Quando Cássio Loredano começou a desenhar para a imprensa —nas páginas do jornal Opinião, em 1972—, não sabia quem era J. Carlos (1884-1950): “Diziam que ele era o maior. Mas não mostravam isso. Eu resolvi mostrar”.
Hoje Cássio não tem dúvida de que J. Carlos foi o mais completo caricaturista brasileiro em todos os tempos e um dos melhores do século 20 no mundo. Em 1994, ao ganhar uma bolsa, ele resolveu mapear a trajetória do artista cuja obra estava sepultada debaixo da poeira fina que encobria as coleções de O Malho, Careta, Fon-Fon, O Tico-Tico, A Cigarra, entre outras. Foram 48 anos em cima da prancheta, resultando em mais de 50 mil desenhos. Cássio garante ter visto e avaliado 35 mil deles.
“Quando comecei o trabalho, havia em circulação cerca de 600 desenhos, escondidos em livros raros e pequenos catálogos”, ele lembra. “Eu chegava à casa dos herdeiros, em Petrópolis, às nove da manhã e só saía às sete da noite. Ficava de pé, ao lado de uma máquina, copiando as páginas das revistas. Fiz esse garimpo durante um ano, tempo de duração da bolsa. Não me custou sacrifício nenhum, pois o entusiasmo era maior. Estava descobrindo um continente. Agi como o espanador de um país sem memória.
Vinte e seis anos depois, o pesquisador está lançando o décimo livro em torno de J. Carlos, “Reclames” (Edições Folha Seca), que contempla sua produção para propaganda. Ousado, ele era capaz de bolar um desenho com Ruy Barbosa recomendando as virtudes do vermute Cinzano para o presidente Rodrigues Alves. Num tempo em que a fotografia era pouco utilizada e o número de analfabetos enorme no Brasil, fazia com que as latas de goiabada Peixe e as garrafas de Biotônico Fontoura saltassem e capturassem o olhar.
“Sua faceta publicitária é uma das minhas prediletas. Está tudo lá: a sobriedade, a elegância, a limpeza formal, que refletem inteligência visual e clareza mental”, define Cássio.
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