Avisando que se encontra num momento de perder amigos, o presidente do Insper, Marcos Lisboa, não poupou o setor privado de responsabilidade pela crise pela qual passa a economia brasileira. De acordo com ele, que falou para empresários ligados à Câmara de Comércio Francesa, é injusta a tentativa de se querer responsabilizar apenas o governo pela agenda econômica que levou o País à crise atual. "É injusto dizer que essa agenda é só do governo, o setor privado a apoiou", disse o economista.
De acordo com Lisboa, quando o governo reduziu a taxa de juros (a Selic chegou a 7,25% ao ano), o setor privado aplaudiu a decisão em praça pública. Ainda de acordo com ele, é uma profunda injustiça dizer também que o governo não deu incentivo à produção, ao investimento. "Deu as proteções que o setor pediu. O setor privado apoiou essa a agenda do governo", disse.
Ninguém, de acordo com Lisboa, que fez questão de salientar que não tem nenhum apreço pelo atual governo, dá R$ 450 bilhões de crédito a uma taxa de 4,5% ao ano pelo BNDES sem estimular o investimento. Para ele, o governo incentivou o setor de máquinas, caminhões e promoveu desonerações para a indústria. Só que, de acordo com ele, os investimentos não foram feitos.
Segundo Lisboa, o problema de Brasília é o Brasil que pede proteção e o governo sensível a uma agenda de proteção. "A indústria automotiva tem proteção faz 70 anos, há algo errado nisso", disse o presidente do Insper. Para ele, quando a Fiesp apoia a intervenção do governo no setor elétrico, é um equivoco. Lisboa arrancou risos da plateia ao dizer que não está podendo mais se aproximar da Avenida Paulista porque é também contra a cobrança de contribuições dos empresários para o Sistema "S".
Não se vê, de acordo com ele, nenhuma prestação de contas destes serviços, assim como também não há nenhuma fiscalização de resultados dos sindicatos patronais e de trabalhadores. "O setor privado cavou essa crise", fuzilou o economista.
Lisboa deu como um exemplo de distorção na economia brasileira a legislação que regulamenta o PIS/Cofins, que tem, nas palavras dele, cerca de 1.800 páginas pela imensas quantidade de exceções. "É impressionante essa quantidade de distorções que o Brasil vai concedendo. A sociedade tende a acreditar que todo mundo tem direito a tratamentos diferenciados. E essa agenda aumentou depois de 2008", criticou o presidente do Insper.
E, de acordo com Lisboa, essa agenda foi um retrocesso da economia e a sociedade brasileira que tem participação nisso quer agora dar proteção para a indústria siderúrgica. "Toda política de proteção vai gerar custos para alguém na sociedade. Lisboa, que preside uma instituição de ensino, criticou também a política educacional brasileira, que caminha na contramão de muitos outros países. Para o economista, enquanto outros países privilegiam o ensino fundamental, o Brasil privilegia a universidade.
Num momento de crise, questionou Lisboa, para que manter a gratuidade da Universidade de São Paulo (USP) para meia dúzia de ricos?
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