segunda-feira, 28 de julho de 2014

O colosso da Ipiranga


A sinuosa saga do Copan
FRANCESCA ANGIOLILLORESUMO Ao longo de 22 anos, do início da venda das primeiras unidades do Copan, em 1952, até a sua conclusão, o arquiteto Carlos Lemos conduziu a construção do icônico edifício, concebido por seu colega Oscar Niemeyer. Aos 89 anos, ele lança publicação na qual narra como foi erguido o maior prédio residencial do Brasil.
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Quem vê hoje o sinuoso Copan erguendo-se no centro de uma cidade em que edifícios de porte semelhante pululam aqui e ali em questão de meses não imagina os esforços consumidos para que suas curvas passassem a dominar a avenida Ipiranga.
Foram mais de duas décadas desde que a ideia surgiu, nas dependências do Banco Nacional Imobiliário, em 1951, até que se solicitasse o último "habite-se" do edifício, em 1974.
Durante todo esse período --interrompido aqui e ali por problemas variados, indo das incertezas a respeito das fundações sobre as quais repousaria o edifício, até casos de inadimplência no pagamento das unidades habitacionais, passando por percalços na companhia empreendedora-- um homem capitaneou sua construção.
Carlos Lemos era um jovem arquiteto quando Octavio Frias de Oliveira (1912-2007), então diretor da carteira imobiliária do BNI e mais tarde publisher da Folha, sugeriu seu nome para ser braço-direito de Oscar Niemeyer (1907-2012) em São Paulo.
O carioca, autor do projeto do Copan, precisava de alguém que atuasse localmente não só nessa empreitada mas também nos outros edifícios, em diferentes etapas de andamento, que lhe haviam sido encomendados pela instituição de Octavio Orozimbo Roxo Loureiro, todos eles no centro da capital paulista.
A decoração do apartamento para onde se mudara Frias ao casar, em 1948, tinha ficado a cargo de Lemos. O rapaz, formado no Mackenzie pouco antes da concepção do Copan, acabava de projetar, também por encargo de Frias, seu primeiro grande conjunto arquitetônico, o trio de edifícios Paris, Roma e Rio, além do teatro Maria Della Costa, todos em São Paulo.
Durante o tempo em que o "s" do Copan subia, Lemos tornou-se professor na Faculdade de Arquitetura da USP, participou de exposições de arte, teve uma filha. "O primeiro ano foi bastante trabalhoso. Mas, depois de um momento, virou uma rotina", resume o arquiteto, 89, ao lembrar, em entrevista à Folha, os anos de construção, tema de livro que acaba de lançar.
"A História do Edifício Copan" [Imprensa Oficial do Estado, R$ 50, 168 págs.] é o primeiro volume da trilogia que a editora dedicará ao prédio. Os outros serão "Viver no Centro: da Colônia ao Copan" (Maria Ruth Amaral de Sampaio, Jefferson Del Rios e outros) e "Oscar Niemeyer: 34 Anotações para um Perfil", de Eric Nepomuceno.
CARÊNCIA O livro de Lemos começa com um panorama histórico da situação de moradia em São Paulo, desde o fim do século 19 até os anos do pós-Guerra, em que a classe média enfrentava um quadro de "carência habitacional", como define o autor.
A evolução das formas de morar na cidade é um dos temas de predileção do arquiteto, que até 1990 lecionou história da arquitetura na FAU-USP --hoje ainda orienta alunos na pós-graduação.
"A classe média tinha emprego, tomava bonde, ia à missa e pagava o aluguel --era parte da normalidade", explica Lemos. O aluguel permitia que esse contingente crescente de pessoas, sem recursos para investir na aquisição de um imóvel, pudesse morar perto do trabalho e do transporte.
Não havia, frisa o arquiteto, nada semelhante a pesquisas de mercado que pudessem estabelecer o que desejava essa classe, em termos de vivenda. Resistia-se bastante ainda aos apartamentos --a população considerava as construções multifamiliares promíscuas e, durante anos, floresceram os sobradinhos, feitos para aluguel, em regiões como Perdizes.
"Não se sabendo direito o que queria essa classe, Loureiro e Frias chegaram a uma conclusão que era lógica. Fazer um prédio grande, variado e ver o que vendia. Uma espécie de laboratório." Assim nasceu a ideia do Copan.
