terça-feira, 19 de março de 2013
Casca de coco deve eliminar fedor em estação de tratamento de esgoto
A reclamação é tanta que a empresa de saneamento de São Paulo resolveu pesquisar uma forma barata --e, segundo ela, definitiva-- para acabar com o mau cheiro ao redor das estações de Tratamento de esgoto. Como os testes se mostraram eficientes, a Sabesp deve começar a replicar os seus contêineres antifedor em alguns meses. A técnica parece engenhosa, mas é simples. O ar será sugado de dentro das estações de Tratamento de esgoto para um contêiner comum. O ar e seu "cheiro de ovo podre", causado pelo gás sulfídrico, vai circular em direção ao chão. "Vamos forrar esses locais com turfa [maçaroca vegetal], composta principalmente por restos de casca de coco", afirma o superintendente de inovação da companhia, Américo Sampaio. O principal recurso, porém, não pode ser visto a olho nu. Como o ambiente será constantemente umidificado, muitas bactérias vão proliferar no meio do coco. "Elas vão funcionar com um biofiltro, oxidando [quebrando] o gás sulfídrico", explica. O resultado de todo esse processo será a saída, pelo fundo do equipamento, de um gás sem odor ruim. A Sabesp vai registrar o método, que foi baseado em experiências no exterior. "Ninguém quer morar ao lado de uma estação de esgoto. É um problema mundial", diz o inventor. Apenas na Grande São Paulo, existem cinco grandes estação de tratamento e outras 24 pequenas. Em todo o Estado, são 490 unidades. "Mesmo aqui em Pinheiros temos reclamação", afirma. É nessa área da zona oeste da cidade que fica a sede principal da companhia, onde há uma pequena estação.
LITORAL
A cidade de Santos, no litoral, também deverá contar com o sistema antifedor. Vizinhos do Orquidário de Santos, no bairro do José Menino, disseram à Folha que costumam sentir o cheiro ruim no fim da tarde. Segundo especialistas, em casos raros, o odor nauseante pode causar desmaios em organismos mais sensíveis. A Sabesp tem outro sistema contra o cheiro em funcionamento, mas deve optar pela nova técnica devido ao custo. Estimativas indicam que o sistema com coco sairá 40% mais barato. Segundo a empresa, o custo de instalação depende do local da estação.
Folha de S. Paulo
Judicialização e Caos , por Acende Brasil
Pouco a pouco vão se somando os elementos que configuram um desarranjo institucional completo num setor que, pelas suas características, deveria ser marcado pela estabilidade legal e regulatória
A publicação da Resolução n° 3 do CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) em 06 de março último colocou o setor elétrico brasileiro rumo a um cenário de judicialização e caos institucional extremamente perversos para o país. Em função dos altos impactos econômicos e regulatórios gerados, é necessário apontar com toda a transparência para a sociedade brasileira os reais responsáveis pelo desarranjo setorial e cobrar destes mesmos responsáveis que arquem com os ônus de suas ações e decisões, uma vez que vai ficando cada vez mais clara a predominância de interesses políticos e eleitorais.
A MP 579 e suas consequências
Tudo começou com a implementação truculenta da Medida Provisória n° 579/2012 (depois convertida na Lei 12.783/2013), que combinou dois elementos.
De um lado, o governo buscou capturar a oportunidade política propiciada pelo vencimento de várias concessões de geração e transmissão de eletricidade e propôs aos concessionários que aceitassem antecipadamente as renovações em condições que impunham reduções tarifárias uma vez que grande parte dos investimentos dessas concessões já havia sido amortizada. De outro lado, e em menor grau relativo, o Planalto finalmente deu início a uma redução de encargos setoriais que há décadas têm onerado a conta de luz.
Como se podia esperar pela lógica da racionalidade econômica, não é possível gerar valor por decreto. Afinal, se era tão fácil antecipar a redução da tarifa com uma canetada, porque isso não havia sido feito antes? Simplesmente porque não era possível nem racional.
Uma das primeiras e principais consequências da proposta original da MP 579 foi a grande perda de valor das empresas do setor elétrico devido à expropriação de investimentos realizados após a construção de usinas e de instalações de transmissão feitas antes de 2000. Apesar de correções introduzidas na proposta original que permitem projetar perdas menos intensas, permanecem indefinidos vários aspectos, alguns dos quais só serão estabelecidos na primeira revisão tarifária de geração que acontecerá em cinco anos.
