quarta-feira, 15 de maio de 2019

Governo quer mais recursos do FGTS para fechar conta do Minha Casa Minha Vida, FSP

Sem dinheiro, gestão Bolsonaro estuda reduzir participação no subsídio de 10% para 3%

O presidente após reunião na sede do ministério da Economia, em Brasília - Pedro Ladeira - 6.mai.2019/Folhapress
BRASÍLIA e SÃO PAULO
Sem dinheiro para manter o Minha Casa Minha Vida, o governo estuda reduzir de 10% para 3% sua participação no subsídio das faixas mais elevadas do programa federal.
Recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) seriam usados para repor a diferença.
A diminuição da participação governamental seria uma forma de destravar o programa e permitir novas contratações.
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No fim de abril, o ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto, anunciou que o governo só teria recursos até junho para o Minha Casa Minha Vida.
Segundo o SindusCon-SP (sindicato da indústria da construção), a intenção foi confirmada pelo secretário da Habitação Nacional, Celso Matsuda, em reunião com dirigentes do sindicato na quinta-feira (9).
A redução da participação se daria nas faixas 1,5 e 2 do Minha Casa Minha Vida.
Pelas regras em vigor, os subsídios vão até R$ 47,5 mil nos imóveis na faixa 1,5, para famílias com renda até R$ 2.600, e até R$ 29 mil na faixa 2, para as que têm renda até R$ 4.000.
Na faixa 3, famílias com renda até R$ 9.000 contam com taxas de juros menores que as praticadas em financiamentos com recursos da poupança, o chamado SBPE, e pelo mercado imobiliário.
Os subsídios nas faixas 1,5 e 2 vêm do orçamento do FGTS (90%) e do Tesouro Nacional (10%). É a fatia do Tesouro que seria reduzida de 10% para 3%.
O objetivo é que a diminuição da fatia ajude a ampliar o número de contratações: com menos necessidade de aporte do governo, mais famílias poderiam ser atendidas no Minha Casa Minha Vida.
Segundo Ronaldo Cury, vice-presidente de habitação do SindusCon-SP, o governo tenta destravar o programa.
Ele afirma que os 7% restantes devem ser cobertos com dinheiro do lucro do FGTS, cuja metade é distribuída proporcionalmente aos trabalhadores desde 2018.
Em 2017, último dado disponível, o lucro do fundo totalizou R$ 12,5 bilhões.
Na prática, o fundo passaria a bancar 97% dos subsídios das faixas em que atua.
A medida precisa do aval do conselho curador do fundo, que teria sinalizado que concorda com a liberação dos recursos adicionais, segundo fontes ouvidas pela Folha.
Para 2019, a dotação orçamentária para o programa seria de R$ 4,6 bilhões.
A ideia, de acordo com Cury, é que a redução de participação do governo seja temporária, até dezembro. Porém, uma volta ao patamar anterior dependeria de uma melhora da arrecadação.
“Fomos falar com o pessoal do FGTS. Neste ano, não prejudica as contas. Vai comer caixa do fundo nos próximos anos. Lá na frente, se a economia não se recuperar, vai ter menos dinheiro para financiar imóveis. Se a economia se recuperar, o fundo volta a ser irrigado”, afirma Cury.
Rodrigo Luna, vice-presidente de Habitação Econômica do Secovi-SP (sindicato do mercado imobiliário do estado de São Paulo), diz que a medida é necessária no momento para não travar um programa que se mostrou resiliente mesmo durante a crise.
Dados da entidade apontam que metade das unidades lançadas na capital paulista em 2018 pertencia ao Minha Casa Minha Vida.
Ele ressalta, porém, que o dinheiro do FGTS é limitado.
“Precisamos ter muita responsabilidade sobre a forma de utilização desses recursos, porque não podemos exaurir o fundo, que é o grande patrocinador do programa”, diz Luna.
“Para salvar 2019 e não haver interrupção, entendemos que é uma solução inteligente e satisfatória. Com a reforma da Previdência aprovada e a União reequilibrando suas contas, é preciso, sim, que o governo volte a fazer mais parte do Minha Casa Minha Vida”, afirma.
Como 90% do valor do imóvel na faixa 1 é bancado pelo OGU (Orçamento-Geral da União), ela vem sendo a mais penalizada pelos sucessivos contingenciamentos que o governo tem imposto aos ministérios no início deste ano.
Para Cury, “ajuda a situação da faixa 1, mas não resolve para honrar as obras já contratadas”.
Luiz Antonio França, presidente da Abrainc (associação das incorporadoras), diz que a medida é importante porque “garante que o programa comece a rodar sem problemas e com previsibilidade até o fim do ano”.
A redução da participação do governo não é vista com bons olhos por todos do setor.
Para o presidente da Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), José Carlos Martins, a redução é “totalmente despropositada”.
“Eu não acredito que alguém tenha coragem de fazer uma coisa dessas. É um absurdo o governo entrar só com 10% e jogar 90% para o FGTS. É melhor colocar 100% de subsídio do fundo de garantia”, criticou.
“Já foi 25%, caiu para 17%, caiu para 3%. O governo que diga que não está fazendo Minha Casa Minha Vida e tire a placa dele da obra.”
Martins diz manter diálogo com Matsuda, que participará, na sexta-feira (17), do encontro nacional da construção, no Rio de Janeiro.
“Eu tenho falado diariamente com o secretário. Em momento algum ele falou isso para mim. Deve ter sido ato falho, a gente não acredita.”
No evento do SindusCon-SP, Matsuda teria dito ainda que o governo deve apresentar uma medida provisória em 8 de julho com uma revisão do programa.
Entre as possibilidades em estudo, segundo Matsuda, estão PPPs (Parcerias Público-Privadas) para a faixa 1 e a construção de moradias para aluguel social.
Sem dar detalhes, o secretário disse que faixas, metas e valores sofreriam alterações e que o programa mudaria de nome, de acordo com o sindicato.
Em nota, o Ministério do Desenvolvimento Regional afirmou que a redução da participação do governo no subsídio está em avaliação.
“Equipes técnicas da pasta e do Ministério da Economia estão debruçadas em estudos e analisando os impactos da mudança”, afirma a pasta.

