sábado, 20 de abril de 2013

Índice de cálculo - RUY CASTRO



FOLHA DE S. PAULO - 20/04

RIO DE JANEIRO - Daniel Craig, o atual James Bond, foi contratado há dias para abrilhantar o coquetel de lançamento de um carro em Nova York. Chegou, ficou sete minutos no recinto, murmurou passar bem e foi embora. Não deu entrevistas. O locutor do evento mal pôde anunciar sua presença. Cachê: US$ 1 milhão.

É um bom índice para se calcular a desvalorização da moeda. Na primeira vez que um ator recebeu US$ 1 milhão por um trabalho, houve um estupor --era dinheiro demais, ninguém podia valer tanto. Aconteceu há 50 anos, e a contemplada foi Elizabeth Taylor, para fazer o papel-título em "Cleópatra", que estava sendo filmado em Roma.

Por causa daquele milhão, Elizabeth conheceu Richard Burton e eles se entregaram a um romance incendiário. Os dois eram casados. Sua paixão dividiu o mundo, metade contra, metade a favor, e todos os dias explodia uma novidade. Os "paparazzi" tomaram Roma de assalto. Enquanto Taylor e Burton se beijavam na frente e atrás das câmeras, seus cônjuges --o cantor Eddie Fisher, em Los Angeles, e a atriz Sybil Christopher, em Londres-- despertavam a piedade universal.

Também por causa de Liz, que acordava "indisposta" --de ressaca--, chegava tarde ou não ia filmar, "Cleópatra" atrasou barbaramente. A Fox ameaçou quebrar. Incapaz de bancar as despesas nas duas frentes, Roma e Hollywood, o estúdio demitiu a atriz complicada que estava lhe criando problemas em outro filme: Marilyn Monroe. Que morreu um mês depois. "Cleópatra" ainda levou um ano para ser concluído. E, com suas quatro horas de projeção, nunca se pagou.

Liz e Burton livraram-se de seus ex e partiram para um casamento que, no futuro, seria comparado à Terceira Guerra. Burton teve de pagar US$ 1 milhão a Sybil por sua liberdade. Mas, aí, já estávamos em 1964, e US$ 1 milhão começava a se desvalorizar.

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