Pode-se também medir a destruição de valor e o risco de uso político pelo resultado da Assembleia Geral Extraordinária da Eletrobras realizada em 03 de dezembro de 2012, que votou a aprovação das condições de renovação de concessões impostas pelo governo: os acionistas controladores (que na prática são o próprio governo, representado pela União Federal, BNDES e BNDESPar), obviamente votaram pela aprovação. No entanto, as condições de renovação foram rejeitadas pela maioria dos acionistas minoritários.
Uma segunda onda de choques derivados da atabalhoada tramitação da MP 579 acabou se manifestando quando foi necessário gerenciar sua implementação em tão curto prazo. Isto dito, é essencial relembrar que o governo sempre propagou que a aceitação das condições de antecipação das renovações seria uma opção dos concessionários, e não uma imposição.
Mas a realidade demonstrou que o governo, na prática, sempre trabalhou com a hipótese de adesão total. Tal postura governamental ficou evidente com a não realização do Leilão A-1 de 2012, leilão em que seria comercializada a energia de contratos de energia existente vincendos em 2012. O efeito dessa postura negligente foi desastroso para as distribuidoras, que têm nos leilões regulados pelo governo a única forma de atendimento a seus mercados de consumidores. Como a adesão não foi integral, as distribuidoras ficaram involuntariamente expostas e tiveram que comprar energia no mercado de curto prazo a preços muito elevados devido aos baixos níveis dos reservatórios hidrelétricos.
O acionamento termelétrico e seu impacto sobre a conta de luz
Soma-se à imprudência governamental acima o fato de que, para minimizar o risco de déficit de eletricidade, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) tem acionado todas as usinas termelétricas com base no mecanismo de Despacho Fora da Ordem de Mérito Econômico. O custo dessa operação (que, segundo o próprio ONS, será mantida ao longo de todo o ano) pode atingir R$ 6 bilhões em 2013. Tal custo é consolidado no ESS-SE (Encargo de Serviços de Sistema, subitem "Segurança Energética"), encargo pago pelos consumidores.
Assim, surgiu no horizonte um cenário aterrorizante para os objetivos políticos do governo: a queda propagada de 20% da conta de luz seria comprometida pelo altíssimo custo conjuntural do despacho termelétrico.
A intervenção no mercado: Resolução n° 3 do CNPE
Diante da ameaça a seu discurso de campanha, e numa iniciativa desesperada para socializar os prejuízos dos erros governamentais e regulatórios, o governo publicou no dia 6 de março a Resolução n° 3 do CNPE, que representa uma intervenção governamental no mercado de energia, inclusive alterando a contabilização de transações já realizadas.
Com esta resolução o Planalto, sem qualquer cerimônia, busca expropriar o caixa das geradoras de energia ao impor que estas últimas passem a arcar com parte do custo do ESS-SE, o que não faz o menor sentido.
Afinal, por que um gerador específico deveria arcar com os custos gerados por outros geradores acionados pelo Operador Nacional do Sistema com o objetivo de atender à demanda de um terceiro agente, o consumidor? Quem deve arcar com os custos de produção de energia são aqueles que a consomem.
Aliás, o despacho termelétrico fora da ordem de mérito - um comando do ONS sobre o qual os geradores não têm nenhuma possibilidade de influência - reduz a comercialização de energia elétrica dos geradores hidrelétricos, o que, na prática, já representa um custo imposto por uma política de governo. Os geradores de energia não podem ser responsáveis por um custo que não lhes diz respeito e que não lhes gera nenhum benefício.
Como se a absurda medida acima não bastasse, foi também imposta a revisão retroativa da alocação do ESS: a resolução prevê sua aplicação à liquidação de março, que por sua vez é referente a janeiro de 2013. Fica assim materialmente documentada a imprevisibilidade em relação ao passado e a quebra de atos jurídicos perfeitos.
A resolução também prevê alteração na metodologia de definição do preço de mercado de curto prazo, o PLD (Preço de Liquidação de Diferenças). Embora seja benvinda a intenção de refletir melhor os custos reais de operação do sistema, uma mudança estrutural como essa deveria ser implementada somente no próximo ano, possibilitando aos agentes realizar a sazonalização de sua energia com base nas novas regras. A implementação já em 2013 gerará distorções e instabilidade pois afetará compromissos já selados.
O próprio uso da figura do Conselho Nacional de Política Energética é completamente inadequado. O CNPE é uma instância que, por sua composição interministerial, deveria se ocupar da definição de diretrizes de longo prazo da política energética, e não do microgerenciamento de regras específicas de comercialização do setor elétrico. O Conselho é um órgão com perfil propositivo, que define as grandes linhas estratégicas de desenvolvimento do setor de energia (setor elétrico, setor de óleo, setor de gás etc). Usá-lo para alterar regras intempestiva e retroativamente é um retrocesso institucional: os papéis das instituições começam a ficar muito confusos.