Mas não só. O nome que hoje batiza o edifício deriva de Companhia Panamericana de Hotéis e Turismo. Em 1951, pensando nas comemorações do Quarto Centenário da cidade, dali a três anos, Loureiro vislumbrou a possibilidade de criar, no terreno comprado da Santa Casa na avenida Ipiranga, um grande "maciço turístico".
Além de um hotel, em prédio separado, a ser gerido por parceiros americanos, haveria outros atrativos para visitantes, como a galeria comercial, um teatro e um cinema, estes alocados no edifício.
"O fulcro", porém, "era o hotel", recorda Lemos, dizendo que o edifício-laboratório teria inicialmente 500 apartamentos, o suficiente para definir "o quadro dos desejos da classe média".
Foi Frias, diz o arquiteto, quem viu que o negócio com a companhia americana que deveria encampar o lado turístico do empreendimento poderia não vingar. Como de fato "melou", diz Lemos. O prédio habitacional praticamente dobrou de tamanho.
No livro, Lemos recorda como Niemeyer, trancafiado numa sala do banco, refez o programa do projeto, tentando estabelecer a equação que tornasse viável a nova face do investimento. Chegaram à conclusão de que seriam necessários 900 apartamentos, divididos em seis blocos, cada um com uma tipologia --terminaram sendo 1.160 unidades habitacionais, onde vivem hoje mais de 3.000 pessoas.
DECEPÇOES Em "Viagem pela Carne" (Edusp), seu livro de memórias, Lemos fala do desgosto de Oscar Niemeyer diante da impossibilidade de ver realizada a rampa helicoidal que imaginara como acesso ao terraço-jardim do Copan. Os calculistas sugeriram, em seu lugar, uma escadaria. "Num desabafo, ele me disse: Faça você essa escada, eu não quero mais saber disso'. Obedeci", escreve Lemos no livro de 2005.
A decepção de Niemeyer veio em 1956, logo após a obra do Copan ser retomada. A construção havia ficado interrompida desde 1954, quando a Sumoc (Superintendência da Moeda e do Crédito) determinara a intervenção do Banco do Brasil na instituição de Loureiro, considerando que seus fundos em moeda eram insuficientes em comparação ao capital imobiliário --ou seja, muito imóvel para pouco caixa.
O BNI a essa altura já mudara de nome, primeiro para Banco Nacional Interamericano e, depois, para uma nova razão social, CNI, Companhia Nacional de Indústria e Construção, tentando em vão evitar a intervenção. O banco acabou liquidado extrajudicialmente, os americanos desistiram da parceria, e o Bradesco assumiu a obra em 1957 --o terreno onde se ergueria o hotel abriga um edifício do banco.
Niemeyer já não estava mais ligado à construção do Copan desde o ano anterior. Devendo se dedicar integralmente aos projetos de Brasília ("Ele ganhava um ordenado do Juscelino, você sabia?", rememora Lemos), passou de vez o bastão para o colega paulista.
Dali por diante, durante o tempo que durou a obra, a cada quinta-feira (salvo uma vez por mês, quando ia à sede do Bradesco em Osasco, para almoçar com Amador Aguiar e prestar contas ao diretor-presidente do banco), Lemos inspecionou a obra, percorrendo seus 32 andares. A pé. "Elevador era só para carga", conta.
Natural, portanto, que, como responsável pela obra, ele também tenha seu quinhão de decepções com o que realmente se erigiu, no confronto com o que foi desenhado --no caso, foram cerca de 1.200 folhas de papel vegetal, por muitas das quais passou a caneta-nanquim do próprio Lemos.
O conjunto, conta o arquiteto no livro, está sendo restaurado e digitalizado, de maneira a ficarem os desenhos "para sempre livres de manuseios indesejáveis". Uma amostra muito útil deles, porém, compõe, com outros documentos, um caderno ao final do volume, deixando ao alcance de estudiosos e curiosos plantas do Copan --tanto as originais quanto as modificadas em decorrência da obra.
Das modificações que o projeto sofreu, algumas pesaram mais para Lemos. Para ele, o "esfacelamento dos apartamentos grandes foi realmente uma decepção".
