segunda-feira, 3 de abril de 2023

Prefeitura de SP inicia remoção de barracas de pessoas em situação de rua, FSP

 

SÃO PAULO

A Prefeitura de São Paulo iniciou na manhã desta segunda (3) a remoção de barracas de pessoas em situação de rua de calçadas e vias de diversas regiões da cidade.

A medida foi tomada após o TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) derrubar liminar que proibia a retirada das barracas, que havia sido obtida por Guilherme Boulos (PSOL-SP). O deputado federal diz que vai recorrer.

A operação começou pela região da cracolândia, e o ponto escolhido foi a esquina da rua dos Gusmões com a rua Conselheiro Nébias, no centro da capital. Com o início da limpeza, o fluxo —como é chamada a aglomeração de dependentes químicos— se concentrou a poucos metros de distância dali, na esquina das ruas Guaianases e Vitória.

Agentes da GCM e da Prefeitura de SP trabalham na retirada de barracas das ruas dos Gusmões e Conselheiro Nébias, no centro, nesta segunda (3) - Danilo Verpa/Folhapress

Segundo o inspetor Matias, da Divisão de Operações Especiais da Guarda Civil, até as 11h30 a operação havia removido 18 barracas.

"As barracas não são para proteger as pessoas, são para vender drogas. São as lojinhas deles. A ação ocorre em outros locais, mas a gente vai se concentrar onde tem um fluxo maior. Geralmente se concentram de 500 a 1.000 usuários aqui", explicou o inspetor.

Segundo ele, o objetivo da ação é reorganizar o espaço público.

"Isso aqui é mais uma reorganização do espaço público para tirar o lixo, a sujeira. Quando faz a operação, vêm os caminhões de limpeza, de lavagem. Aqui já fechou banco, lojas, e os comerciantes que pagam impostos ficam à mercê disso e não aguentam mais", afirmou.

Questionado sobre a possibilidade de que barracas voltem a ser montadas no local, ele afirmou que não pode garantir que não o espaço não será ocupado novamente.

"É difícil. A solução eu não tenho. Só a internação compulsória porque esse pessoal não tem mais discernimento, está à mercê do traficante", concluiu.

Uma mulher de 81 anos, moradora da região há 50 anos, acompanhava a operação. Ela, que não quis se identificar, disse que nunca viu a cidade tão abandonada e contou que convive com o medo de ser assaltada. Disse, ainda, que apoia ação da prefeitura desde que seja duradoura.

Caminhão recolhe sujeira em área da cracolândia - Danilo Verpa/Folhapress

O comerciante Luis Felipe dos Santos, 22, trabalha há cinco anos em uma loja de motopeças na rua Conselheiro Nébias. Ele disse aguardar uma solução definitiva para a questão da cracolândia.

"Eles tiram os usuários, fazem limpeza, mas depois de cinco minutos volta a mesma coisa", lamentou. "Eles ficam todos em frente à loja. O banco fechou, três lojas fecharam e o estacionamento está para fechar. Nós já estamos querendo sair daqui. O comércio aqui está totalmente desvalorizado, afetou muita gente. Não tem mais condições."

Neste domingo (2), dependentes químicos atearam fogo a sacos de lixo nas ruas do centro. Segundo a Polícia Militar, os incêndios foram provocados em reação a uma abordagem no local horas antes.

"Ontem teve confronto, a gente fica com medo porque nunca sabe quando eles vão entrar na loja. Na região vive tendo assalto, eles não respeitam nem a polícia", continuou Santos.

Outra comerciante, que também não se identificou, disse encarar a operação de remoção das barracas como "palhaçada". Para ela, a prefeitura está apenas lavando "o quarto e a sala" dos usuários, que na sequência voltam a ocupar o espaço.

O trabalho foi acompanhado por agentes de saúde, que tentavam abordar os dependentes químicos para oferecer tratamento.

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Como mulheres conseguiram conter 'com comida' poder da milícia em área dominada do RJ, FSP

 Nathalia Passarinho

LONDRES | BBC NEWS BRASIL

Na Zona Oeste do Rio de Janeiro, uma mulher conta para um integrante da milícia que o filho dela furtou coisas da sua casa "de novo".