terça-feira, 14 de maio de 2019

STJ libera gata que havia sido proibida em condomínio, FSP

Redação
14 de maio de 2019 | 13h50

Foto ilustrativa: Walcyr Mattoso/FreeImages
Por unanimidade, a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça decidiu que, desde que não representem risco à incolumidade e à tranquilidade dos moradores, animais de estimação não podem ser proibidos em condomínios.
Os ministros acolheram recurso de uma moradora de Samambaia, cidade satélite de Brasília, que havia sido proibida de manter sua gata de estimação. Ela é enfermeira, e entrou com a ação na Justiça em 2016.
Segundo consta nos autos, a autora da ação teve o pedido negado em primeiro e segundo grau.
Para o relator, ministro Villas Bôas Cueva, a restrição é ilegítima, visto que condomínio não demonstrou nenhum fato concreto apto a comprovar que o animal (gato) provoque prejuízos à segurança, à higiene, à saúde e ao sossego dos demais moradores.

Avião que caiu com Roger Agnelli não podia fazer voo privado, OESP


Sete pessoas morreram no acidente, em 2016; aeronave também não tinha permissão para sobrevoar 'áreas densamente povoadas'

Priscila Mengue, O Estado de S.Paulo
14 de maio de 2019 | 12h48
SÃO PAULO - Mais de três anos após o acidente, um relatório aponta que o avião que transportava o empresário e ex-presidente da Vale Roger Agnelli não tinha autorização para utilizar o aeroporto do Campo de Marte, na cidade de São Paulo. A aeronave caiu em março de 2016, deixando sete mortos, dentre passageiros e o piloto.
Avião caiu sobre uma residência em março de 2016
Avião caiu sobre uma residência em março de 2016 Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Segundo relatório do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), o avião não poderia circular em "áreas densamente povoadas". "Dessa forma, o pouso e a tentativa de decolagem do PR-ZRA em SBMT (Campo de Marte), sem autorização especial de autoridade competente, caracterizou a violação de requisitos."
Além disso, o texto aponta que a aeronave (de propriedade de Agnelli e de construção amadora) tinha autorização apenas para educação e recreação de quem as construiu, por ser considerada "experimental". Ela não poderia, portanto, ser utilizada para o transporte privado de passageiros. 
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"A informalidade presente no âmbito da aviação experimental, associada à ausência de sistemas de apoio, pode ter resultado em uma inadequação nos trabalhos de preparação para o voo, particularmente no que diz respeito à degradação do desempenho frente a condições adversas (peso, altitude e temperatura elevados), comprometendo a qualidade do planejamento executado, contribuindo dessa forma para que fosse realizada uma decolagem sob condições marginais.", diz o relatório.
Roger Agnelli era empresário e foi presidente da Vale
Roger Agnelli era empresário e foi presidente da Vale Foto: Alex Silva/Estadão
Na data do acidente, Agnelli viajava para o Rio de Janeiro com familiares para um compromisso social. A aeronave havia saído de Campo de Marte por volta das 17 horas, alcançando pouco menos de 20 metros antes de cair. 
O relatório aponta que o avião já apresentava comportamento anormal desde a decolagem. "A saída do solo ocorreu, aparentemente, após o campo de futebol do clube esportivo localizado próximo à pista, do lado direito, nas imediações da pista de táxi 'D'. Essa distância de decolagem não era normalmente observada quando se tratava de tráfegos equipados com motores convencionais ou turboélices e, sim, de aeronaves a jato", diz o texto.