Os blocos E e F, como se pode ver nos desenhos apresentados no livro, compunham-se de apartamentos de luxo, com quatro dormitórios. Resulta, no entanto, que durante a construção esses foram os que menos venderam. Já com o projeto em execução, os que não haviam sido adquiridos foram redivididos em apartamentos de um quarto e quitinetes.
Lemos toma o livro, folheia, indica os corredores tortuosos que se formaram, dando lugar a quatro ou seis apartamentos onde deveria haver um. A mudança foi feita pelos engenheiros do Bradesco, sem que o arquiteto fosse consultado.
Outro desapontamento é de caráter ainda mais pessoal: ficou de fora do edifício o projeto do teatro, contribuição própria de Lemos, que vinha da experiência recente no Maria Della Costa.
Por fim, o arquiteto lamenta que, em lugar do terraço público previsto no projeto, ao qual se teria acesso pela tal rampa impossível, hoje haja um espaço envidraçado e privado --durante a obra, ele havia sido vendido pelo Bradesco à Companhia Telefônica Brasileira. Atualmente, o local é ocupado pelo escritório de uma loja de brinquedos.
Nessa grande área pública, uma espécie de jardim suspenso, com cafés, bancos para descanso e floricultura, haveria escadas-rolantes que levariam ao grande cinema. Este foi feito, mas sua entrada teve de ficar restrita à galeria comercial do térreo. Hoje, como tantas outras, a sala de cinema do Copan se transformou numa igreja evangélica.
PLANO DIRETOR Em teoria, o Copan parece responder ao que se desenha como modelo para a cidade no novo Plano Diretor: uma grande massa vertical, alta e densa, ao longo de um eixo viário importante, abrigando pessoas de classes sociais diferentes, com térreo destinado ao comércio.
Será que o edifício-laboratório, então, era um experimento visionário? Lemos discorda. "A cidade precisa é de transporte público eficiente, para que as pessoas possam morar de forma arejada, e não em grande densidade. O Copan é bom porque é um só."
Além do mais, o arquiteto duvida da eficácia do novo plano --como de resto, de qualquer outro. "Esquece: a cidade cresce ao léu."
E recorda que foi o descumprimento de um código normativo para a cidade, o de Prestes Maia (1896-1965), que permitiu que, afinal, o Copan existisse. O Plano de Avenidas criado pelo engenheiro em 1930, e posteriormente implantado durante suas duas gestões como prefeito da cidade, entre 1938 e 1945, fixava a altura máxima dos edifícios em 11 andares. Deu-se um jeito, e lá está o colosso.

    210 mil pessoas trocam casa por prédio em 5 anos e 1/3 de SP vive em condomínio


    Raio X mostra ainda os 21 mil condomínios residenciais paulistanos empregam 6 mil pessoas e movimentam R$ 13,2 bilhões por ano
    210 mil pessoas trocam casa por prédio em 5 anos e 1/3 de SP vive em condomínio
    "AE"
    Verticalização e adensamento são palavras-chave para explicar e entender o boom imobiliário paulistano. E novos dados ilustram isso: São Paulo ganhou mil prédios residenciais e 210 mil moradores de apartamentos nos últimos cinco anos. Esse tipo de moradia representa 37% (um em cada três) do total dos domicílios paulistanos.
    É o que aponta um levantamento realizado pela empresa de administração de condomínios Lello – obtido com exclusividade pelo Estado. Segurança e praticidade são os principais atrativos que levam o paulistano a trocar a casa por um apartamento. “Mudei principalmente por causa da segurança. Mas também acho bom não precisar me preocupar em cuidar do quintal ou da piscina”, afirma a publicitária Ana Paula da Costa Bezerra, de 44 anos, que vive em um apartamento no Morumbi com os dois filhos. 
    “A casa era grande e tinha muitas escadas. Por causa da minha idade, não posso ficar subindo e descendo o tempo todo. Sem contar que a casa dava muito trabalho. Como as escadas viraram um problema, a mudança serviu como um ajuste para esta fase da minha vida”, justifica a dona de casa Heliana Correa Carvalho, de 70 anos, que vive em um apartamento na Granja Julieta, na zona sul, há três anos. 
    “Segurança. A principal vantagem em morar em apartamento é poder ficar em casa sozinha sem medo”, resume a escriturária Daniela Martins Ortega, de 34 anos, que se mudou com marido e filho para um apartamento no Butantã, na zona oeste. 
