quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Márcio França diz que será candidato ao governo de SP horas após Lula pedir apoio a Haddad, FSP

 9.fev.2022 às 18h35

Horas após o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dizer que trabalha com a ideia de que Fernando Haddad (PT) será o governador de São Paulo e que acha que haverá compreensão de outros partidos, Márcio França (PSB) gravou vídeo com um aliado em que afirma que será candidato em outubro.

Em vídeo compartilhado via WhatsApp nesta quarta-feira (9), o vereador Camilo Cristófaro (PSB) pergunta: "Márcio França será candidato a governador em outubro [o primeiro turno está marcado para 2 de outubro]?", ao que o ex-governador responde: "exatamente isso".

"Agora, todos que quiserem nos apoiar, nós aceitaremos, porque em eleição majoritária você não pode ficar escolhendo voto. Todo mundo que quiser apoiar e ajudar será muito bem-vindo", completa França na gravação.

No vídeo, ele também afirma que acredita que João Doria (PSDB) desistirá da corrida presidencial e tentará brigar pela reeleição no estado e critica o governador, com quem antagonizou em 2018.

"As pessoas vão dizer 'Márcio, você teve um debate com ele [Doria], e muita coisa que você falou que ele ia fazer, ele fez, e de maneira errada'. Aumentou imposto, pedágio, tirou benefícios de deficientes, fez várias coisas erradas. Tá na hora de o povo poder resolver, de seu jeito, quem merece ser candidato a governador do estado", diz o pessebista.

França compartilhou esta reportagem em suas redes sociais com o comentário: "foguete não tem ré".

PT e PSB negociam a criação de uma federação partidária desde o final do ano passado, mas esbarram na definição dos candidatos estaduais.

Na sexta-feira (4), o senador Humberto Costa (PT) anunciou a retirada de sua candidatura ao governo de Pernambuco em favor de um nome a ser indicado pelo governador Paulo Câmara (PSB).

O principal impasse hoje está em São Paulo, onde as duas siglas têm batido o pé para manter os nomes de Haddad e França.

Folha mostrou que Lula tem repetido em reuniões privadas que vê pela primeira vez uma chance real de o PT ganhar a disputa pelo Governo de São Paulo, com o ex-ministro da Educação. Por isso, insiste em manter sua candidatura, enviado recados a políticos da esquerda que buscam o mesmo posto —Guilherme Boulos (PSOL) e França.

Nesta quarta (9), Lula tratou da questão nesses termos durante entrevista à rádio Clube 720 AM, de Pernambuco.

"Haddad está muito maduro, muito consciente. Acho que haverá compreensão do PSB e de outros partidos políticos, do companheiro do PSOL, e, em algum momento, vamos poder anunciar [Haddad como candidato ao governo paulista]", disse o petista.​

Excesso de chuvas compromete 80% da safra de frutas do Vale do São Francisco, FSP

 Mário Bittencourt

VITÓRIA DA CONQUISTA (BA)

O excesso de chuvas entre o final de 2021 e início de 2022 no Vale do São Francisco, um dos principais produtores de uva e manga do Brasil, comprometeu em 80% a safra do primeiro semestre, com prejuízos estimados em R$ 60 milhões.

Sem paralelo nos últimos 15 anos, a perda de safra atinge cerca de 2.000 fruticultores, a maior parte pequenos e médios produtores, segundo Sindicato dos Produtores Rurais de Petrolina.

Até o dia 13 de janeiro, segundo estimativas do sindicato, os prejuízos com a uva já passavam de R$ 33 milhões com a perda de 20 mil toneladas da fruta. Na cultura da manga, os produtores contabilizaram prejuízos de R$ 27 milhões, com a perda de 10 mil toneladas.

Plantação de manga inundada em Petrolina (PE)
Plantação de manga inundada em Petrolina (PE) - Sindicato dos Produtores Rurais de Petrolina / Divulgação


A região do polo fruticultor localizado principalmente nas cidades de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), às margens do rio São Francisco, registra desde novembro chuvas prolongadas que chegaram a 300 milímetros em uma semana e a 500 milímetros no mês de dezembro.

Os dados são de registros pluviométricos dos associados do Sindicato dos Produtores Rurais de Petrolina, cujas propriedades rurais possuem estações pluviométricas particulares. A média anual de chuvas na região é de 400 milímetros.

O excesso de chuvas prejudica principalmente a produção de uvas porque as frutas incham e estouram, segundo agrônomos que atuam na região.

No Vale do São Francisco, praticamente toda a produção é com irrigação controlada, na qual é dada a quantidade necessária de água para a parreira se desenvolver bem e produzir frutos de qualidade.

Mas, com o excesso de chuvas, é praticamente impossível fazer algum controle. Além disso, as chuvas favorecem o aparecimento de doenças fúngicas como o míldio, que se desenvolve com a umidade das folhas dos pés de uva.

"A qualidade das frutas fica comprometida, mesmo conseguindo fazer os tratos culturais e salvar a planta", disse o agrônomo Jackson Souza Lopes, que também é consultor e produtor de uva. "Em tempos sem excesso de chuva, os produtores conseguem ter 80% das frutas na categoria 1, mas com as chuvas cai para 50%", diz.

Na produção de manga, a área de plantio que se manteve em pé terá atraso na janela de produção (normalmente entre março e abril), que pode se estender por um ou dois meses (maio e junho), conforme o agrônomo Eduardo Ferraz, que exporta para a Europa.

"Algumas áreas onde ocorreram precipitações maiores houve redução na diferenciação floral das áreas, não conseguiu fazer florescimento completo e com isso atrasa o cronograma de produção da fruta", declarou.