Se esta resolução representasse uma política de longo prazo compatível com sua função, o CNPE não teria receio em submetê-la ao ritual consagrado no setor para atos muito menos impactantes: nenhuma audiência pública foi organizada pela Aneel para colher as contribuições de todos os agentes afetados. Como o setor é muito complexo, as melhores práticas regulatórias ditam que é necessário ouvir a todos antes de tomar decisões que os impactam. Ficou claro que a resolução é uma intervenção unilateral para tentar camuflar erros do próprio governo por meio da socialização de prejuízos.
A suspensão de liquidação e a alteração retroativa da sazonalização
Para agravar ainda mais a situação, a liquidação das transações de janeiro de 2013 está suspensa, condição que não pode permanecer porque compromete o caixa de todos os agentes da cadeia de suprimento de energia.
E como mais um golpe mortal à estabilidade regulatória, a Aneel acaba de convocar a Audiência Pública n° 13/2013 contemplando a possibilidade de alterar retroativamente a alocação anual da energia (sazonalização) previamente estabelecida.
A desconstrução institucional do setor
Uso político das empresas estatais, uso eleitoral da tarifa, expropriação de caixa de agentes, interferências regulatórias retroativas... Pouco a pouco vão se somando os elementos que configuram um desarranjo institucional completo num setor que, pelas suas características (investimentos irreversíveis de longo prazo, compromissos contratuais medidos em décadas, receitas baseadas em demandas razoavelmente previsíveis, necessidade de alto grau de coordenação entre agentes etc), deveria ser marcado pela estabilidade legal e regulatória.
Se não houver recuo do governo várias empresas já adiantaram que entrarão na justiça. E uma eventual aposta do governo no clássico "deixe passar as eleições de 2014 que depois eu arrumo esta bagunça" é perigosíssima.
A insistência nesse modelo intervencionista, intempestivo e politizado gerará efeitos negativos irreversíveis que inevitavelmente respingarão sobre os próprios consumidores/contribuintes que, além de poderem se ver com problemas de déficit de oferta de energia pela insuficiência de investimentos, terão que pagar em suas contas de luz por todas estas artificialidades que foram empurradas para depois de 2014.
Claudio J. D. Sales é presidente do Instituto Acende Brasil (www.acendebrasil.com.br)
segunda-feira, 18 de março de 2013
“QUEREMOS ACABAR COM A DOR DE ENVELHECER” , por Thais Arbex - Estadão (definitivo)
18.março.2013 | 10:36
Foto: Denise Andrade/Estadão
Para o geneticista Hugo Aguilaniu, será possível viver bem até os 125 anos
Há alguns anos, Hugo Aguilaniu, geneticista da École Normale Supérieure de Lyon, na França, se deu conta de que seu trabalho ia além das pesquisas genéticas sobre o envelhecimento. Que não bastava avançar nos estudos para aumentar a longevidade sem encarar outra importante missão: a cura dos idosos. “Essa é a prioridade e a urgência de hoje”, diz. “A pesquisa não está mais focada em estender a vida. Nosso objetivo, agora, é o de melhorar a qualidade do envelhecimento”, relata o cientista.
Integrante do Programa Cátedras Francesas do Estado de São Paulo, ele passou duas semanas no Brasil para ministrar um curso sobre genética do envelhecimento na pós-graduação da USP – a convite de Alicia Kowaltowski. E, na véspera de sua volta para a França, recebeu a coluna.
A discussão é pertinente. O mundo terá um bilhão de idosos dentro de dez anos. O dado, de estudo divulgado pela ONU no ano passado, é um alerta para todas as nações: é preciso correr contra o tempo e adotar medidas que assegurem, desde já, o bem-estar da população – que fica mais velha a cada dia. Segundo a organização, uma em cada nove pessoas no mundo tem 60 anos ou mais, o equivalente a 11,5% da população mundial.
No Brasil, já são 23,5 milhões de idosos (12% da população) – de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2011. E a cada mostra do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é comprovada a tendência de envelhecimento do País. “A população brasileira está envelhecendo cada vez mais rápido”, diz Aguilaniu. “Os franceses já ganharam seis horas de expectativa de vida por dia. No Brasil, essa velocidade é ainda maior, de nove horas por dia. Isso quer dizer que o bebê que nasce hoje terá uma expectativa de vida nove horas superior ao que nasceu ontem”, explica.