    O raio X mostra ainda que os 21 mil condomínios residenciais paulistanos – considerando apenas os com mais de três andares e orçamento superior a R$ 24 mil por ano – empregam 6 mil pessoas como zeladores, porteiros, faxineiros e garagistas e movimentam R$ 13,2 bilhões por ano, valor superior ao orçamento anual de capitais brasileiras como Curitiba e Porto Alegre. 
    Desse total, R$ 5,9 bilhões são destinados ao pagamento de funcionários e encargos trabalhistas e outros R$ 2,3 bilhões são gastos com o consumo de água. Os outros principais gastos de um condomínio são com energia elétrica e contratos de manutenção e conservação.
    Geografia.O levantamento da empresa também mostra a distribuição dos imóveis. Do total de condomínios residenciais na cidade, 47,3% ficam na zona sul. Outros 33,4% estão localizados na zona oeste, 11,5% na zona leste e 7,8% na região norte. 
    Em média, cada prédio tem 70 apartamentos. Do total, 15,1 mil condomínios são os chamados “clássicos”, com taxa média mensal de R$ 487. Outros 2,5 mil prédios são de médio para alto padrão, com condomínio mensal médio de R$ 718. Os condomínios denominados “grandes conjuntos”, com três ou mais torres, somam 1.350. Nesses locais a cota média é de R$ 250 por mês. 
    São considerados de alto padrão 830 empreendimentos, com taxa média mensal de R$ 1,3 mil. Há 650 do tipo “clube” (com taxa média de R$ 586 por mês) e 120 “econômicos” (R$ 95 por mês).
    Para especialistas, a verticalização é um processo irreversível, que se acentuará ainda mais nos próximos anos. “O fenômeno existe porque tem demanda: as pessoas querem morar em bairros com melhor estrutura e, aí, o único jeito é adensar”, explica o arquiteto e urbanista Pedro Paes Lira, diretor para o Brasil da empresa de Arquitetura, Engenharia e Consultoria espanhola. “A concorrência pelo espaço é o que faz com que os novos lançamentos sejam verticalizados.” 
    A pesquisa também mostra que são duas as principais dúvidas dos novatos na vida de condomínio: como funciona a divisão das despesas em um prédio e qual é o sistema de utilização das vagas de garagem. A empresa de administração afirma que, nos últimos anos, esse tipo de questionamento tem sido “mais intenso”, justamente por causa desse fenômeno que leva cada vez mais paulistanos a trocar casa por apartamento. “Para estes, é uma vida totalmente nova e diferente, com regras estabelecidas”, comenta Angélica Arbex, gerente da Lello. 
    Entretanto, na contramão dessas dúvidas vem outro dado, que reflete a baixa atuação dos moradores na política do prédio onde moram: 60% dos paulistanos que vivem em condomínio simplesmente ignoram as reuniões. Em média, um prédio realiza duas assembleias por ano. São encontros importantes – apesar de muitas vezes cansativos, com duração de até três horas – porque definem desde mudanças nas regras até se o dinheiro do condomínio será investido em uma reforma, por exemplo. “Esse baixo quórum é verificado até mesmo nas assembleias para a eleição do síndico e a aprovação das contas”, afirma a gerente. 
    A publicitária Ana Paula, por exemplo, admite que não participa das reuniões – mas reconhece que são nelas que acabam determinadas as prioridades para o condomínio. “Nem todos participam. Então, a minoria decide”, comenta. 
    “Eu participo das assembleias. Acho que me ajuda com algumas coisas”, afirma a dona de casa Heliana. A escriturária Daniela diz que também costuma ir às reuniões – porém, tem uma opinião crítica. “Não acredito que resolva alguma coisa. A síndica do meu prédio está no cargo há oito anos. Ela fica falando e as pessoas concordam com ela”, diz. 
    As assembleias “campeãs de audiência”, quando o número de presentes chega a 80% dos condôminos, são aquelas que têm em sua pauta sorteio de vagas de garagem. Nesse caso, as regras são claras: quem não comparece acaba ficando com os piores lugares para estacionar os veículos no condomínio. 