"O que eu posso fazer? Você deveria ir lá. Estou tão irritada. Como podemos dar um susto nele?", diz ela.

O homem responde: "Nós podemos consertar qualquer coisa. O negócio é que você não pode se arrepender depois. Tem que ter certeza".

Em bairro do RJ, mulheres assumiram serviços e ajuda comunitária, reduzindo poder da milícia - Getty Imagens via BBC

Ele lembra que "resolveu" a situação de Ana, uma mulher que foi agredida pelo marido.

"O marido bateu nela. Ela ligou para a gente. Eu perguntei se ela tinha certeza (do que queria). Ela tinha."

A mulher, então, recusa a oferta de "ajuda" no caso do filho. "Não, eu não vou fazer isso. Eu estou brincando."

O diálogo foi presenciado pelo pesquisador Nicholas Pope, do King's College London, que passou dois anos nesta região do Rio estudando a relação entre moradores e a milícia.

No bairro onde o diálogo ocorreu, o poder paramilitar permeia cada aspecto da vida cotidiana e a violência é o meio de resolução dos problemas do dia a dia - dos mais simples aos mais graves.

"O instinto natural nessa comunidade que abraçou a milícia é chamar os milicianos para agir quando há, por exemplo, um jovem fumando maconha, uma pessoa bêbada sendo inoportuna na rua ou em casos de violência doméstica. A milícia é chamada a resolver de crimes a comportamentos antissociais", diz Pope à BBC News Brasil.

Na mesma região, moradores de outro bairro, que reúne algumas dezenas de famílias, têm uma relação completamente diferente com a milícia.

Paramilitares também controlam o comércio, mas problemas cotidianos graves, como fome e violência doméstica, são resolvidos com a ajuda de um grupo de mulheres que fundaram a comunidade décadas atrás e formaram uma rede de apoio.

Elas criticam a ausência do estado, mas discordam e resistem ao poder da milícia. conseguiram, com uma ação social eficaz, reduzir a dependência da comunidade da "ajuda" paramilitar.

Em vez de homens armados, é esse grupo de mulheres, a maioria delas negras, que se tornou o ponto de apoio e referência para solucionar problemas do bairro.

"Por meio de laços de solidariedade, essas mulheres conseguiram resistir às pressões da milícia ao longo do tempo e até mesmo erodir e diminuir formas violentas de dominação no bairro", diz Pope.

MILÍCIA NÃO MANTÉM PODER SÓ COM COERÇÃO

Pope explica que a milícia não sobrevive apenas de coerção - depende de um apoio popular conquistado à base de uma relação de dependência. Quanto menor a dependência, menor o poder da milícia.

Por isso, os paramilitares oferecem "proteção" e ajuda na solução de problemas. Na ausência do Estado, tornam-se uma opção de garantia da "ordem" e resolução de conflitos. Mas às custas de extorsões e violências cotidianas.

"A milícia não se sustenta apenas com armas e controle territorial pela violência física. Ela subsiste graças a uma interdependência econômica e apoio social. Ela depende de renda de aluguéis, de taxas cobradas do comércio local, de as pessoas usarem seus meios de transporte, da construção de laços com a comunidade", explica Pope.

"Se a milícia não obtém o apoio da população por meio dessa dependência, a população vai resistir ou abrir brechas para outros grupos tomarem o poder, sejam eles lideranças de outras milícias ou traficantes."

No bairro onde as mulheres assumiram a dianteira na solução de conflitos e carências sociais, os milicianos encontraram menos espaço para agir.

Elas recebem as demandas dos moradores e os direcionam para instituições que podem ajudar, como ONGs, abrigos, o serviço social ou a Defensoria Pública, além de acolherem elas próprias, com os recursos que têm, as mulheres que precisam de moradia por causa de violência doméstica.

O principal vetor dessa rede de solidariedade é comida. Tudo começou com uma pequena horta comunitária, com legumes e frutas sem agrotóxicos. A horta virou ponto de encontro para discutir o direito a uma alimentação saudável.

