Brasil se mantém na 79ª posição em ranking de IDH
Relatório das Nações Unidas analisa 188 nações e territórios; País tem índice de 0,754, o mesmo obtido no ano anterior e está empatado com a Ilha de Granada
BRASÍLIA - O Brasil ficou estagnado no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Relatório das Nações Unidas divulgado nesta terça-feira, 21, revela que o País alcançou o indicador 0,754, de uma escala de 0 a 1. O mesmo obtido no ano anterior. Com esse desempenho, ele se mantém na 79ª posição no ranking, empatado com a ilha de Granada. Pior: cairia 19 posições no ranking se a desigualdade fosse levada em conta.
O País permanece no grupo classificado de Alto Desenvolvimento Humano. A Noruega, primeira da lista, alcançou IDH 0,949. A pior colocação foi da República Centro-Africana, com 0,352. O resultado interrompe um ciclo de crescimento nos valores do IDH brasileiro verificado desde 2004, quando o País apresentou a marca de 0,694. “O desempenho acende uma luz amarela”, avaliou a coordenadora do Relatório de Desenvolvimento Humano Nacional, Andrea Bolzon. “Temos de ficar atentos. A série histórica indicava um crescimento ininterrupto. É preciso verificar o que aconteceu. Fico preocupada como brasileira”, disse.
Participam do ranking 188 países e territórios. A tendência, afirma Andrea, é de que todos avancem nos indicadores. Na edição deste ano, por exemplo, 159 países apresentaram melhora no IDH, 13 diminuíram e 16 ficaram estagnados, entre eles, o Brasil. A queda foi registrada sobretudo em países que enfrentaram condições adversas, como a Síria.
Para Andrea, o desempenho brasileiro é reflexo da crise econômica que o País já enfrentava em 2015, ano da coleta dos dados do relatório. A pesquisadora observa, por exemplo, que entre 2014 e 2015 a pobreza no Brasil aumentou, rompendo um ciclo de queda identificado desde a década anterior. Dados indicam que, em 2015, 3,63% da população vivia em situação de extrema pobreza, com uma renda mensal per capita de até R$ 70. Naquele mesmo ano, 9,96% da população era classificada como vulnerável à pobreza, com rendimento de até R$ 140 reais por mês.
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O desemprego, por sua vez, cresceu de forma expressiva neste mesmo período. Os mais afetados foram jovens. A taxa de desemprego entre 15 a 24 anos em 2015 era de 23,1%, bem acima dos 17% identificados em 2014. Em seguida, estavam as mulheres. O nível de desemprego entre mulheres cresceu de 8,9% para 11,8% no biênio 2014-2015, de acordo com dados da PNAD.
"O que precisa ser feito para que essa tendência não se reforçar? Essa é a reflexão que temos de fazer. Que tipo de políticas precisam ser desenvolvidas para que pessoas consideradas em situação de vulnerabilidade não caiam na pobreza e para que aquelas que já estão nessa situação, possam sair", disse Andrea.
Desenvolvido há 26 anos, o IDH tem uma escala de 0 a 1. Quanto mais próxima de um, melhor a situação do país. As notas são dadas a partir da avaliação de três quesitos: saúde, educação e rendimento.
Entre 1990 e 2015, a média de crescimento do IDH brasileiro foi de 0,85% ao ano. A análise dos dados mostra que o que levou o País a quebrar essa trajetória foi o padrão de vida. A renda nacional per capita foi de 14.145 P.P.P. (paridade de poder de compra, uma medida internacional usada para permitir comparação entre diferentes moedas). Em 2014, a renda havia sido 14.858. O relatório mostra que, em 2015, a renda per capita na Turquia, por exemplo era de 18.705. Já no México era de 16.383 e no Chile, de 21.665.
Nos outros quesitos do IDH, o País apresentou uma discreta melhora. A expectativa de vida (usada para medir o desenvolvimento na área de saúde) foi de 74,7 anos. Mais do que os 74,5 indicados em 2014. Na área de conhecimento, o Brasil obteve um pequeno avanço na média de anos de estudo. Passou de 7,7 em 2014 para 7,8 em 2015. Por outro lado, chama a atenção da estagnação de outra variante usada para avaliar o conhecimento, a expectativa de anos de estudo. Desde 2013, esse indicador não ultrapassa a marca dos 15,2 anos.
O IDH brasileiro está um pouco acima da média regional da América Latina e Caribe, que foi de 0,751 em 2015. Na comparação entre BRICS, apenas a Rússia traz um IDH superior ao do Brasil: 0,804. China, África do Sul e Índia aparecem no ranking em posições abaixo do País, com indicadores 0,738, 0,666 e 0,624, respectivamente.
"É triste pensar que estamos estagnados mas se olharmos por uma outra perspectiva percebemos que o País vem crescendo ao longo dos anos", afirmou Andrea. Ela chama a atenção para o fato de indicadores mais recentes apontarem para um início de recuperação econômica. Para ela, no entanto, é preciso fazer uma análise cuidadosa para traçar estratégias que permitam que a retomada seja feita de forma sustentável e duradoura, sem esquecer ações importantes de proteção social que sirvam como um "colchão amortecedor" para grupos mais vulneráveis. "É preciso retomar sem perder de vista a proteção social. Se crescer a qualquer preço a gente pode pagar um preço alto." Entre elas, ações afirmativas e de acesso a renda.
Correções
21/03/2017 | 20h08
No fim da tarde, a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou revisão dos dados da série histórica e as novas informações indicam que a é primeira vez que o Brasil está estagnado desde 2004 e não desde o início da série histórica.
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