    Para realizar o levantamento, a Lello divide a cidade em 180 “quarteirões” – conjuntos de 100 a 200 condomínios. Todos os meses, essas regiões são percorridas, a pé, por funcionários da empresa. Com questionários na mão, eles abordam porteiros e síndicos. Os dados são checados por telefone por uma equipe de teleatendimento. “A nossa amostragem abrange 96% dos condomínios paulistanos”, afirma Angélica. 

    Crise da água cai nas agências reguladoras


    ANDRÉ BORGES - O ESTADO DE S. PAULO
    26 Julho 2014 | 17h 51

    Antaq acusa ANA de omissão na função de equilibrar uso da água que, por sua vez, diz que a primeira nunca apresentou uma solução

    BRASÍLIA - A escassez de água na Região Sudeste começou a causar fissuras dentro do governo federal. A crise, que até agora era tratada como um problema restrito ao governo de São Paulo, sendo observada à distância pela União, acabou desembocando em troca de acusações e desentendimentos entre as agências reguladoras. 
    A Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), responsável pela administração do transporte fluvial no País, acusa a Agência Nacional de Águas (ANA) de ser omissa em sua função de garantir o equilíbrio no uso da água para diferentes propósitos: abastecimento, geração de energia e transporte de carga. A Antaq também disparou críticas contra o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), acusado de privilegiar apenas o plano de geração de energia e ignorar o resto.
    Chico Siqueira/Estadão
    Hidrovia Tiête-Paraná, que era usada para receber barcaças com cinco mil toneladas de grãos, serve agora para diversão de pescadores
    “A ANA não faz o básico, que é garantir o uso múltiplo da água. Nem a ANA nem o ONS respeitam essa regra. Não somos consultados em nada, quem decide tudo são eles. Ficamos sabendo das decisões de vazão do Tietê-Paraná na última hora. Todos simplesmente ignoram a navegação”, disse ao Estado o diretor da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), Adalberto Tokarski. 
    O diretor da ANA, Vicente Andreu, reagiu às acusações. “A Antaq reclama, mas a verdade é que eles nunca apresentaram uma solução. Uso múltiplo da água não significa uso equivalente. O departamento hidroviário de São Paulo apresentou duas propostas para o ONS para resolver o problema. A Antaq nunca apresentou uma proposta”, afirmou.
    O ONS afirma que as decisões sobre a vazão dos rios são técnicas e decididas pelos membros do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico, ligado ao Ministério de Minas e Energia.
    Rusgas. O clima na Antaq é de indignação. As rusgas entre as agências reguladoras começaram a surgir em maio, com a redução de vazão de água nas hidrelétricas do sistema Tietê-Paraná. A medida afetou diretamente o tráfego de barcaças na hidrovia, que é a mais movimentada do País. Há quase um mês, as operações foram completamente paralisadas. 
    O diretor da agência, Adalberto Tokarski, fez um levantamento sobre o reflexo da retenção de água na Tietê-Paraná para a movimentação de carga. “Entre maio e novembro do ano passado, 2 milhões de toneladas de soja e milho passaram por essa hidrovia. Neste ano, se ela permanecer intrafegável nesse período, serão colocados 45 mil caminhões a mais nas estradas da região, para causar, mais uma vez, aquelas filas imensas nos portos do Sudeste. Isso é um absurdo.”
    Questionada sobre o assunto, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, saiu em defesa da ANA. Em entrevista ao Estado, disse que a Antaq não propõe soluções para a situação. “A ANA tem uma proposta clara sobre hidrovia, e é verdade que o ONS tem uma certa resistência a isso. Mas a Antaq nunca soube discutir esse assunto. Ela não está preparada para esse debate político”, disse Izabella. “Por que a Antaq não constrói o diálogo? Por que não procura o seu ministro para discutir o tema? Se a situação está no limite, em vez de ficar acusando, o que ela deveria fazer é provocar o debate e tentar construir o marco regulatório que viabilize isso.” Para a diretoria da Antaq, as suas propostas são constantemente rejeitadas. Adalberto Tokarski diz que os problemas de navegação também começaram a afetar operações no rio São Francisco, onde empresas estão paralisando o transporte de carga e demitindo funcionários. A queixa foi levada à Comissão de Infraestrutura do Senado. “Ninguém está dizendo que não se deve gerar energia ou abastecer a população com água. O que está em questão é a forma de gestão. O uso da água é mal feito”, disse o diretor da agência.