terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Novo salário mínimo de R$ 1.412 passa a valer nesta segunda-feira; entenda o que muda, g1

 O novo salário mínimo nacional, de R$ 1.412, passa a valer a partir desta segunda-feira (1º). O valor responde por um aumento de quase 7% (R$ 92 a mais) em comparação aos R$ 1.320 válidos até dezembro de 2023.

O cálculo tinha sido antecipado pelo g1 e inserido como previsão no Orçamento de 2024. O decreto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi publicado na última quarta-feira (27).

Com o novo valor, quem recebe o salário mínimo (ou múltiplos dele) ou benefícios vinculados a esse valor — como o seguro-desemprego e o Benefício de Prestação Continuada (BPC), por exemplo — já recebe o total reajustado no início de fevereiro.

Entenda abaixo como funciona o salário mínimo, o que muda com o novo valor e qual a regra de reajuste.

Como funciona o salário mínimo?

Como o nome já indica, o salário mínimo é a menor remuneração que um trabalhador formal pode receber no país.

A Constituição diz que trabalhadores urbanos e rurais têm direito a um salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado.

Esse valor deve ser capaz de atender às necessidades vitais básicas — como moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social — e deve ter reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, "sendo vedada sua vinculação para qualquer fim".

Ou seja: pela Constituição, o salário mínimo tem que ser reajustado ao menos pela inflação, para garantir a manutenção do chamado "poder de compra". Se a inflação é de 10%, o salário tem de subir pelo menos 10% para garantir que seja possível comprar, na média, os mesmos produtos.

Nos governos Michel Temer e Jair Bolsonaro, o reajuste do salário mínimo seguiu exatamente essa regra. Foi reajustado apenas pela inflação, sem ganho real.

De acordo com informações divulgadas em maio pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o salário mínimo serve de referência para 54 milhões de pessoas no Brasil – um em cada quatro brasileiros.

O Dieese calcula ainda que 22,7 milhões de pessoas são diretamente atingidas no bolso pelo patamar do salário mínimo.

Além dos trabalhadores que, por contrato, recebem um salário mínimo (ou múltiplos do mínimo), há também as aposentadorias e benefícios como o Benefício de Prestação Continuada (BPC) vinculados ao mesmo valor.

O salário mínimo também gera impactos indiretos na economia, como o aumento do "salário médio" dos brasileiros e a elevação do poder de compra do trabalhador.

O que muda com o novo salário mínimo?

O novo salário mínimo, que será de R$ 1.412 a partir de 1º de janeiro de 2024, também aumenta o valor de benefícios e serviços que usam o piso nacional como referência.

Com isso, quem recebe o piso nacional (ou múltiplos dele) ou benefícios vinculados a esse valor já devem receber o total reajustado no início de fevereiro. Assim, devem ter valores maiores:

  • abono salarial PIS/Pasep;
  • benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS);
  • Benefício de Prestação Continuada (BPC);
  • seguro desemprego;
  • os valores que permitem a inscrição no Cadastro Único;
  • seguro-defeso;
  • os montantes pagos no trabalho intermitente;
  • o teto permitido para ajuizar ações;
  • contribuições mensais dos Microempreendedores Individuais (MEIs).

Como o governo chegou aos R$ 1.412?

Se cumprisse apenas a regra da Constituição, de corrigir o valor pela inflação, o governo poderia reajustar o salário mínimo dos atuais R$ 1.320 para algo em torno de R$ 1.370,82.

O cálculo leva em conta a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) em 12 meses até novembro, que foi de 3,85%.

O governo Lula, no entanto, prometeu ainda durante a campanha que retomaria a chamada "política de valorização do salário mínimo", o que significa aumentos para além da inflação.

Em agosto, o Congresso aprovou uma medida provisória editada por Lula em abril e incluiu esse mecanismo na lei. Pela nova regra, o reajuste do salário mínimo leva em conta dois fatores:

  1. a inflação medida pelo INPC até novembro, como prevê a Constituição;
  2. o índice de crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) dos dois anos anteriores.

Com isso, além dos 3,85% de inflação, o salário mínimo de 2024 crescerá 3% (ganho real) equivalente à expansão do PIB em 2022.

*Com reportagem de Mateus Rodrigues e Ricardo Abreu


Como reconhecer um lutador brasileiro no UFC?, Juliano Spyer. FSP

 A identidade dos lutadores brasileiros no universo do UFC vai além das características tradicionais como a tonalidade da pele, geralmente mais escura que a de seus oponentes, ou os uniformes em verde e amarelo. Mesmo o estilo dominante de jiu-jítsu, um legado da família Gracie, não é o que mais os distingue atualmente. O verdadeiro diferencial do lutador brasileiro hoje se manifesta na maneira como celebra sua vitória.

No ápice do triunfo, o lutador fixa o olhar na câmera, aponta para si mesmo e, com um gesto decisivo do dedo indicador, sinaliza um "não". Logo após, eleva o dedo ao céu, olhando para o alto. Este gesto, popularizado pelo lutador daguestanês Khabib Nurmagomedov, transcende a vitória pessoal e simboliza a entrega da glória a Deus.

O lutador brasileiro Charles 'Do Bronx' Oliveira, em gesto de fé
O lutador brasileiro Charles 'Do Bronx' Oliveira, em gesto de fé - Reprodução

Curiosamente, muitos desses lutadores podem não seguir rigorosamente uma religião, não serem batizados ou não se identificarem como evangélicos no sentido convencional. Porém, sob os holofotes globais, optam por se comunicar com seus fãs através da linguagem da fé, proferindo frases como "Obrigado, Deus" e "Obrigado, Jesus".

Este comportamento tem paralelos com a Roma dos primeiros séculos após Cristo, onde o cristianismo fazia parte do espetáculo público. Cenas históricas, como as retratadas em "Quo Vadis" (1951), mostram fiéis enfrentando a morte em arenas, sem resistir, como testemunho de sua fé e crença numa existência espiritual além da vida terrena. No entanto, no "circo" moderno do octógono, esses cristãos não são mais vítimas, mas gladiadores que participam ativamente no espetáculo da violência.

O lutador brasileiro Charles "Do Bronx" Oliveira, em imagem gerada pelo colunista JUliano Spyers com ajuda de inteligência artificial
O lutador brasileiro Charles "Do Bronx" Oliveira, em imagem gerada pelo colunista JUliano Spyers com ajuda de inteligência artificial - Imagem gerada a partir de DALL-E / ChatGPT

Alguns podem questionar a aparente contradição entre a religião e a violência, vendo-a como uma distorção dos ensinamentos pacifistas de Cristo. Contudo enxergo esses lutadores sob uma luz diferente.

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Eles representam indivíduos que se recusam a se conformar com os estereótipos impostos aos pobres urbanos de baixa escolaridade. Em vez de se resignarem a serem vistos como vítimas ou ignorantes, eles transmitem, juntamente com sua fé, mensagens de resiliência e superação. Charles "do Bronx" Oliveira, ex-campeão dos leves, exemplifica essa mentalidade ao responder a um oponente: "Ninguém vai me bater mais forte do que a vida já me bateu".

Essa atitude não é uma busca egoísta por prosperidade, mas um esforço contínuo e disciplinado de autodesenvolvimento. Ao invocarem Deus e Jesus após suas vitórias, eles transmitem, através das câmeras de TV, uma mensagem de esperança e perseverança: é possível vencer, nunca pare de sonhar e desejar, e, acima de tudo, nunca abandone o ringue ou desista de lutar.