segunda-feira, 27 de março de 2017

Cauê se vê como o nome para resgate de confiança, Tododia

Cidades

RODRIGO ALONSOREGIÃO | 25/03/2017-20:22:38 Atualizado em 25/03/2017-21:37:11
Cauê Macris (PSDB) se vê como a "cara diferente" que pode resgatar a confiança da sociedade no parlamento, que foi "perdida". Desde o dia 15, o americanense é presidente da Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo), cargo já ocupado por seu pai, o deputado federal Vanderlei Macris (PSDB). Em entrevista ao TODODIA, ele ainda apontou que a impunidade é o principal problema envolvendo a corrupção.
TODODIA - O que significa para você seguir os passos de seu pai e assumir a presidência da Alesp?
Cauê Macris - É um orgulho para mim. Eu o tenho como minha referência política, mas sou muito diferente dele, principalmente no time. Ele é palmeirense, eu sou corintiano. É evolução (risos). Mas ele é um orgulho, um exemplo de homem público para mim. Quando ganhei, no discurso de posse, falei isso. Mas tenho minha própria identidade, e ela é importante no processo. Não me elegi presidente porque sou filho do Vanderlei. Acho que isso é fruto da articulação nesse tempo que tive na Assembleia (...) Na história de São Paulo, nunca teve pai e filho que presidiram o Poder Legislativo do Estado. Para nós, é uma queda de paradigma. E, quando você marca seu nome na história, só pode se orgulhar disso. Você imagina, para mim, com 33 anos, já poder ter presidido o Legislativo na cidade onde nasci, que é Americana, e agora poder presidir o Legislativo do meu Estado. O passado vai dizer o seguinte: já entrei na história do meu Estado. Para mim, é importante isso, fazer a diferença.
Como explica a quase unanimidade na eleição a presidente, inclusive com petistas votando em você, um tucano?
Credibilidade. Construção política se dá com palavra. Você tem de ser uma pessoa que cumpre aquilo que promete. Essa foi a construção que tive nos seis anos que estou na Assembleia. Desde o primeiro dia do meu mandato até a eleição para presidência, o meu histórico na Assembleia é de uma pessoa que cumpre compromisso em todos os cargos que passei. Já fui relator do Orçamento duas vezes consecutivas, cargo importante por conta da articulação que você precisa para aprovar junto de grandes lideranças. Já fui líder da minha bancada, que é a maior da Assembleia. Nos últimos dois anos, liderei o governo aprovando tudo que ele tinha de interesse dentro da Assembleia. Em todos esses passos que fui dando, fui conquistando a credibilidade dos meus colegas, seja com a situação ou oposição. Quando coloco meu nome e consigo indicação da minha bancada para ser candidato a presidente, todas as bancadas com quem eu converso e conversei entenderam a necessidade por conta da credibilidade que sempre tive e do momento político que nós vivemos. A Assembleia estava em um momento de colocar uma cara diferente no comando. Ser eleito presidente com 33 anos é diferente. Isso é o primeiro passo para tentar resgatar a confiança da sociedade no parlamento, que foi perdida. Agora depende muito de mim, dos meus atos, para conseguir fazer essa construção penetrar na sociedade.
A que atribui esta ascensão meteórica de um deputado jovem numa casa tradicionalmente com deputados mais velhos?
A linha é a mesma: credibilidade. Tenho uma característica de articulação. Se eu falar um bom atributo meu, eu me sinto um bom articulador. E a linha de proposta que eu tenho agradou muitos deputados, que é transparência, austeridade e inovação. Esse é o tripé da minha gestão como presidente.
Mas considera rápida esta ascensão?
Sim, foram seis anos. Cheguei ao topo do Legislativo do nosso Estado em um mandato e meio e meio. Com certeza, foi muito rápido. Tenho dúvida nenhuma disso.
Como você lida com sua agenda com a família?
Tenho trabalhado 16 horas por dia. Essa tem sido minha rotina desde que me elegi. Sou o primeiro a chegar à Assembleia e o último a sair todos os dias. Estou saindo da Assembleia à meia-noite. O consumo da demanda mudou 180 graus, é outra coisa, porque agora é uma demanda institucional, política, parlamentar. Hoje (anteontem), fui convidado para ir à posse do novo general que vai assumir o comando do Exército. Você vai falar assim: "O que isso soma?". Mas eles querem o presidente da Assembleia lá. Aí tenho a demanda política, com prefeitos, vereadores, as pessoas que são meus parceiros políticos. Tenho uns 40 prefeitos que querem me visitar na Assembleia. Aí, depois, tenho a demanda parlamentar. Não dá para ficar no gabinete da presidência. Se eu fico lá, fico atendendo demanda de deputado o dia inteiro. E tem a quarta demanda: administrativa. Toda a estrutura administrativa depende do meu comando para tomar as decisões. São quatro frentes que competem com a minha família. Então, se você perguntar para mim o que estou fazendo, não sei ainda. Ainda não consegui organizar. Estou tentando criar critério. Infelizmente, não dá para atender todo mundo. O lado bom: as pessoas entendem. Antigamente, o prefeito ia falar comigo e ficava uma hora. Hoje, o mesmo prefeito se satisfaz só em tirar foto e apertar a mão. Então, existe uma compreensão também por parte da demanda política, mas não existe compreensão por parte da demanda administrativa, que depende diretamente de mim. Administro R$ 1,130 bilhão. Não existe compreensão por parte da minha mulher. Queria que ela entendesse, mas é difícil. O afastamento que preciso ter da minha família... Faz uma semana que só vejo meus filhos dormindo.
Sua mulher tem reclamado dessa situação?
