sexta-feira, 12 de abril de 2013

Com eclusa, Tietê terá mais 14 km navegáveis


BRUNO RIBEIRO, TIAGO DANTAS - O Estado de S.Paulo
O governo do Estado pretende começar, em junho, a construção de uma eclusa na barragem da Penha, zona leste de São Paulo. Prevista para ser entregue no fim do ano que vem, a obra vai permitir que mais 14 quilômetros do Rio Tietê sejam navegáveis por barcaças. A construção do sistema de diques que permite a passagem de embarcações entre diferentes níveis de água seria mais um passo para a criação do Hidroanel Metropolitano.
Quando a obra terminar, será possível navegar por 58 quilômetros do Tietê: entre São Miguel Paulista, na zona leste, e Santana de Parnaíba, na Grande São Paulo. Além disso, a intervenção na Penha também poderá aumentar a capacidade de retenção de água da chuva em um valor equivalente a 65 piscinões do Pacaembu.
A navegação do Tietê faz parte de um projeto maior, que prevê 186 km de hidrovias em torno da Grande São Paulo. Além do principal rio da capital, as embarcações usariam o Rio Pinheiros e as Represas do Guarapiranga, Billings e Taiaçupeba.
Para formar um círculo completo, também será preciso construir um canal de 16 km entre Ribeirão Pires e Suzano. A passagem pelo espigão de 30 metros de altura entre as duas cidades exigiria um curso de água artificial com uma solução parecida com a do Canal do Panamá, entre os Oceanos Atlântico e Pacífico. Os barcos atravessariam a montanha por meio de um sistema com várias eclusas.
Serviço. A hidrovia deverá ser feita por fases. No início, ela deve ser usada para fazer o desassoreamento do Rio Tietê. Parte do lixo retirado da calha já é transportado para a Lagoa de Carapicuíba por barcaças.
A vocação para este tipo de transporte foi definida após estudo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), mas o uso do hidroanel para transportar resíduos sólidos deve ser discutido em 2023, quando expiram os contratos de coleta de lixo na capital. A cidade produz 18 toneladas de lixo por dia.
Uma segunda etapa do projeto levaria as embarcações para o Rio Pinheiros - entre o Cebolão e o bairro de Pedreira, zona sul da capital. Esta segunda fase incorporaria ao leito dos rios áreas destinadas à triagem e reciclagem do lixo. O estudo do IPT mostrou também que o transporte de resíduos da construção civil não seria vantajoso, pois ele é gerado e descartado de forma pulverizada pela cidade. Também não se mostrou viável carregar o lodo retirado dos esgotos pela Sabesp, que já criou uma rede de dutos para fazer o serviço.
"Resolvemos focar no transporte de sedimento da dragagem do rio em um primeiro momento para mostrar que é possível ter uma hidrovia em São Paulo. Além disso, é uma demanda constante. Todo ano, há 2 milhões de metros cúbicos de lixo para tirar do Tietê", diz Casemiro Tércio, diretor do Departamento Hidroviário da Secretaria Estadual de Logística e Transportes.
O governo estima um investimento de R$ 100 milhões para fazer a eclusa na Penha. Segundo Tércio, esse investimento é comparável ao que se economiza em um ano ao deixar de fazer o transporte do lixo do rio por caminhões. Mesmo assim, ele é cauteloso ao falar do hidroanel. "Se a gente garantir o sucesso dessa fase da hidrovia, podemos começar a pensar na circum-navegação da Região Metropolitana."

Projeto prevê transporte, parques e reurbanização

11 de abril de 2013 | 2h 03

O Estado de S.Paulo
O Hidroanel Metropolitano não é só um projeto de transporte. O estudo foi pensado para produzir um modelo de cidade mais inteligente, segundo o professor Alexandre Delijaicov, coordenador do Grupo de Pesquisa em Projeto de Arquitetura de Infraestruturas Urbanas Fluviais da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP).
O projeto desenvolvido pelo grupo prevê recuperação das margens dos rios, interligação de redes de transporte, construção de parques e reestruturação da coleta de lixo. "Pensamos no uso múltiplo das águas e no desenvolvimento urbano da orla fluvial da metrópole. O problema dos rios urbanos não é uma questão de hidráulica. É uma questão social", afirma Delijaicov.
O professor lembra que São Paulo se desenvolveu sem respeitar seus cursos d'água. "Hoje não temos rios. O Tietê e o Pinheiros são canais. Nós perdemos os rios completamente." / B.R. e T.D.

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