sexta-feira, 24 de março de 2017

Trem movido a hidrogênio está pronto para rodar, Abifer




A Alstom, grupo industrial francês responsável por boa parte da frota dos metrôs de São Paulo e do Rio de Janeiro, anunciou que o Coralia iLint, primeiro trem de passageiros movido a hidrogênio do mundo, entrará em operação comercial na Alemanha em dezembro. Embora muitos trens do país europeu já sejam elétricos, quatro mil locomotivas à diesel ainda são usadas – a substituição gradual desses veículos é o último passo rumo à meta de zerar as emissões de CO2 no sistema ferroviário.

Os trens vão rodar na linha Bremerhaven-Buxtehude, um trajeto não eletrificado de 75 km que hoje é operado pela versão poluente do trem: o LINT 41, sem a letra “i”. Buxtehude é uma cidade próxima de Hamburgo, na foz do rio Elba. Bremerhaven, por sua vez, fica mais a oeste, perto da fronteira com a Holanda. Em 14 de março, o trem atingiu 80 km/h em uma pista de testes em Salzgitter, também na Alemanha. Após o teste bem-sucedido, o próximo passo é levá-lo à velocidade máxima de 140 km/h em um circuito em Velim, na República Tcheca. Segundo o jornal alemão Die Welt, no segundo semestre deste ano o governo alemão entrará na reta final da aprovação do trem.

O iLint tem um tanque de hidrogênio e uma célula de combustível no teto. O elemento químico, que é o mais leve da tabela periódica, entra em combustão em contato com o oxigênio e libera energia. Do escapamento, só sai vapor de água – H2O. Mais inocente, impossível. O hidrogênio que será usado para abastecer a composição virá de indústrias que já produzem o elemento como resíduo de suas operações normalmente.

O combustível do trem, ao contrário do anunciado em jornais estrangeiros, não é água. A água é um produto da combustão do hidrogênio, como você pode verificar na equação abaixo – que pode trazer à tona seus traumas de ensino médio. A união de duas moléculas de H2 com uma de O2 libera H2O e a energia que tira o trem do lugar. Assim, a água é produto de uma explosão, e não algo que pode explodir.