Ela está sendo muito compreensível comigo. Meus filhos não entendem porque são muito pequenos, mas minha mulher está sendo muito compreensível comigo neste momento. Não posso reclamar. Mas é claro, tem cobrança. Nesse fim de semana, tive de cancelar toda a agenda para ir ao aniversário do amiguinho dos meus filhos. Também preciso cultivar essa relação. Depende muito de mim. Preciso deixar um espaço para a família também.
Como analisa a situação política pela qual passa o País?
A população não confia mais no político. O sistema político está falido, infelizmente. Precisamos mudar isso. A política é o único instrumento que temos para mudar a realidade das pessoas. E, quando as pessoas não acreditam mais nesse instrumento, está na hora de mudar. O sistema eleitoral, na minha opinião, está falido. Tenho a minha crença de como deve ser o processo eleitoral. Acredito no voto distrital misto, no qual você elege um representante da região e um representante da ideia. Você vota duas vezes no deputado, sendo um voto majoritário, no deputado da região, e um voto no partido. E o resgate da credibilidade depende muito de nós. Tenho de tomar medidas nesse sentido. Tenho exercido na plenitude o tripé que falei para você. Inovação e transparência: estamos construindo um convênio com a Transparência Brasil para organizar um aplicativo no qual todo cidadão pode, de maneira simples e fácil, consultar qualquer informação de qualquer deputado. Vamos chamar de Fiscaliza Cidadão. Austeridade: já determinei que nenhum contato será reajustado. Tínhamos uma média de 12% de reajuste em todos os contratos. Já determinei que vou renegociar com todos os empresários que têm contrato com a Assembleia. Vou pedir de 10% a 20% de desconto para todos os contratos. Vamos romper todos aqueles contratos que são supérfluos. Já comecei rompendo, desde a máquina de café expresso. Ontem (quinta-feira), visitei a gráfica da Assembleia, onde há máquinas gigantes alugadas. Já estou mandando devolver também. Tenho saído à noite da Assembleia e as luzes todas acesas. Já mandei apagar tudo. É cuidar do dinheiro público da mesma maneira que cuidamos do nosso dinheiro. Fiz muito isso quando fui presidente da Câmara aqui (em Americana).
E a situação econômica?
Estamos no ápice da crise. Daqui para frente, é crescimento. Treze milhões de desempregados, muita dificuldade econômica, falta de crédito na praça... Não vai cair mais do que isso. Inclusive, indicadores já mostram que a arrecadação do Estado já começou a subir de novo. Começou mais pela Capital num primeiro momento, mas isso vai começar a irradiar no interior agora. Acredito que, do meio para o fim do ano, com certeza no início do ano que vem, já estaremos crescendo novamente.
Acredita que a Lava Jato acabará com a corrupção?
O maior problema da corrupção é a impunidade. Precisamos fortalecer os nossos instrumentos fiscalizadores. Dou um exemplo muito simples. Você vai para um barzinho com os amigos na esquina da sua casa e toma uma cerveja, mas estacionou o carro em frente ao barzinho. Você pega o carro e o leva para casa. Muita gente faz isso. Se você tiver certeza de que, no meio do quarteirão, terá um comando que vai te pegar, cassar a sua habilitação e te multar, você não vai fazer isso. Corrupção existe em todos os segmentos. O que precisamos ter são organismos fiscalizadores fortes. Por exemplo, na Assembleia, não temos nenhum instrumento fiscalizador de controladoria interna. Decidimos, na primeira reunião de mesa que fiz, que vamos criar a Controladoria interna da Assembleia, para analisar cada um dos contratos, cada uma das ações administrativas que forem tomadas. Vamos fazer concurso público para isso. Então, quanto mais instrumentos fiscalizadores tivermos, as pessoas têm certeza de que não ficarão impunes se cometerem um delito (...)
O que te faz ser o “queridinho” do governador? Quando começou essa aproximação entre Cauê e Alckmin?
Conheço o Geraldo desde os meus 8 anos. Ele era deputado com o meu pai. Ele me viu crescer. Quando fui para a Assembleia, sempre procurei mostrar para ele que sou diferente. A minha maneira de pensar é muito próxima à dele do ponto de vista administrativo. Penso que o Estado tem de ser o mínimo inchado possível, penso que temos de gerir o dinheiro público da mesma maneira que gere a empresa privada. O nosso pensamento é muito próximo. Então, a hora que fui conseguindo mostrar para ele que combinamos nas ideias, a gente foi se aproximando cada vez mais. E a aproximação de vez com ele foi quando fui líder do governo dele. Mas temos uma diferença grande: ele é santista (risos).
Em quem você apostaria como candidato tucano à presidência?
Não aposto em ninguém. Tenho certeza de quem vai ser: Geraldo Alckmin (...) Ele é o candidato. O partido o quer, todo mundo o quer.
Acredita no envolvimento dele em denúncias de caixa dois em citações de delação?
Nenhum envolvimento. Convivo com o Geraldo há dois anos. Geraldo é um cara franciscano ao extremo. A camisa dele está até rasgada. É uma pessoa que não liga para dinheiro. Ele tem vocação pública. Quem convive com ele sabe disso.
Você se sente credenciado a concorrer a governador algum dia?
Quem vai dar os nossos próximos passos é o povo. Enquanto a população me der a oportunidade de continuar trabalhando para ela, vou continuar (...) Tenho orgulho de ser político (...)
Mas você tem o objetivo de ser governador?
O futuro só a Deus pertence. Não depende de mim. Vou continuar trabalhando e vou servir da maneira que eu puder.

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