De acordo com o Sindicato dos Produtores Rurais de Petrolina, por conta dessa situação, as exportações para os Estados Unidos, que ocorrem principalmente em fevereiro e março, terão redução de 50% em relação ao ano passado, com maior impacto nos envios das uvas de mesa, as mais prejudicadas com o excesso de chuvas.

Maquinário atolado em área de prodiução de uva em Petrolina
Maquinário atolado em área de prodiução de uva em Petrolina - Sindicato dos Produtores Rurais de Petrolina / Divulgação

Dados do Ministério da Agricultura apontam que entre fevereiro e março de 2021 Bahia e Pernambuco enviaram para o país norte-americano 3.500 toneladas de uvas e 24,5 toneladas de mangas.

O total de exportações das mesmas frutas no primeiro semestre do ano passado, ainda para os Estados Unidos, soma 7.100 toneladas de uvas e 57,6 toneladas de mangas.

O Vale do São Francisco exporta também para Europa, Inglaterra, países do Mercosul e Canadá. No total, em 2021, as exportações somaram 245 mil toneladas de mangas e 75,1 mil toneladas de uvas.

"Neste ano haverá redução das exportações para todos os países", afirma o Jailson Lira, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Petrolina e que também é produtor de uvas de mesa, em uma área de cerca de 40 hectares.

"Minha produção ano passado foi de 1.200 toneladas, mas, por conta deste problema das chuvas, a produção vai cair à metade, o que impactará também na redução da contratação de funcionários para a realização dos tratos culturais", disse.

A produção de frutas no Vale do São Francisco (80% da produção é de uvas e mangas) gera 100 mil empregos diretos e movimenta cerca de 420 milhões de dólares nos mercados internos e externos (R$ 2,21 bilhões), segundo o Sindicato dos Produtores Rurais de Petrolina.

João Gualberto Freitas, presidente da Valexport, disse que a entidade que representa exportadores de frutas no Vale do São Francisco ainda avalia os impactos das chuvas nas exportações de frutas.

"No geral, por enquanto, estamos estimando que haja redução de até 6% nas exportações, que ocorrem com mais força no segundo semestre", disse.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Países podem explorar capital natural para superar exposição à transição; Brasil é um deles, in Diálogos da Transição, EPBR

 

Estudo da McKinsey alerta que países em desenvolvimento e regiões produtoras de combustíveis fósseis têm uma exposição relativamente grande à transição, o que aumenta o nível de preocupações sobre desenvolvimento e desigualdade na hora de formular políticas públicas. Mas há uma luz no fim do túnel.

Alguns países podem se beneficiar da transição com seus ricos estoques de capital natural, como luz solar e vento, florestas, recursos minerais e potencial de sequestro de CO2, e apostar na produção de energia renovável e desenvolvimento de mercados voluntários de carbono.

Outros já conquistaram posições fortes nos mercados de produtos de baixo carbono, como painéis solares e mobilidade elétrica, mas têm um potencial de crescimento considerável como exportadores de tecnologia.

“Por exemplo, a Coreia do Sul tem aproximadamente 6.600 patentes de tecnologias relacionadas à mitigação das mudanças climáticas e capital humano. Países como China e Cingapura têm uma alta proporção de graduados em STEM na população, o que fornece uma indicação da habilidade técnica da força de trabalho”, diz o relatório. 

Além disso, infraestrutura e sistemas industriais de baixas emissões também podem criar oportunidades no novo mercado, com os consumidores mudando suas preferências ou em um cenário de aplicação de impostos de fronteira de carbono

Para os analistas, mesmo uma infraestrutura intensiva em carbono pode ser vantajosa no futuro, se puder ser prontamente adaptada, por exemplo, para operar com combustíveis de baixas emissões.

O estudo identifica seis grupos de países, com base na natureza comum de sua exposição à transição, e aponta os diferentes ajustes econômicos e sociais para reduzir a exposição ao risco:
  • Produtores de recursos de combustíveis fósseis
  • Produtores intensivos em emissões
  • Economias baseadas na agricultura
  • Países de uso intensivo da terra
  • Fabricantes de emissões a jusante
  • Economias baseadas em serviços
O Brasil está no grupo de uso intensivo da terra, ao lado dos vizinhos latinoamericanos Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Peru e Uruguai, entre outros. 

Nesses países, o desafio está em equilibrar as necessidades de uso da terra com a proteção das florestas e apoio às comunidades locais. 

“Com seus estoques de capital natural, esses países teriam potencial de crescimento em setores como energia renovável, minerais necessários para a transição e manejo florestal; projetos de reflorestamento e florestamento podem gerar valiosos créditos de carbono e serviços ecossistêmicos”.
    mercado voluntário de carbono, aliás, é uma oportunidade para levar recursos e desenvolvimento econômico de baixo carbono a países que abrigam florestas tropicais.

    A aposta na compensação por soluções baseadas na natureza está, inclusive, na agenda de empresas de petróleo, onde a transição energética e para tecnologias de baixo carbono tem um alto custo e não vai ocorrer de um dia para o outro – embora não seja uma solução por si só(mais sobre isso abaixo)

    O Brasil, por exemplo, detém 20% do potencial global de oferta de soluções climáticas naturais, segundo a Catavento, consultoria de estratégia e ESG.

    Este potencial está principalmente em projetos de conservação ou restauração de florestas.

    No entanto, para ser visto como um emissor de créditos de carbono com credibilidade, será preciso acabar com o desmatamento ilegal e atingir a meta de reflorestamento da Contribuição Nacionalmente Determinada apresentada no Acordo de Paris.

    Por aqui, o governo Bolsonaro tenta emplacar a concessão de parques e florestas à iniciativa privada, enquanto mantém congelados recursos que deveriam ser aplicados em uma estratégia de conservação.

    Em outra frente, Congresso e setor produtivo correm para criar um mercado regulado de carbono.