sexta-feira, 28 de abril de 2023

Indefinição política no conselho do FGTS põe construção em xeque, FSP

 Julio Wiziack

BRASÍLIA

Para reforçar sua base de apoio no Congresso, o Palácio do Planalto segura nomeações do governo para o conselho curador do FGTS, o bilionário fundo que opera com dinheiro dos trabalhadores. A demora já prejudica a construção civil, um dos motores da economia.

Na semana passada, o governo publicou decreto indicando quais ministérios terão assento no conselho do fundo. Serão eles: Fazenda; Gestão e Inovação; Casa Civil; e Trabalho. O governo ainda precisa indicar seis vagas de suplente e oito nomes para o grupo de apoio permanente.Nenhum representante foi indicado até o momento.

Obras em andamento na cidade de São Paulo - 19.mai.2021-Karime Xavier/Folhapress

No centro desse impasse está a necessidade de revisão dos valores de imóveis que podem ser financiados com recursos do FGTS.

Hoje, o teto para a compra de imóveis financiados integralmente pelo fundo é de R$ 264 mil. Esse valor, no entanto, vai reduzindo dependendo da cidade. O piso é de R$ 140 mil.

Esses valores, considerados excessivamente baixos pelo mercado, restringem as operações de compra e venda a imóveis pequenos e localizados em bairros afastados do centro.

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Acima desse patamar, o financiamento habitacional só pode ocorrer pelo Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). Como o nome diz, ele utiliza recursos da poupança, mas o comprador também pode usar parte do saldo de sua conta do FGTS como entrada.

Para a Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), o drama do setor se agravou neste ano porque, com os juros elevados, o rendimento das cadernetas está muito baixo.

Resultado, o saldo da poupança —usado para lastrear os financiamentos da habitação pelo SBPE— perdeu R$ 100 bilhões nos últimos doze meses, porque os saques superaram os depósitos.

"Isso nos coloca numa encruzilhada", disse José Carlos Martins, presidente da Cbic. "O SBPE não tem recursos suficientes para os financiamentos e o FGTS não aumenta o teto para as operações."

EMPREGOS EM RISCO

Para executivos de construtoras, é preciso destravar esse nó o quanto antes porque as carteiras de novos empreendimentos, que já vinham desidratando desde o ano passado, não se renovam.

Ainda segundo a Cbic, o resultado dessa política poderá ser percebido nos próximos trimestres: queda na geração de novos empregos.

No conselho do FGTS, a avaliação é a de que, com a recriação de ministérios e com a quantidade de partidos que apoiaram Lula, as disputas pelos cargos embolaram o campo político.

Integrante do conselho curador, Maria Henriqueta Arantes afirma que o congelamento das atividades é inédito.

"Isso nunca aconteceu na história do conselho", disse à coluna. "Passamos por diversos governos, de diversas ideologias, e nunca o conselho ficou omisso em relação ao FGTS, nunca parou de funcionar por mudança de governo", disse.

Segundo ela, o conselho tinha definido medidas necessárias para o cumprimento de um orçamento mais audacioso neste ano. Elas seriam votadas em dezembro.

Com a vitória de Lula, a equipe de transição pediu para que a votação das diretrizes só ocorresse após a posse.

O conselho aceitou mas, agora, sem representantes, está paralisado.

Pelo calendário, o grupo técnico do conselho se reuniria em fevereiro e o conselho em março, o que não aconteceu. A próxima reunião está marcada para maio.

Com Diego Felix


Indefinição política no conselho do FGTS põe construção em xeque, FSP

 

BRASÍLIA

Para reforçar sua base de apoio no Congresso, o Palácio do Planalto segura nomeações do governo para o conselho curador do FGTS, o bilionário fundo que opera com dinheiro dos trabalhadores. A demora já prejudica a construção civil, um dos motores da economia.

Na semana passada, o governo publicou decreto indicando quais ministérios terão assento no conselho do fundo. Serão eles: Fazenda; Gestão e Inovação; Casa Civil; e Trabalho. O governo ainda precisa indicar seis vagas de suplente e oito nomes para o grupo de apoio permanente.Nenhum representante foi indicado até o momento.

Obras em andamento na cidade de São Paulo - 19.mai.2021-Karime Xavier/Folhapress

No centro desse impasse está a necessidade de revisão dos valores de imóveis que podem ser financiados com recursos do FGTS.

Hoje, o teto para a compra de imóveis financiados integralmente pelo fundo é de R$ 264 mil. Esse valor, no entanto, vai reduzindo dependendo da cidade. O piso é de R$ 140 mil.

Esses valores, considerados excessivamente baixos pelo mercado, restringem as operações de compra e venda a imóveis pequenos e localizados em bairros afastados do centro.

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Acima desse patamar, o financiamento habitacional só pode ocorrer pelo Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). Como o nome diz, ele utiliza recursos da poupança, mas o comprador também pode usar parte do saldo de sua conta do FGTS como entrada.

Para a Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), o drama do setor se agravou neste ano porque, com os juros elevados, o rendimento das cadernetas está muito baixo.

Resultado, o saldo da poupança —usado para lastrear os financiamentos da habitação pelo SBPE— perdeu R$ 100 bilhões nos últimos doze meses, porque os saques superaram os depósitos.