"Segundo um desses controladores, que observava a corrida da aeronave no solo, ela teve dificuldade em alçar voo, o que o fez chamar a atenção dos demais colegas de turno. Aqueles que observaram a decolagem do PR-ZRA também tiveram a impressão de que o avião saiu do solo com certa dificuldade, em curva de pequena inclinação à direita. Eles acompanharam a trajetória à direita até que o PR-ZRA saiu do campo de visão e, logo depois, observaram a fumaça subindo do solo."
O relatório aponta que uma varredura na pista após o acidente não encontrou qualquer material que pudesse ter se despreendido da aeronave. Além disso, os bombeiros também não identificaram indícios de qualquer colisão, embora tivessem aves na região.
Exames e testes apontaram que o motor funcionava normalmente e "produzia potência elevada no momento do impacto". "Pelo que foi apurado junto aos profissionais que controlavam a aeronave na Torre Marte, nenhuma indicação de falha mecânica foi observada durante a decolagem. Além disso, não foi constatada anormalidade no combustível utilizado pelo PR-ZRA."
O relatório destaca que, devido ao grau de destruição da aeronave, não foi possível aferir se ocorreu falha nos comandos de voo ou na superfície de sustentação. "No entanto, as imagens colhidas pelas câmeras de segurança e os depoimentos dos controladores de voo permitiram classificar como remota essa possibilidade."
O avião havia sido montado pela empresa Sitrez, que também era responsável por fazer uma inspeção anual, sendo a última realizada em 2014. Também estavam desatualizadas as de célula, motor e hélice sobre as horas voadas após a inspeção. 
Além disso, o texto aponta uma "grande variação entre os dados publicados pelo fabricante" e os informados à ANAC para a obtenção do Certificado de Autorização de Voo Experimental (CAVE).
"Entre a informação divulgada pelo fabricante (3.492kg) e o valor para o qual a aeronave havia recebido sua autorização de voo experimental (3.900kg) havia uma diferença, para mais, da ordem de 408kg. Considerando os cálculos da comissão de investigação, no momento da decolagem, o avião estaria 323kg acima do peso máximo estipulado pelo fabricante."
"É possível que a altitude da pista (2.369ft) e a temperatura elevada (31°C), associadas ao peso próximo ao máximo de decolagem, tenham degradado o desempenho da aeronave, o que explicaria a dificuldade, observada pelos controladores de voo e registrada pelas câmeras do aeroporto, para ganhar altura."
Ainda segundo o relatório, o piloto estava com o Certificado Médico Aeronáutico (CMA) e as habilitações de Avião Monomotor Terrestre (MNTE) e Voo por Instrumentos - Avião (IFRA) válidas, além de ter experiência em voo. O texto também ressaltou que "as condições meteorológicas eram propícias à realização do voo".
"Nesse contexto, a informalidade presente no âmbito da aviação experimental, associada à ausência de sistemas de apoio, pode ter provocado uma inadequação nos trabalhos de preparação para o voo, particularmente no que diz respeito à degradação do desempenho frente a condições adversas (peso, altitude e temperatura elevados), e comprometido a qualidade do planejamento executado, contribuindo dessa forma para que fosse realizada uma decolagem sob condições marginais."