Jovens e crianças ajudam na venda de produtos em feiras e a cobrar de ONGs e do estado cestas básicas com alimentos de qualidade - Getty Imagens via BBC

Jovens e crianças passaram a levar mudas para casa, ajudar na venda dos produtos em feiras e a cobrar de ONGs e do Estado cestas básicas com alimentos de melhor qualidade.

Os adolescentes que participavam dos encontros começaram a trazer outros problemas para o conhecimento do grupo de mulheres, entre eles dificuldades de aprendizado na escola e violências sofridas por suas mães em casa.

"Debater sobre comida é uma forma muito inteligente de fazer política e ação social nesse ambiente. Porque parece ser algo que não apresenta ameaça. Algo que a milícia não compreenderia como competição", diz Pope.

"Mas, a partir da discussão sobre direito à comida, outros temas entram em jogo. Há uma troca de conhecimento, a formação de vínculos e de redes de suporte. E é aí que reside o poder do trabalho sobre a comida que elas fazem."

COMO ESSAS MULHERES CONSEGUIRAM RESISTIR À MILÍCIA?

A BBC News Brasil conversou com mulheres do grupo, mas, por questões de segurança, não revela seu nome, do projeto ou do bairro onde vivem.

Elas chegaram à Zona Oeste décadas atrás, em uma ocupação onde a maioria dos moradores eram mulheres e crianças.

Desde o início, a construção de casas, ruas e serviços naquela área foi liderada por mulheres, embora a milícia também já estivesse se instalando no território.

Esse trabalho consolidou laços de solidariedade e estimulou a criação de uma rede para solucionar problemas da comunidade.

"Nós não trabalhamos com armamentos e comércio. Somos leveza da poesia, música, educação, então temos passagem. Tem o elemento da ancestralidade também. Chegamos primeiro. Temos conseguido resistir assim", explica Juliana*, uma das mulheres que fazem parte do grupo, à BBC News Brasil.

A partir da horta e dos encontros regulares de jovens, as mulheres passaram a oferecer aulas gratuitas para adolescentes em várias disciplinas escolares, com a participação voluntária de professores.

Aos poucos, firmaram parcerias com ONGs e órgãos públicos, como a Defensoria, para resolver diferentes tipos de problemas, como violência doméstica.

"Já resgatamos várias mulheres em situação de violência. Levamos ao hospital, exigimos boletim de ocorrência, arrumamos abrigo", conta Juliana.

A intenção do grupo em criar programas e redes de apoio não foi, inicialmente, combater o poder da milícia.

Mas elas acabaram, como efeito "colateral", impedindo que os paramilitares ampliassem suas atividades e influência, como ocorre em muitos bairros da Zona Oeste, afirma Pope.

'Não trabalhamos com armamentos e comércio, somos leveza da poesia, música, educação, então, temos passagem, e chegamos primeiro' - Getty Imagens via BBC

"O que foi possível perceber analisando essa comunidade por dois anos é que atividades políticas e comunitárias como a dessas mulheres têm o potencial de frear sistemas violentos de liderança, substituindo soluções violentas por outras formas de resolver conflitos", explica Pope.

Amanda* também integra o grupo e explica por que, na sua visão, as populações de vários bairros do Rio recorrem às milícias.

"Temos essa cultura patriarcal de que um homem vai salvar, resolver a situação. Temos a figura do padre, do pastor. As pessoas vão até eles para resolver problemas sociais", diz.

"A milícia é um braço desse poder, desse modo de pensar soluções. E ela traz o modo de viver do medo, do pavor, da dependência em ajuda. Queremos mostrar que o caminho não é viver de ajuda, temos direitos e precisamos lutar por eles."

PODER DAS MILÍCIAS PASSA POR CONTROLE DE COMIDA

Segundo Pope, controlar o comércio e o acesso à alimentação é uma forma de domínio da milícia sobre comunidades no Rio de Janeiro.

Com a venda de alimentos e, em algumas ocasiões, com doação de comida a pedido de líderes comunitários, os milicianos angariam dinheiro e poder de barganha.

Mas, durante a pandemia de covid-19, o grupo de mulheres conseguiu criar um sistema eficiente de arrecadação e distribuição gratuita de cestas básicas com alimentos saudáveis, ajudando a reduzir a fome em uma das áreas mais afetadas pela doença.