2 H2 + O2 ? 2 H2O + 572 kJ (286 kJ/mol)

Fonte: Super Interessante
Publicada em:: 24/03/2017

As lágrimas femininas, Fernando Reinach OESP


Foi Darwin quem sugeriu que esses métodos de comunicação surgiram antes da linguagem falada. Quando observamos a mímica de um macaco quase acreditamos saber o que se passa na sua mente. Darwin também sugeriu que antes dos animais desenvolverem cérebros sofisticados, capazes de interpretar sinais visuais e auditivos complexos, a comunicação entre animais sociais já deveria ocorrer por meio de substâncias químicas capazes de modificar o comportamento do animal que recebe o sinal. Feromônios capazes de modificar o comportamento sexual dos parceiros são comuns entre insetos e é o cheiro da fêmea no cio que atrai os cachorros machos.
Mas e as lágrimas, para que serviriam? Para sinalizar tristeza não bastaria uma mudança de expressão? A grande maioria dos mamíferos não produz lágrimas e sabemos que as produzidas para lubrificar o globo ocular têm uma composição diferente das que escorrem pela face quando a emoção é forte. Agora um grupo de cientistas resolveu investigar se as lágrimas não conteriam algum composto químico capaz de modificar o comportamento humano. Se você está com preguiça de ler o resto, a resposta é sim.
Um grupo de mulheres voluntárias concordou em assistir a filmes tristes. As lágrimas que rolaram pelas faces foram coletadas. Se o filme for bem escolhido, cada mulher é capaz de produzir um mililitro de lágrimas. O primeiro experimento tinha o objetivo de determinar se nosso olfato era capaz de distinguir o cheiro das lágrimas do cheiro de uma solução contendo somente sais minerais (salina). Vinte e quatro homens concordaram que fosse fixado no seu lábio superior, logo abaixo das narinas, um pequeno pedaço de papel que podia ser molhado com lágrimas de mulheres tristes ou com salina. Desse modo, eles poderiam absorver por via nasal qualquer molécula volátil que existisse nas lágrimas. Foi descoberto que somos incapazes de identificar se o que foi colocado no papel é uma gota de lágrima ou uma gota de salina. Assim, os voluntários não sabiam o que estavam recebendo quando foram submetidos a outros experimentos.
No experimentos seguinte, os dois grupos de voluntários (um cheirando salina e o outro, lágrimas) foram colocados na frente de fotos de faces de mulheres e foi pedido a eles que avaliassem o "sex appeal" de cada face. Foi observado que os homens que estavam cheirando lágrimas davam notas mais baixas para as faces, ou seja, achavam as mulheres menos atraentes.
No teste seguinte, a capacidade dos homens de ficarem sexualmente excitados ao observar fotos foi medida diretamente por meio da passagem de uma corrente elétrica pela pele. Já se sabe que as propriedades elétricas da pele se alteram quando ficamos excitados e o que se observou é que os homens que estavam sob efeito das lágrimas ficavam menos excitados que o grupo controle. Novamente as lágrimas pareciam inibir o instinto sexual.
Em dois outros experimentos foi possível demonstrar que a simples presença das lágrimas sob a narina reduz a produção de testosterona na saliva e diminui a ativação das áreas cerebrais relacionadas à excitação sexual. Como os efeitos foram obtidos sem que os homens observassem visualmente o ato da mulher chorando e sem que soubessem o que estava sob suas narinas, esses resultados demonstram que nas lágrimas femininas existe algum componente volátil capaz de inibir o instinto sexual dos machos da nossa espécie.
Agora os cientistas planejam repetir o estudo usando lágrimas masculinas, testar o efeito da lágrimas sobre o mesmo sexo e caracterizar essa substância. Como ela só atua a uma distância muito curta, os cientistas acreditam que o efeito das lágrimas só é obtido quando abraçamos uma mulher que esteja chorando, aproximando nossas narinas da face por onde escorrem as lágrimas.
A existência desse sinal químico, que inibe o instinto sexual, provavelmente facilita a tarefa dos homens de consolar suas mulheres. Sem esse inibidor, o ato de consolar pode levar à excitação sexual, o que geralmente irrita uma mulher triste. É importante lembrar que a existência dessa molécula não significa que esse mecanismo tenha um papel importante no nosso comportamento - ele pode ser simplesmente um vestígio de um mecanismo que foi importante para nossos antepassados distantes. De qualquer forma, vai ser interessante observar como a indústria de perfumes utilizará esse composto, afinal ele parece ser um potente antiafrodisíaco.
BIÓLOGO
MAIS INFORMAÇÕES: HUMAN TEARS CONTAIN A CHEMOSIGNAL. SCIENCE VOL. 331 PAG. 226 2011
(FERNANDO@REINACH.COM)

MAIS CONTEÚDO SOBRE:

