sábado, 7 de abril de 2018

Protagonistas, PT e PSDB têm dia simbólico com Lula e Paulo Preto, FSP


Leandro Colon
BRASÍLIA
Era manhã de sexta-feira, 6 de abril de 2018, 8h30, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva revelou ao jornalista Ricardo Kotscho, da Folha, a decisão de não se entregar à Polícia Federal em Curitiba.
Pouco antes, a PF prendera o ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, atendendo a pedido da Lava Jato em São Paulo. Conhecido como Paulo Preto, ele é suspeito de ser um operador de trapaças financeiras do PSDB paulista. Um arrecadador de luxo.
Guardados as devidas proporções e os contextos históricos e políticos de cada caso, os dois episódios têm potencial para influir nas eleições de outubro.
Não há elementos, hoje, que apontem planejamento prévio por parte da Lava Jato paulista para coincidir a prisão de Paulo Preto com a possível detenção de Lula.
Decerto que o encarceramento do operador tucano foi ofuscado pelo gigantismo que representa o caso Lula, mas é inegável o simbolismo deste 6 de abril envolvendo o PT e o PSDB, partidos que protagonizam desde 1994 a disputa presidencial no país.
O impacto da prisão de Lula para o PT será óbvio, duradouro e previsível. 
Duas vezes presidente da República, fundador e maior nome dos 38 anos de história da sigla, é o candidato da legenda ao Planalto. Lidera as pesquisas nos cenários de primeiro turno.
A prisão aniquilará ainda mais o discurso petista a favor da candidatura. Condenado em segunda instância a 12 anos e 1 mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, Lula passa a ser um ficha-suja em cumprimento de pena.
O PT bate na tecla de que vai registrar seu nome na Justiça Eleitoral em agosto, apesar das chances remotas de ser aceito pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O comando petista precisa levar em conta o cálculo de que, quanto mais tempo demorar para desistir de Lula, menos terá para impulsionar um plano B capaz de brigar de fato na eleição presidencial.
Por sua vez, o impacto da prisão de Paulo Preto no ninho eleitoral tucano é hipótese bem provável, ainda que seus efeitos sejam imprevisíveis.
Ele não pertence à classe dos políticos tucanos, mas aparece como peça importante no submundo de possíveis falcatruas que teriam bancado muitos deles.
É citado por delatores de empreiteiras, entre elas Odebrecht e OAS, como figura-chave a ligar propinas e caixa dois com a elite do PSDB. 
Revelou-se recentemente que Paulo Preto detinha R$ 113 milhões em contas bancárias na Suíça. 
Nos bastidores, o responsabilizam pelos movimentos de José Serra para sair de campo nas eleições de 2018 e pelo enfraquecimento político do tucano e ministro de Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, de quem Paulo Preto se declarava amigo.
aulo Vieira, conhecido como Paulo Preto, presta depoimento no Forum Regional da Lapa sobre envolvimento do Vice Pres. do PSDB Eduardo Jorge no caso de propina nas obras do Governo Paulista em 2011
Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, apontado como operador do PSDB - L.C.Leite - 16.fev.2011/Folhapress

VOLTA NO TEMPO

Pouco ou quase nada se sabe sobre suas relações com o presidenciável Geraldo Alckmin, que nega conhecê-lo. Uma eventual delação em ano de eleição atormenta os tucanos pelo potencial estrago que pode causar ao PSDB, mesmo que não atinja Alckmin diretamente.
A prisão permite voltar no tempo, mais exatamente às eleições de 2010. 
A então candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, confrontou José Serra, seu oponente naquela disputa, sobre as ligações do PSDB com o emblemático personagem. O tucano desconversou. Paulo Preto não gostou. 
Reagiu na ocasião e mandou um recado que fez balançar as penas tucanas: "Não se larga um líder ferido na estrada a troco de nada. Não cometam esse erro". 
Agora, o "líder ferido" não está na estrada, está no CDP (Centro de Detenção Provisória) de Pinheiros, na capital paulista.

quinta-feira, 5 de abril de 2018

Capacetada, Luis Fernando Verissimo, O Estado de S. Paulo





Onde estávamos que não pulamos no palco para enfrentar todas as injustiças que nos revoltam, desde Gólgota? 







Luis Fernando Verissimo, O Estado de S. Paulo
05 Abril 2018 | 02h00
A cidade de Nova Hartz fica no interior do Rio Grande do Sul, não muito longe de Porto Alegre. Todos os anos, na Páscoa, a cidade faz uma encenação da Paixão de Cristo que termina com sua crucificação no Monte Gólgota. A parte final é a mais impressionante do espetáculo, com a música, a iluminação e os efeitos de cena contribuindo para a dramaticidade do seu desenlace. Que inclui o detalhe mais cruel do drama: o do centurião romano que espeta o lado do agonizante Jesus com sua lança. 
Este ano, a cena final teve uma participação inesperada. Um espectador não aguentou tanta maldade, pulou no palco e atacou o centurião com um capacete de motoqueiro, interrompendo o martírio de Cristo e o espetáculo e espalhando confusão e perplexidade no Monte Gólgota que não estavam no script. Até o momento em que escrevo, a invasão do palco já tinha saído na imprensa de todo o mundo, mas aqui não se sabia muita coisa sobre o homem que atacou o centurião, se estava bêbado ou apenas indignado, ou as duas coisas. 
Pensando bem, sabia-se tão pouco sobre o invasor quanto sobre o ator que fazia o centurião em Nova Hartz e menos ainda sobre o próprio centurião romano da Bíblia, um daqueles ajudantes que têm seus cinco minutos na História e desaparecem para sempre. Os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João não se contradizem muito no relato do martírio e da crucificação de Jesus, mas só São João menciona o centurião com sua lança covarde, que ficou como protótipo de sadismo gratuito, além do dever militar. Se há algum personagem histórico, fictício ou não, que merece uma capacetada retroativa, é esse centurião. Né não?
Resta comentar a força do teatro, que consegue impelir um homem para cima de um palco e enfrentar uma guarnição de soldados romanos armados com lanças para vingar Jesus Cristo. E há no ato do nosso herói uma reprimenda implícita. Onde estávamos que não pulamos no palco para enfrentar todas as injustiças que nos revoltam, desde Gólgota? 

https://www.youtube.com/watch?v=t9oqOZwgCiI