"Isso nos coloca numa encruzilhada", disse José Carlos Martins, presidente da Cbic. "O SBPE não tem recursos suficientes para os financiamentos e o FGTS não aumenta o teto para as operações."

EMPREGOS EM RISCO

Para executivos de construtoras, é preciso destravar esse nó o quanto antes porque as carteiras de novos empreendimentos, que já vinham desidratando desde o ano passado, não se renovam.

Ainda segundo a Cbic, o resultado dessa política poderá ser percebido nos próximos trimestres: queda na geração de novos empregos.

No conselho do FGTS, a avaliação é a de que, com a recriação de ministérios e com a quantidade de partidos que apoiaram Lula, as disputas pelos cargos embolaram o campo político.

Integrante do conselho curador, Maria Henriqueta Arantes afirma que o congelamento das atividades é inédito.

"Isso nunca aconteceu na história do conselho", disse à coluna. "Passamos por diversos governos, de diversas ideologias, e nunca o conselho ficou omisso em relação ao FGTS, nunca parou de funcionar por mudança de governo", disse.

Segundo ela, o conselho tinha definido medidas necessárias para o cumprimento de um orçamento mais audacioso neste ano. Elas seriam votadas em dezembro.

Com a vitória de Lula, a equipe de transição pediu para que a votação das diretrizes só ocorresse após a posse.

O conselho aceitou mas, agora, sem representantes, está paralisado.

Pelo calendário, o grupo técnico do conselho se reuniria em fevereiro e o conselho em março, o que não aconteceu. A próxima reunião está marcada para maio.

Com Diego Felix


Casamento de prefeito de Araucária com adolescente de 16 anos pode ser anulado, FSP

 Catarina Scortecci

CURITIBA

O corregedor nacional de Justiça, ministro Luis Felipe Salomão, pediu explicações sobre a formalização do casamento entre o prefeito de Araucária (PR), Hissam Hussein Dehaini, e uma adolescente de 16 anos, no último dia 12 de abril.

De acordo com informação divulgada pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) nesta quinta-feira (27), a união teria sido celebrada pela vice-prefeita de Araucária, Hilda Lukalski Seima (PSD), que é a responsável pelo cartório do município, mas que oficialmente está afastada das atividades notariais e de registro por causa do cargo eletivo.

O cartório nega que a vice-prefeita tenha celebrado a união. Margarete Terumi Seima, filha de Hilda e oficial designada para atuar no cartório desde 2016, disse à Folha nesta sexta (28) que quem celebrou o casamento foi o juiz de paz Gilson Marcos de Freitas. Ele é ex-marido de Margarete.

O prefeito de Araucária, Hissam Hussein Dehaini, que se casou com adolescente de 16 anos - @hissamoficial no Instagram

Segundo o ministro, isso violaria o Provimento 78/2020 da Corregedoria Nacional de Justiça, que trata da incompatibilidade das atividades notariais e de registro com o exercício simultâneo de mandato eletivo.

A Corregedoria-Geral da Justiça do Paraná tem o prazo de cinco dias para prestar informações à Corregedoria Nacional de Justiça sobre o caso. Se comprovada a infração, o CNJ informou que o casamento poderá ser anulado.

Responsável pelo cartório, Margarete reiterou que a mãe está afastada das atividades por causa do mandato e afirmou que o nome da vice-prefeita consta no edital de proclamas (quando os noivos dão entrada nos papéis do casório) somente por uma questão formal, já que ela é a titular do cartório.

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Ela também disse que a adolescente já era emancipada por outorga dos pais para os atos da vida civil e que, por isso, não houve necessidade de autorização dos pais para o casamento.

Pela legislação brasileira, o casamento só é permitido a partir dos 16 anos de idade. Artigo do Código Civil, contudo, define também que, para quem ainda não atingiu a maioridade civil (18 anos), o casamento depende de autorização dos pais ou responsáveis.

Procurada, a Secretaria Municipal de Comunicação Social da Prefeitura de Araucária encaminhou uma nota na qual informa que a vice-prefeita "está afastada da função de Oficial do Cartório de Registros Civis da Comarca de Araucária desde janeiro de 2017, em razão da incompatibilidade do cargo eletivo com o de tabeliã".

A reportagem ainda não conseguiu falar diretamente com o prefeito Hissam.

SOGRA FOI PROMOVIDA E DEPOIS EXONERADA

O prefeito de Araucária, um empresário milionário de 65 anos, se casou com a adolescente de 16 anos e na sequência promoveu a sogra ao primeiro escalão da administração.

Marilene Rode, mãe da adolescente, havia sido nomeada secretária de Cultura e Turismo no dia 14 de abril, apenas dois dias após o casal dar entrada nos papéis do casamento. Ela foi exonerada após a repercussão do caso.

Segundo a Prefeitura de Araucária, ela exerceu outros dois cargos comissionados na gestão Hissam —primeiro foi nomeada assessora na Secretaria de Educação, em agosto de 2021, depois se tornou diretora-geral na mesma pasta, em janeiro de 2022.

Com a exoneração em Araucária, Marilene Rode deve voltar para a Prefeitura de Curitiba, onde é servidora da área de Educação (profissional do magistério) desde 26 de janeiro de 2005.