Leandro Colon
BRASÍLIA
Era manhã de sexta-feira, 6 de abril de 2018, 8h30, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva revelou ao jornalista Ricardo Kotscho, da Folha, a decisão de não se entregar à Polícia Federal em Curitiba.
Pouco antes, a PF prendera o ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, atendendo a pedido da Lava Jato em São Paulo. Conhecido como Paulo Preto, ele é suspeito de ser um operador de trapaças financeiras do PSDB paulista. Um arrecadador de luxo.
Guardados as devidas proporções e os contextos históricos e políticos de cada caso, os dois episódios têm potencial para influir nas eleições de outubro.
Não há elementos, hoje, que apontem planejamento prévio por parte da Lava Jato paulista para coincidir a prisão de Paulo Preto com a possível detenção de Lula.
Decerto que o encarceramento do operador tucano foi ofuscado pelo gigantismo que representa o caso Lula, mas é inegável o simbolismo deste 6 de abril envolvendo o PT e o PSDB, partidos que protagonizam desde 1994 a disputa presidencial no país.
O impacto da prisão de Lula para o PT será óbvio, duradouro e previsível.
Duas vezes presidente da República, fundador e maior nome dos 38 anos de história da sigla, é o candidato da legenda ao Planalto. Lidera as pesquisas nos cenários de primeiro turno.
A prisão aniquilará ainda mais o discurso petista a favor da candidatura. Condenado em segunda instância a 12 anos e 1 mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, Lula passa a ser um ficha-suja em cumprimento de pena.
O PT bate na tecla de que vai registrar seu nome na Justiça Eleitoral em agosto, apesar das chances remotas de ser aceito pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O comando petista precisa levar em conta o cálculo de que, quanto mais tempo demorar para desistir de Lula, menos terá para impulsionar um plano B capaz de brigar de fato na eleição presidencial.
Por sua vez, o impacto da prisão de Paulo Preto no ninho eleitoral tucano é hipótese bem provável, ainda que seus efeitos sejam imprevisíveis.
Ele não pertence à classe dos políticos tucanos, mas aparece como peça importante no submundo de possíveis falcatruas que teriam bancado muitos deles.
É citado por delatores de empreiteiras, entre elas Odebrecht e OAS, como figura-chave a ligar propinas e caixa dois com a elite do PSDB.
Revelou-se recentemente que Paulo Preto detinha R$ 113 milhões em contas bancárias na Suíça.
Nos bastidores, o responsabilizam pelos movimentos de José Serra para sair de campo nas eleições de 2018 e pelo enfraquecimento político do tucano e ministro de Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, de quem Paulo Preto se declarava amigo.
VOLTA NO TEMPO
Pouco ou quase nada se sabe sobre suas relações com o presidenciável Geraldo Alckmin, que nega conhecê-lo. Uma eventual delação em ano de eleição atormenta os tucanos pelo potencial estrago que pode causar ao PSDB, mesmo que não atinja Alckmin diretamente.
A prisão permite voltar no tempo, mais exatamente às eleições de 2010.
A então candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, confrontou José Serra, seu oponente naquela disputa, sobre as ligações do PSDB com o emblemático personagem. O tucano desconversou. Paulo Preto não gostou.
Reagiu na ocasião e mandou um recado que fez balançar as penas tucanas: "Não se larga um líder ferido na estrada a troco de nada. Não cometam esse erro".
Agora, o "líder ferido" não está na estrada, está no CDP (Centro de Detenção Provisória) de Pinheiros, na capital paulista.