Mas o problema é que, infelizmente, “envelhecer ainda dói”, diz Aguilaniu. Hoje, segundo ele, as pesquisas mostram que os idosos sofrem, em média, 15 anos por causa das chamadas doenças associadas ao envelhecimento. “Queremos acabar com esse longo período ruim pelo qual passamos na velhice.”
Quer dizer que há um caminho para se encontrar a mais perfeita fórmula da juventude? Hugo Aguilaniu tem a resposta: “Já conhecemos moléculas capazes de aumentar a longevidade de mamíferos. A chance de se chegar a uma droga que aumente a vida do ser humano é enorme. E vai acontecer logo”.
Mas, calma. “Temos outra missão: a de matar os mitos. Todos queremos encontrar a fonte da juventude, mas é preciso pensar como sociedade, não individualmente. Imagine se todos nos tornássemos imortais?”
Confira, a seguir, os melhores trechos da conversa.
O Brasil já está velho?
E cada vez mais rápido. Na França, ganhamos seis horas de expectativa de vida por dia. Um bebê que nasce hoje terá uma expectativa de vida seis horas superior ao bebê que nasceu ontem. No Brasil, essa velocidade é ainda maior, de nove horas por dia. São quatro meses e meio por ano. Isso mostra que o problema do envelhecimento da população é muito importante. A população da França já está velha. Aqui no Brasil, o problema é maior, porque a população ainda é jovem, mas vem envelhecendo muito rápido. E tem um outro fator essencial: a queda da taxa de fecundidade.
Qual é a maior dificuldade do Brasil em relação ao envelhecimento?
Este é o debate político que tem de acontecer imediatamente. São muitos os idosos que precisam de ajuda. Na França, que convive com o envelhecimento da população há um tempo, já é difícil, já não se dá conta do recado. A velhice tem um custo muito alto. Quem cuida dos idosos cobra um valor extremamente elevado. E há também os custos com hospital, medicamentos. É um impacto enorme sobre a sociedade e seu crescimento econômico.
A sociedade tem essa noção?
Não. As pesquisas têm evoluído muito rápido e, hoje em dia, já conhecemos moléculas capazes de aumentar a longevidade de mamíferos. Isso quer dizer que a chance de chegarmos a uma droga que aumente a longevidade do ser humano é enorme. E vai acontecer logo. Se pensarmos que a população já está envelhecendo muito rápido e que, de repente, entrará um molécula que prolongará ainda mais a vida, a demografia vai explodir. Poderia matar o crescimento do Brasil de um dia para o outro, por exemplo.
Na sua opinião, qual é o papel do poder público?
A França só agora está se dando conta de que envelheceu. Mesmo falando há anos sobre a importância de se pensar em políticas para a velhice, só recentemente comecei a receber ligações de pessoas do governo preocupadas com a questão do envelhecimento. Ganhamos 25 anos de vida, vivemos até os 85, mas as pessoas ainda querem viver como se fossem morrer aos 60. É preciso reorganizar a sociedade. E fazer com que as pessoas percebam que elas não farão o mesmo trabalho a vida toda. Passaremos a ter o trabalho para os jovens e o trabalho para os mais velhos. As empresas terão de se reorganizar. Será uma mudança global.
Nesse contexto, qual o impacto da sua pesquisa?
Nosso trabalho, nesse momento, é melhorar a qualidade do envelhecimento. Sabemos que é possível alterar em qualquer animal – inclusive no ser humano – a percepção do tempo.
E como se faz isso?
Mexendo com os genes, para que eles mandem informações “erradas” sobre o tempo. A partir daí, o corpo passa a viver com um tempo que não é o real, tendo uma longevidade maior. Em 1993, um grupo de pesquisadores da Califórnia encontrou o primeiro gene capaz de passar por esse processo. Hoje, já sabemos que 50 genes têm tal capacidade. No momento, a pesquisa não está mais apenas focada em estender a vida, mas, sim, em melhorar a qualidade do envelhecimento. Nosso objetivo é que as pessoas possam viver com boa saúde até a morte. Queremos eliminar o longo período ruim pelo qual passamos na velhice. Hoje em dia, idosos sofrem, em média, durante 15 anos. É muito tempo. Se conseguirmos diminuir isso em 10%, já será uma grande vitória.
E o limite da ética? Até quando é possível estender a vida?
