturam filmes com um restaurante, modelo de negócio nos EUA e Europa. A ida ao cinema com comida no mesmo espaço. A combinação pode soar deslocada no Brasil, onde o cinema migrou da rua quase exclusivamente para o shopping, e onde a praça de alimentação já é uma instituição nacional ha décadas.
Na mudança da rua para o shopping, a ideia de “cinema popular” parece ter ficado pelo caminho, tendo sido retomada e reconfigurada nos últimos anos com a renovação do parque exibidor (e das classes C e D). Essa reconfiguração social/urbana do cinema nos últimos 30-40 anos, totalmente tramada pelo mercado, ainda aguarda um estudo de impacto nas nossas cidades.
Marc Ferrez, c. 1919. Cinema Pathé. Rio de Janeiro, RJ (Coleção Gilberto Ferrez/Acervo IMS)

E os multiplex, aqui e no mundo, parecem tensos em 2017. Estão oferecendo uma quantidade notável de mimos, e por eles cobrando “preços premium”. Com o 3D já dando sinais de exaustão, agora temos poltronas que chacoalham o espectador com ventinho e aguinha no rosto – em 4D. Há salas XD, 4K, Imax Digital. Tem o Dolby Atmos, com som que sai do teto e cinemas com garçons servindo espumante em clima de classe executiva em avião. Espera-se que os novos Avatar, de James Cameron, lancem tecnologia 3D sem óculos, por um “preço premium”.
A ironia este ano é que o destaque de tecnologia em exibição cinematográfica (com “preços premium”) não veio de equipamentos digitais, mas de rolos de película Kodak que o mercado havia declarado mortos. Dunkirk, de Christopher Nolan, teve rendas grandes nas salas onde foi apresentado em Imax 70mm e Super Panavision 70mm, formatos analógicos que salas brasileiras não projetam mais. Nosso país teve uma longa e burocrática transição digital e, no processo, abandonou seu parque analógico. Como o disco de vinil, a projeção em “filme” pode ainda render dinheiro num nicho bom.
Enquanto isso, na Coreia do Sul, a Samsung apresentou em abril a primeira tela de cinema que é uma TV gigante, sem projetor. Curioso, pois o consumidor já tem o mesmo tipo de coisa em casa.
Ao borrar os limites da “qualidade técnica”, do “conteúdo” e da “acessibilidade”, a discussão em torno do Netflix torna-se interessante, e misteriosa. Com 104 milhões de assinantes no mundo (e crescendo), seis bilhões de dólares para gastar anualmente e a ”certeza” de que seu algoritmo de buscas “sabe o que o consumidor quer ver” (segundo o vice-presidente de produtos da Netflix, Todd Yellin), o serviço de streaming transformou-se numa presença na cultura.
Nas semanas de estreias nos cinemas de filmes recentes como o americano Corra!, de Jordan Peele, ou Como nossos pais, de Laís Bodansky, pessoas perguntavam naturalmente se os filmes já estavam no Netflix. Ainda não. Até uns três anos atrás, a pergunta mais comum era “Já tem pra baixar?” Isso é incrível.
Agora, toda essa conversa de mercado, o que ela significa para um pequeno cinema que abre as portas hoje? Talvez signifique entender este mercado para ter a liberdade de tentar outras coisas. Observar o trabalho realizado ha anos por salas no entorno, por exemplo, só aumenta a responsabilidade das escolhas da curadoria e da programação. Todas as salas integram um circuito de cultura já bastante diverso. A incerteza (mais do que a certeza) de não saber “o que o público quer ver” deve fazer parte mais ou menos sempre, um processo de aprendizado constante.
Pode também significar que esta sala seja um abrigo para filmes pequenos e grandes, e talvez discutir se de fato são pequenos, ou se são filmes grandes, do passado ou contemporâneos, de curta ou longa metragem. A sala de cinema pode ser um arquivo constante e vivo, projetado em filme película e em digital moderno, e onde os laços do cinema com outras formas de expressão seja uma conexão firme. E que tudo isso seja feito com a melhor apresentação técnica de som e imagem, sempre.
Finalmente, para cada nova ação criada para revender o produto “sala de cinema”, é bom lembrar que ela mantém-se viva desde 1895 por detalhes analógicos que não são mais muito discutidos: as poltronas em fileiras são viradas para uma tela, o ambiente é escuro e o espaço coletivo é de interação, mas também de individualidade respeitada. A sala como centro de imagem e ideias tem papel importante num momento de pessimismo social e politico. E é nesse espaço que o diálogo e o debate devem ser estimulados, a liberdade de expressar-se com imagem e palavra como elemento de cidadania.
(Texto originalmente publicado no jornal Folha de S. Paulo em 14 de setembro de 2017)

  • Kleber Mendonça Filho é cineasta e coordenador de cinema do IMS.