Usinas paradas por falta de conexão ajudariam a manter nível de reservatórios
Terça, 15 de Abril de 2013, 21h55
Renée Pereira e Wellington Bahnemann, de O Estado de S. Paulo
O Brasil poderia ter economizado cerca de R$ 500 milhões em 2012 se os parques eólicos construídos no Nordeste estivessem em operação. Desde meados do ano passado, novas usinas com capacidade para gerar 622 megawatts (MW) - potência suficiente para abastecer 1,1 milhão de residências durante um mês - estão paradas por falta de linha de transmissão.
Se estivessem funcionando, o País poderia poupar mais água nos reservatórios e usar menos termoelétricas a óleo combustível e diesel, caras e poluentes. Segundo cálculos da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), apenas em dezembro, as centrais eólicas em operação foram responsáveis por evitar outros R$ 500 milhões em Encargos por Razão de Segurança Energética (ESS) para cobrir o custo das térmicas.
Responsável pela construção das linhas de transmissão, a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) argumenta que não conseguiu as licenças ambientais a tempo para tirar os projetos do papel. Resultado disso é que vários parques eólicos ficaram prontos em julho do ano passado e até agora não têm linha de transmissão para escoar a energia produzida.
Os prejuízos são enormes. Mesmo sem produzir, o contrato garante receita às geradoras. São R$ 370 milhões pagos pelo consumidor sem que um único MW seja gerado - ou seja, o consumidor paga a receita da usina parada e ainda ajuda a pagar o encargo maior pela geração térmica. A presidente da Abeeólica, Elbia Melo, alerta que neste ano outras usinas eólicas vão enfrentar o mesmo problema. Segundo ela, que lançou ontem o Boletim Anual de Geração Eólica, a expectativa é que até o fim do ano cerca de 1.300 MW de energia estejam instalados sem linha de transmissão para permitir o início de operação das usinas.
"Para o empreendedor, embora esteja recebendo, ficar parado não é bom. Além do custo alto, ele perde prazo de garantia dos equipamentos. Quando começar a operar, se o equipamento der problema, ele pode estar fora do prazo de garantia e ter mais prejuízo", afirma o presidente do conselho de administração da associação, Otávio Silveira.
Leilão. O atraso na entrega das linhas de transmissão criou ainda outros contratempos para a indústria eólica a ponto de reduzir a oferta de usinas nos leilões de 2013. O motivo é a decisão do governo de não permitir a participação dos projetos que dependem da construção de sistemas de transmissão para escoar a energia. "No ano passado, tínhamos oferta de 14 mil MW em novos projetos. Com a restrição, o volume pode cair para algo em torno de 2 mil MW", afirmou Elbia.
A executiva disse, entretanto, que há sinalização do governo de que a regra possa ser flexibilizada, desde que o próprio gerador se comprometa a realizar o investimento para a conexão da usina à rede elétrica. Há a possibilidade de que os geradores formem um "pool" para realizar os investimentos, o que reduziria os custos de conexão. "Nessa configuração, não sabemos qual seria a oferta dos leilões." Hoje, o gerador já realiza o investimento de conexão da usina eólica com a rede elétrica.
Mas o tamanho da linha de transmissão que será construída para a conexão com a subestação mais próxima será muito maior do que no passado. "O empreendedor pode ter de construir uma linha de transmissão de 100, 200 ou 300 kms."
Recentemente, o presidente da Empresa de Pesquisa Energética, Maurício Tolmasquim, reconheceu que não haveria tempo suficiente para realizar um leilão de transmissão para construir a infraestrutura para os projetos eólicos que venham a disputar o leilão de energia nova deste ano, que contratará a demanda do mercado cativo em 2016. Por essa razão que a quantidade de empreendimentos da fonte eólica deverá ser significativamente menor nos leilões deste ano. "Para o médio e longo prazo, a sinalização da EPE é de que o problema está resolvido", afirmou Elbia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário