terça-feira, 7 de março de 2017

Ciro vê junho como mês-chave para definir chances de vitória, FSP (2002)

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CONVENÇÃO FRENTE TRABALHISTA

Preocupado com estigma de outsider, presidenciável aposta na exposição de TV para superar quarto lugar


DA REPORTAGEM LOCAL 

Mais do que o mês da oficialização da candidatura de Ciro Gomes (PPS) à Presidência da República, junho representa um marco nas pretensões do ex-ministro de ocupar a cadeira de Fernando Henrique Cardoso.
Após o final da Copa do Mundo e, sobretudo, depois de os horários partidários do PPS, PDT e PTB irem ao ar, acabam as desculpas sobre desvios provocados no nível de atenção do eleitor e sobre a falta de tempo na televisão.
Por essas razões, ""E se não crescer?" é agora a pergunta que mais incomoda integrantes da Frente Trabalhista que apóia a candidatura do ex-ministro da Fazenda.
Hoje com 11% das intenções de voto, conforme o Datafolha, Ciro tem dito que precisa chegar ao horário eleitoral com 15% nas pesquisas para manter a competitividade de sua candidatura. Avalia também que, se conseguir atingir os 23%, será o adversário de Lula no segundo turno.
Na tentativa de contornar a pouca visibilidade, adotou uma "tática de guerrilha", dividindo-se entre palestras para estudantes e empresários por todo o país. Fez o possível para conquistar a confiança do "establishment" e superar o estigma de "outsider" e de ser uma espécie de ""novo Collor", como detesta ser chamado.
Enquanto esperam por uma posição menos incômoda que o atual quarto lugar, seus partidários tentam manter o otimismo, listando dificuldades já superadas. Hoje os partidos festejam a candidatura que será homologada amanhã, na cidade natal de Ciro, Pindamonhangaba (SP). A escolha visa reforçar a origem paulista do presidenciável. Cerca de 8.000 pessoas são esperadas.
Determinado a suceder FHC, Ciro condicionou sua permanência na disputa à conquista de apoios que lhe garantissem estrutura partidária, mas, mais do que isso, aparições na TV superiores aos cerca de 30 segundos a que teria direito se permanecesse apenas com o nanico PPS.
Com esse objetivo, em 1999, foram iniciadas as conversas com o PTB. O passado recente da sigla, de imagem associada ao adesismo incondicional ao governo, provocou dúvidas sobre a durabilidade de uma eventual aliança.

Flerte
"Terrorismo", sentenciava Ciro sobre as previsões pessimistas. E foram não só ofertas de cargos por parte do governo federal, como também flertes intermináveis com Fernando Henrique, a quem a legenda chegou a oferecer um jantar no ano passado.
Uma reunião para desarmar espíritos e abrir caminhos para ""negociações" no Congresso, segundo definição dada à época pelo presidente da legenda, o deputado federal José Carlos Martinez.
Além de mais espaço na mídia, o partido deu ao ex-ministro os recursos financeiros que lhe faltavam. Pesquisas, alguns gastos com viagens e até a disponibilidade do jatinho de Martinez passaram a ser oferecidos pelo PTB.
Às negociações com o partido de Martinez, somou-se, no final de 2000, a aproximação com o PDT do ex-governador Leonel Brizola. Era o início da idéia de uma frente que daria à candidatura Ciro o verniz ideológico do trabalhismo de Getúlio Vargas, um dos ídolos do presidenciável.
Brizola, no entanto, acabou assumindo o papel do imponderável nos primeiros tempos de vida da aliança. Prometeu ficar, foi embora, ameaçou voltar, namorou Itamar Franco (PMDB), retornou cabisbaixo, mas não deixou nunca de criar problemas.

Rio Grande do Sul
O último deles, o lançamento da pré-candidatura de seu maior inimigo, o ex-governador Antônio Britto (PPS), ao governo do Rio Grande do Sul. Protestou, voltou a falar em ruptura, e por fim acabou mesmo ficando, até por não ter mais para onde ir. Mas problemática mesmo foi a atuação do PPS de Ciro e do senador Roberto Freire, maior desarticulador da aliança que pretende pela primeira vez levar o antigo PCB (Partido Comunista Brasileiro) ao poder.
Amigo de FHC a ponto de despertar uma espécie de ciúmes até no PTB, Freire contestou a aproximação entre a frente e o PFL em um momento em que até uma coligação formal entre as duas legendas chegou a ser cogitada.
Contrariando promessas feitas aos colegas de aliança, reclamou em público dos pefelistas e teve sua permanência no comando da campanha ameaçada. Também acabou permanecendo em seu posto, mas hoje, depois de tantos desencontros, foi isolado pelos demais partidos da coligação. E, embora controle sua legenda, quase não comparece mais às reuniões entre os coordenadores.
(PATRICIA ZORZAN)


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