As cestas foram entregues também em áreas que vão além de onde moram, alcançando populações de bairros onde a presença da milícia é mais ostensiva.

Pope explica que esse projeto, em tempos normais, poderia provocar reações da milícia, por "invadir" uma seara normalmente controlada pelos paramilitares.

Mas a pandemia agravou a fome, e as mulheres conseguiram ocupar um espaço antes dominado por milicianos.

"A milícia tem lidado com alimentação e acesso a comida por muitos anos. Em circunstâncias normais, a atuação das mulheres nesse campo poderia ser vista como uma espécie de competição, uma entrada em um mercado que é deles", diz Pope.

"Mas a pandemia foi um período de tamanho caos e crise que promoveu uma oportunidade para que (o projeto delas ocorresse) sem maiores repercussões. As pessoas estavam passando fome e passaram a receber ajuda. Era um momento em que seria mais difícil contestar essa ação social."

Para Pope, embora a atuação desse grupo de mulheres tenha alcançado resultados em um pequeno bairro do Rio, o exemplo serve para pensar políticas amplas de combate à milícia que não envolvam só ações de segurança pública.

"As milícias são um sintoma violento da desigualdade no desenvolvimento urbano. Elas cumprem um papel social, político e econômico nas comunidades onde atuam", diz Pope.

"O trabalho desse grupo de mulheres mostra que é preciso pensar políticas para substituir a dependência que as pessoas têm da milícia por outras dependências que não envolvam uma forma violenta de gestão. É sobre reinventar sistemas e instituições que substituam modelos violentos de controle e coerção por outros mais justos e inclusivos."

*A BBC News Brasil trocou os nomes das entrevistadas e omitiu detalhes sobre onde atuam para garantir sua segurança.

domingo, 2 de abril de 2023

'Tijolão' de 1,4 kg deu início à era do telefone celular, há 50 anos, FSP

 


SÃO PAULO

A história dos mais de 15 bilhões de telefones celulares no mundo começou 50 anos atrás, em 3 de abril de 1973.

Martin Cooper, engenheiro eletrotécnico da então empresa de rádio automotivo Motorola, ligou para um rival que trabalhava no Bell Labs, da AT&T, para informar que havia vencido a corrida da telefonia móvel.

"Estou ligando para você de um celular, mas um celular de verdade, pessoal, que cabe na mão", disse Cooper para o engenheiro concorrente Joel Angel. Antes da reviravolta, a AT&T liderava essa disputa com seu sistema de transmissão de ondas celulares.

A noção de um celular que cabia na mão era diferente da atual. O primeiro DynaTAC pesava 1,4 kg e tinha 25 cm de comprimento. Um tijolo vazado de 19 cm de comprimento pesa em média 2,2 kg. O próprio Cooper, hoje com 94 anos, disse em entrevista à AFP na quinta-feira (30) que era impossível segurar o aparelho por mais de 25 minutos —o tempo que durava a bateria do dispositivo.

O engenheiro Martin Cooper segura com sua mão direita um aparelho celular contemporâneo e com sua mão esquerda o primeiro protótipo DynaTAC, usado para ligar para o concorrente da AT&T, então conhecida como Bell Labs. Cooper. 94, é um homem, branco, veste terno escuro e camisa cinza, sem gravata.
O engenheiro Martin Cooper segura com sua mão esquerda um aparelho celular contemporâneo e com sua mão direita o primeiro protótipo DynaTAC, usado para ligar para o concorrente da AT&T, então conhecida como Bell Labs. - Valerie Macon/AFP

Ainda assim, Cooper liberou os telefones dos carros. Os aparelhos da AT&T ficavam acoplados a automóveis.

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Para colocar o primeiro celular no mercado, a Motorola levou mais dez anos. Apenas em 1983, começou a vender o DynaTAC 8000x, por US$ 5.000 (US$ 15,4 mil em valores atuais, ou R$ 78 mil). Isso porque precisou desenvolver, com US$ 100 milhões, um sistema analógico de transmissão de rádio capaz de suportar a nova clientela, também chamado de DynaTAC.