    A política da carne, Gabeira OESP


    Além do produto brasileiro, o que está em foco é o caráter dos funcionários do governo
    FERNANDO GABEIRA*
    24 Março 2017 | 03h00
    Escândalos, como esse da carne, às vezes me alcançam no interior, com precária conexão. Na falta de detalhes, começo pelas ideias gerais. Por exemplo: como alimentar quase 10 bilhões de pessoas no meio do século?
    Já é uma tarefa muito complexa – no meu entender, impossível – sem a produção de proteína animal. Há quem discorde disso e acredite que seria possível substituí-la. Mesmo assim, sempre haveria gente comendo carne por escolha.
    Vegetarianos e carnívoros estão muito mais unidos do que se pensa quando se trata de segurança alimentar.
    Em 2006, na Califórnia houve uma grande contaminação do espinafre produzida pela bactéria Escherichia coli (E.coli). Outras se verificaram nos EUA e no mundo.
    O sistema de produção e distribuição de alimentos conseguiu ampliar a oferta, reduzir os preços e certamente livrou o planeta de muitas fomes. Já se produzem 20% mais calorias do que as necessárias para alimentar todo o mundo, apesar de um em cada sete habitantes do planeta ainda não ter o que comer.
    Essa conquista mundial não seria possível sem produção em grande escala. E exatamente essa característica, que levou ao triunfo, é que revela seu ponto fraco: a vulnerabilidade diante de certo tipo de contaminação.
    Segundo o escritor Paul Roberts, autor do livro A Fome que Virá, as mesmas cadeias de produção que constituem o supermercado mundial, e são capazes de colocar frutas, hortaliças e carnes nos dois Hemisférios em qualquer estação do ano, são um campo favorável para a expansão de patógenos alimentares como E.coli e salmonela.
    O problema revelado pela Operação Carne Fraca ainda é de uma fase mais atrasada. É da corrupção de fiscais, algo que também já aconteceu em muitos países do mundo.
    O abalo na credibilidade do sistema brasileiro foi inevitável, por vários fatores. O primeiro é que existe insegurança planetária mesmo quando o controle é honesto. E os dados lançados pela Polícia Federal são graves, por diversos aspectos.
    As maiores empresas do Brasil estavam envolvidas. Elas podem dizer que casos de contaminação da carne são isolados. Mas suas ligações com a política são sistêmicas: a JBS, sobretudo, despeja milhões em campanhas eleitorais.
    O relatório da Polícia Federal foi atacado por suas fragilidades: mistura da carne com papelão, algo que não parece viável, assim como apontar o ácido ascórbico como fator cancerígeno. No entanto, no mesmo relatório havia denúncias graves.
    Uma delas é a presença de salmonela na carne. O governo afirma que é um tipo de salmonela tolerado. Duvido que os consumidores aceitem comer uma salmonela inofensiva – o que é até contestado cientificamente.
    Houve outra denúncia, que passou em branco: o uso para consumo humano de animais não abatidos, mas mortos em outras circunstâncias. Isso é grave e, sobretudo depois da vaca louca, tem de ser fiscalizado com rigor.
    Para sair dessa maré negativa no mercado internacional serão necessárias firmeza e transparência. Seria bom descartar teorias conspiratórias. Em 2006 vivemos um momento em que havia realmente algo inventado lá fora. Foi quando o Canadá insinuou que havia doença da vaca louca no Brasil. Foi uma pequena batalha diplomática. Lembro-me de que, apesar de vegetariano, participei de uma comissão que visitou a embaixada, foi ao Itamaraty e se preparava até para defender a carne brasileira lá mesmo, no próprio Canadá.
    Esporadicamente, com uma ou outra notícia esparsa de febre aftosa, novas pressões vieram sobre o Brasil. Eram pressões positivas. Pediam o rastreamento do gado, um chip que contivesse as informações essenciais sobre o animal que seria abatido.
    Alguns reagiram com a teoria conspiratória, pensando que era algo imposto por concorrentes para encarecer a carne brasileira. Uma década depois, os chips de rastreamento são vendidos à vontade, até pela internet. E fortalecem o sistema de controle.
    Quando ficar claro, se ficar, que o problema é a escolha de fiscais por partidos políticos e essa relação for detonada, creio que o caminho para retomar a credibilidade se abre. De nada adianta impressionar os compradores estrangeiros com nossa estrutura física. Se acharem que a fiscalização depende de políticos, a desconfiança vai prevalecer.
    De Luiz Eduardo a Petrolina, da Chapada dos Veadeiros ao Vale do Gurgueia, o agronegócio brasileiro que tenho visto é uma história de sucesso. Mas as empresas da carne que compram fiscais vão no sentido oposto de quem se garante pela competência. Isso pode representar um lucro. Mas estrategicamente conduz a um prejuízo sistêmico, a um abalo na exportação nacional. Ao darem as mãos aos partidos políticos, os grandes produtores de carne escolheram o caminho oposto ao da credibilidade.
    É impressionante a cultura da dependência no Brasil. Mesmo um setor que poderia passar sem o governo não só se financia com dinheiro público, como destina uma parte para o processo eleitoral.
    As delegações estrangeiras conhecem o equipamento instalado no Brasil para a produção da carne. O grande problema é a confiança na fiscalização local.
    Dificilmente um país pode controlar todas as suas exportações. Segundo Paul Roberts, dos 300 milhões de toneladas de alimentos que os Estados Unidos importam, apenas 2% são fiscalizados. Não há fiscais para tudo.
    Mas não é apenas a carne brasileira que está em foco, e sim o caráter dos funcionários do governo. Tanto no petróleo como na carne existem equipamentos e competência técnica. No entanto, os dois setores foram abalados pela corrupção política. Se Michel Temer quiser dar um na passo na recuperação da credibilidade, deve levar os embaixadores a uma churrascaria e dizer, como Rubem Braga diria: “This is not a pizza, this is a beef...”.
    * FERNANDO GABEIRA É JORNALISTA