Biologicamente, acredito que ninguém possa responder a essa pergunta. Trabalho com um verme – o Caenorhabditis elegans – que tem longevidade normal de 19 dias. Mas hoje, em nosso laboratório, temos animais de quase 1 ano de idade. Se fizermos a transição para o ser humano, são 800 anos. Mas claro que não é tão simples assim. Não dá para saber se há um limite biológico, mas o ético, com certeza, existe. As pessoas querem viver muito. Todos têm a fantasia da imortalidade, de encontrar a fonte da juventude, mas é preciso pensar como sociedade, não individualmente. Imagine se todos nos tornássemos imortais? É um pensamento que pode parecer filosófico, mas é biológico também.
Como assim?
Quando analisamos esses animais que tiveram suas vidas prolongadas, descobrimos que eles passaram a reproduzir muito menos. Aparentemente, esse processo nos mostra que só é possível uma coisa ou outra: viver muito tempo ou investir nas próximas gerações. E ainda não sabemos o porquê. Estamos trabalhando para descobrir.
E já existem pistas?
Está provado que a restrição calórica contribui para o prolongamento da vida. Mas, quando comemos menos, a reprodução diminui. Queremos encontrar o gene que tenha o benefício da restrição calórica na longevidade, sem atingir a reprodução.
Será possível aumentar o tempo de reprodução da mulher?
Há pesquisas intensas nesse campo. Até agora, conseguimos aumentar a longevidade, mas o período de reprodução da mulher continuou o mesmo. Isso cria uma desigualdade a mais entre o homem e a mulher. E nós, geneticistas, costumamos dizer que, a partir do momento em que o ser humano não pode mais se reproduzir, ele está morto geneticamente.
As pesquisas já descobriram os genes para não se ter mais cabelo branco? Ou rugas?
Estamos olhando para aspectos fisiológicos, não estéticos. Mas é lógico que acabam aparecendo. Quando mexemos nos genes da longevidade, descobrimos que ficamos com um aspecto mais jovem também – mesmo que, para nós, pesquisadores, não seja um ponto fundamental.
Como você vê essa obsessão pela juventude?
A estética não prolonga o tempo de vida. Ela apenas melhora a aparência. Não é ruim, mas é o “viver o agora”. As pessoas querem ser bonitas e jovens hoje, porque não sabem o que será amanhã. Porém, há outro ponto: a vontade de viver muito. As pessoas estão dispostas a fazer qualquer coisa para prolongar a vida. Mas temos de tomar muito cuidado com toda essa fantasia. E uma política de estado é capaz de regular isso.
Como?
Do mesmo jeito que existem restrições para os fumantes, para bebidas, tem de haver ações que mostrem para a população que não adianta tomar pílulas em busca de mais anos de vida. Até porque ainda não conhecemos a pílula que vai funcionar. Existirá, com certeza, mas ainda não existe. As pessoas que tomam um monte de pílulas para viver mais estão se enganando. Não funciona.
Até porque as questões do envelhecimento vão além do aspecto físico.
Envelhecer é muito difícil para todo mundo. Temos de aceitar que vamos perder nossas características físicas. E mais: envelhecer dói. Quando visitamos os idosos e perguntamos como é ser velho, a resposta – quase que em 100% dos casos – é “dói, todo dia dói”. E é horrível ouvir isso. Um de nossos principais objetivos é diminuir a dor dessas pessoas.
É muito comum as pessoas chegarem à velhice sozinhas.
Exato. Ao envelhecer, é psiquicamente essencial aceitar ajuda. Na França, que é um país muito mais individualista, as pessoas estão sofrendo também de solidão. Elas não aguentam a ideia de que precisam de alguém.
Mas há quem queira cuidar desses idosos?
As pessoas não conseguem conceber o fato de que podem receber os pais quando ficam velhos. O que seria natural, afinal, é um troca. Pais criam seus filhos e, depois, chega a hora de os filhos ajudarem os pais. Na França, as pessoas ficam sozinhas e morrem sozinhas. E, muitas vezes, se passam muitos meses até que se encontrem os idosos mortos em casa – o que é absurdo. Em alguns casos, eles não têm mais família. Mas o que choca é que muitos têm, sim. Eles estão, simplesmente, abandonados.
É capaz de responder quanto tempo mais a gente vai viver?
Qualquer pessoa que garanta saber a resposta está mentindo. Não dá para saber. Muitos pesquisadores dizem que, se conseguirmos reparar todas as coisas que “quebram” – como em um carro –, não haveria limite, alcançaríamos a imortalidade. Não faço parte dessa linha de pensamento. O que acho possível é uma expectativa de vida de 120, 125 anos. Mas é mera especulação.
E você quer viver quanto?
Quero viver hoje e só. O amanhã é o amanhã. Minha filosofia é viver cada dia como se fosse o último. /THAIS ARBEX
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