A noção do que era um celular mudou ao longo dessa metade de século. Aparelhos começaram a tocar faixas em mp3, enviar emails, acessar navegadores de internet e baixar aplicativos. Os preços também baixaram. Nos Estados Unido, um iPhone 14 Pro custa a partir de US$ 999 (cerca de R$ 5.100)

A última revolução dos aparelhos telefônicos veio com o design minimalista do iPhone 2G da Apple, lançado em 2007. O feito consolidou a já grande fama do empresário Steve Jobs. A funcionalidade de multitouch, que permite selecionar dois pontos da tela ao mesmo tempo com os dedos, garante a experiência de uso de dispositivos móveis à qual estamos acostumados hoje.

Em entrevista ao veículo especializado em tecnologia Motherboard, dez anos atrás, Martin Cooper foi além. O engenheiro que idealizou o primeiro telefone móvel pensou no futuro da tecnologia como um chip implantado atrás da orelha, com acesso a uma rede de computadores. "Seria um telefone por voz em estado ótimo."

"O conceito de aplicativos está todo errado. O ideal seria ter uma inteligência artificial capaz de atender aos nossos pedidos, idealmente mais inteligente do que nós. Seria um servo portátil", disse o criador do celular, bem antes de a OpenAI lançar o ChatGPT, que tem impressionado as pessoas por suas capacidades textuais.

Na conversa de quinta-feira com a AFP, Cooper lamentou que as pessoas sejam consumidas pelas telas de seus smartphones. "Quando vejo alguém atravessando a rua olhando para o telefone, eu me sinto péssimo. Eles não estão pensando."

Em excesso, o celular pode causar problemas de sono e de postura, irritabilidade e sedentarismo. Esses efeitos colaterais podem ser piores para crianças, que não têm as capacidades socioemocionais de um adulto, de acordo com a professora da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) Evelyn Eisenstein.

Segundo a pesquisa TIC Kids Online de 2022, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 96% dos jovens de 9 a 17 anos já têm celular no Brasil.

Em junho de 2022, o país já tinha 242 milhões de smartphones, conforme dados da pesquisa "Uso de Tecnologias da Informação no Brasil", da FGV (Fundação Getulio Vargas). O país tem mais de um aparelho por habitante desde 2016.

Evelyn Eisenstein recorda que, em 1990, quando chegaram os primeiros celulares no Brasil, o acesso era difícil. "Nós usávamos o aparelho nas emergências dos hospitais. Era um objeto pesado, que guardávamos em um cinto especial."

Ela se refere ao Motorola PT-550, que logo ganhou o apelido "tijolão" no país. O modelo, contando a antena externa no topo, alcançava 22,8 cm de comprimento. O design do celular era inovador por sua dobradiça que protegia as teclas de poeira. No exterior, o aparelho custava US$ 3.000 e tinhas as funções agenda telefônica e identificador de chamada.

Quem quisesse usar a linha de celular ainda tinha que desembolsar até US$ 20 mil para a estatal Telerj —e havia fila. O sistema de transmissão ainda era analógico, como aqueles dos Estados Unidos nos anos 1980.

O ex-deputado Eduardo Cunha, que presidiu a empresa de telefonia carioca entre 1991 e 1993, costuma dizer que liderou a implantação da telefonia móvel no Brasil. Essas primeiras linhas contavam com o prefixo "982". A estatal depois foi privatizada, como as outras subsidiárias e veio a dar origem à companhia que conhecemos como Oi, hoje em sua segunda recuperação judicial.

A estatal paulista Telesp só veio trazer o serviço para o estado em 1993. Em 1997, em Brasília, começou a operar o primeiro serviço de celular digital no Brasil. Nos anos 2000, o país começou a adotar o sistema de padrão europeu, GSM.

Com o avanço da tecnologia, hoje, é possível comprar um chip pré-pago em qualquer banca de jornal. Alguns aparelhos voltaram a ser dobráveis, como o então inovador "tijolão". Um aparelho de topo de linha, como o iPhone 14 Pro Max, custa a partir de R$ 9.499 na loja oficial da Apple.