Presidente da Federação Única dos Petroleiros (FUP) criticou a política de preços da estatal
Lucas VettorazzoCatia Seabra
RIO DE JANEIRO e SÃO PAULO
O coordenador da FUP (Federação Única dos Petroleiros), José Maria Rangel, disse que o presidente demissionário da Petrobras, Pedro Parente, "já vai tarde".
A frente da maior federação de petroleiros do país, com milhares trabalhadores em plataformas e refinarias do sistema Petrobras, Rangel é crítico da política de preços da estatal, que passou a reajustar os combustíveis de acordo com a variação internacional do barril de petróleo.
Rangel criticou a adoção da política, que, segundo ele, não protege o consumidor brasileiro em meio à grave recessão econômica. Ele afirma que a população não deveria pagar por oscilações no preço provocadas por razões exteriores ao mercado doméstico. E argumenta que a Petrobras reduziu em 30% o refino de petróleo no país, como forma de importar mais derivados de petróleo e justificar sua política de preços.
Segundo ele, há uma forma de os brasileiros ficarem protegidos pelas oscilações internacionais, caso a Petrobras amplie o percentual de operação de suas refinarias.
"O que o brasileiro tem a ver com a briga do Trump com o Irã ou a Síria? Nós temos petróleo suficiente para refinar aqui se não tudo o que o país precisa, pelo menos grande parte do que é consumido aqui", disse.
De acordo com o petroleiro, o modelo foi feito para agradar ao mercado financeiro em detrimento do bem-estar da população, principalmente a mais pobre.
"Já vai tarde", disse ele, sobre o pedido de demissão de Parente. "Esse verniz de bom gestor do Parente que a imprensa criou para o Parente caiu por terra. O Brasil teve o segundo apagão da história com o Parente", disse ele, referindo-se ao desabastecimento de combustíveis e alimentos da última semana.
Rangel também critica o plano de venda de ativos da estatal, além de fazer críticas ao governo federal, que decidiu reduzir o preço do diesel ao custo da redução de gastos na área social.
Segundo o petroleiro, Parente mostrou pouca capacidade de gestãodurante a paralisação dos caminhoneiros.
Na semana passada, enquanto o governo ainda sofria para buscar a solução que desmobilizaria o protesto, a Petrobras anunciou corte de 10% no preço do diesel vendido nas refinarias, o que arranhou a imagem de autonomia na gestão da Petrobras e derrubou as ações da petroleira na bolsa de São Paulo e de Nova York.
"Essa política neoliberal não serve para um país que está em crise e que deseja ter uma Petrobras forte. Esse governo governa para o mercado e não para a população. O receituário de ajuste recessivo, com cortes de custos em áreas sociais e descontrole de preços essenciais, só penaliza os mais pobres. Não é possível que essas pessoas achem razoável o preço da gasolina, de quase R$ 5 o litro, e do botijão de gás, que chega a custar R$ 80", disse ele.
Petroleiros chegaram a dar início a uma greve de 72 horas a partir de quarta-feira (30) contra a política de preços da estatal.
A FUP decidiu encerrar a greve depois que o Tribunal Superior do Trabalho considerou a paralisação ilegal e estipulou pena de R$ 2 milhões para cada sindicato por dia de descumprimento da medida.
A categoria avalia fazer uma greve por tempo indeterminado em junho. "Esperamos que essa política de preços seja extinta com a saída do Parente", disse ele.
'TRARÁ BENEFÍCIOS'
Alvo de operação da Polícia Federal na manhã da quinta-feira (31), a Força Sindical divulgou nota nesta sexta-feira (1º) em que comemorou a saída de Pedro Parente da presidência da Petrobrás.
Para a entidade, a política de preços variáveis adotada pela gestão de Parente "prejudicava a classe trabalhadora" e o presidente "dava clara demonstração de se curvar aos especuladores".
Assinada por seu presidente, Paulinho da Força (Solidariedade-SP), e pelo secretário-geral, João Carlos Gonçalves, o Juruna, a nota afirma que " a empresa é um importante polo de desenvolvimento" do Brasil e que a Força sindical espera que a nova direção " promova uma política voltada aos interesses do país".