Presidente considera combustível produzido em terra no Brasil fonte de energia pouco competitiva e com potencial desperdiçado
16 de abril de 2013 | 2h 07
SABRINA VALLE, FERNANDA NUNES / RIO - O Estado de S.Paulo
O governo, a mando da presidente Dilma Rousseff, vai usar a rede de transmissão elétrica para suprir a carência de gasodutos no País e tornar viável o uso do gás produzido em terra no Brasil, hoje uma fonte de energia pouco competitiva e com potencial desperdiçado. A ideia, encampada pela Petrobrás, é transformar o gás em energia elétrica por meio de termoelétricas ao lado do poço de produção, usando posteriormente a rede de linhas de transmissão para escoá-la. A estratégia replicaria a nova e bem-sucedida experiência da OGX/MPX no Maranhão.
"É um modelo mais barato do que o de gasodutos. Hoje, já é uma necessidade. O gás só tem viabilidade comercial se puder ser monetizado (transformado em dinheiro)", disse o superintendente de Planejamento, Pesquisa e Estatística da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Elias Ramos de Souza.
A diretora-geral da ANP, Magda Chambriard, disse que a agência vai mapear as linhas de transmissão do País e apresentar o estudo ao mercado antes do leilão de áreas focado na exploração de gás em terra, em outubro. Gasodutos são investimentos caros, viáveis para grandes volumes. Já as térmicas podem servir à produção em menor escala, abrindo espaço para que depois seja expandida. "Foi uma ideia da presidente Dilma", destacou Magda.
A Petrobrás montou um programa de produção de gás onshore (Prongás) com uma equipe dedicada a estudar o potencial de gás das bacias brasileiras. A presidente da estatal, Graça Foster, disse que blocos próximos à rede elétrica estão na mira.
"O objetivo desse gás em terra é para geração de energia elétrica. Acreditamos que podemos repetir um projeto, muito conhecido no mundo, de produzir o gás e transformá-lo em energia elétrica na boca do poço, injetando esses elétrons nas linhas de transmissão sem precisar de gasodutos", disse Graça, após evento sobre os planos da companhia.
Outras empresas também estudam a malha de transmissão elétrica, segundo fonte do governo. A ideia ganhou força depois que a ANP marcou para três aguardados leilões de áreas exploratórias, após cinco anos sem rodadas. O primeiro, em um mês, terá 123 blocos em terra (além de 166 áreas marítimas), parte com potencial para gás. O de outubro será focado em gás em terra. O terceiro será em novembro, o primeiro do pré-sal.
Magda não descarta que o potencial de gás ainda inexplorado no País possa superar os 50 bilhões de barris de óleo equivalente do pré-sal. Segundo a fonte do governo, a malha de gasodutos do País também será expandida, por exemplo, em Minas Gerais e no recôncavo baiano.
Hoje, apenas 16% da produção nacional de gás vêm de terra, segundo o Ministério de Minas e Energia. Dois terços da demanda total de quase 60 milhões de m³/dia de gás são consumidos pela indústria. É uma fonte usada para produção de cerâmica, vidro e outros produtos com alto consumo energético.
Outra opção para transformar o gás em negócio é a criação de consumo perto da produção, como a unidade de fertilizantes nitrogenados que a Petrobrás constrói em Três Lagoas (MS).
Gasoduto. Magda lembrou que a OGX produz na bacia do Parnaíba volume insuficiente para garantir a construção de um gasoduto. Mas, com a termoelétrica, viabilizou a produção e agora já tem condições de expandi-la.
Os números, segundo fontes, justificam o negócio. O gás natural líquido é importado a cerca de US$ 15 por milhão de BTU. Chega pelo gasoduto da Bolívia entre US$ 10 e US$ 11 por milhão de BTUs. Já a OGX vendeu para a MPX o gás entre US$ 5 e US$ 6.
O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, disse que deverá ser avaliada a proximidade da rede de transmissão e sua capacidade ociosa. "Precisa ser caso a caso. Mas sem dúvida é uma alternativa".
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