quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Zeg e Golar Power vão distribuir biometano em escala comercial em São Paulo, OESP

 Denise Luna, O Estado de S.Paulo

12 de agosto de 2020 | 16h46

RIO - A Zeg Biogás fechou parceria com a Golar Power para viabilizar a distribuição de gás liquefeito de biometano, o Gasbio, para abastecimento de caminhões a partir de outubro. A operação é a primeira do Estado de São Paulo que irá oferecer biometano em escala comercial, o que pode ajudar a reduzir as emissões de gases efeito estufa (GEE) do Estado.

Ao substituir o diesel em caminhões, o biometano, substituto do gás, pode diminuir em até 95% as emissões de GEE do que o combustível fóssil, além de evitar o consumo de 6 milhões de litros de diesel por ano e a emissão de 15 mil toneladas de gás carbônico.

Caminhão
Troca do diesel pelo biometano pode diminuir em até 95% a emissão de gases do efeito estufa. Foto: Daniel Teixeira/Estadao

Serão colocados no mercado 7 milhões de metros cúbicos do combustível por ano - o suficiente para abastecer de 150 a 200 caminhões que rodem, em média, 100 mil quilômetros cada nesse período, informou a Zeg.

"O acordo comercial entre a Zeg e a Golar viabilizará a solução para tornar o transporte de mercadorias mais sustentável no Brasil", afirma Daniel Rossi, presidente da Zeg.

A Zeg (Zero Emission Generation) é uma empresa do grupo Capitale dedicada exclusivamente a soluções de energia renovável e reúne projetos nas áreas de energia solar, hídrica, biogás e recuperação de resíduos.

A Golar Power é uma empresa de operação integral de Gás Natural Liquefeito (GNL), que se desenvolve em toda a cadeia de valor de midstream (transporte) e downstream (terminais de regaseificação e distribuição de GNL a granel), bem como na geração elétrica.

O Gasbio fornecido ao Estado de São Paulo será fabricado a partir do aproveitamento do biogás do aterro sanitário Central de Tratamento de Resíduos Leste (CTL), construído e operado sob regime de concessão pela empresa Ecourbis Ambiental. O acordo prevê a distribuição de grande parte da produção, que gira em torno de 30 mil metros cúbicos de biometano por dia.

De acordo com o vice-presidente da Golar Power, Marcelo Rodrigues, o uso do Bio-GNL será uma vitrine para um modelo de negócio sólido que pode ser replicado em todo o País e no mundo.

"Com um foco crescente nas emissões de CO2 e impostos sobre o carbono, a oportunidade de produzir e distribuir biometano a partir de aterros sanitários, usinas sucroalcooleiras, fazendas de suinocultura e de pecuária de leite, entre diversas outras, tem o potencial para ser um mercado de crescimento global significativo nos próximos anos", afirmou.

A planta instalada na CTL está em sua primeira fase de operação e deve ser expandida paulatinamente. Com investimento de R$ 60 milhões, terá potencial para produzir 90 mil metros cúbicos de combustível por dia. A Zeg pretende instalar outras plantas pelo País, atingindo o patamar de 1 milhão de metros cúbicos por dia até 2023.

Um dos planos da empresa é levar a produção descentralizada para o interior do Brasil, aproveitando também os resíduos agrícolas e levando o gás onde o gás do pré-sal não chega.


Beber, sim. Estudar, não? Yara Jafet, O Estado de S.Paulo

 


Estamos ampliando o obscurantismo, a ignorância e o rancor num país já tão desigual

Yara Jafet, O Estado de S.Paulo

13 de agosto de 2020 | 03h00

Não sabemos quando a pandemia vai passar. Mas a diminuição na demanda por leitos de UTI, pelo menos em São Paulo, vem autorizando afrouxar o rigor nas regras de isolamento social. Então, shopping centers, restaurantes e bares, dentre outros, já abriram as portas.

Todavia, quando a questão é a reabertura das escolas, tudo muda de figura. O sim e o não duelam freneticamente. E enquanto os embates são travados, ficamos a perguntar o que estamos vivendo e, mais ainda, o que é de fato importante para o Brasil.

O que é de fato relevante para famílias inteiras que voltaram às praias (sem máscara), ou admitem cuidadoras despreparadas tomando conta de várias crianças em locais nem sempre apropriados, ou silenciosamente aceitam que escolas abram seus parques para alunos brincarem de forma clandestina? A quem estamos enganando?

É claro que a economia precisa girar. E girou até então, embora em menor velocidade, graças ao home office, às vendas online e ao delivery, como é tratado o serviço de entrega em domicílio. Porém não há dúvida quanto ao que parou de vez: o acesso ao universo de convivência e aprendizado que só a escola pode oferecer.

Enquanto a reabertura do comércio contou com horários alternativos de funcionamento, nada disso foi pensado para as escolas. Ninguém pensou em primeiro lugar nas crianças e nos jovens, ainda que o futuro do desenvolvimento e do crescimento de qualquer nação dependa deles. Ninguém programou sistema de turnos durante o dia escolar, de forma a garantir o necessário distanciamento, acompanhado de todos os protocolos necessários.

Qual será o impacto na questão da evasão escolar? Quantos jovens desistirão de sua formação acadêmica sem as aulas presenciais? Quantos têm acesso a hardwares que permitem a educação à distância? Quantos se interessam pelos conteúdos propostos sem a interação com os amigos e a intermediação do professor? Qual o tamanho do fosso que estamos aprofundando entre os mais e os menos favorecidos? E qual o prejuízo socioemocional que estamos causando a crianças e jovens?

Na empolgação de uns e desinformação de muitos, propalam-se apenas os riscos, muitas vezes superdimensionados e alarmistas, da reabertura das escolas. Por que a vida de um médico vale menos que a vida de um professor? Por que um tem de se expor e ao outro é franqueada a possibilidade de ficar em casa? Por acaso formam-se médicos sem professores? Ambos dão vida e trazem luz à humanidade em sua profissão.

Médicos de risco foram e são afastados. Professores de risco também devem ser afastados. Porém estes podem continuar ativos, tutelando jovens professores que, com menos risco para a própria saúde, têm mais condições de estar na linha de frente com alunos e estagiários. E todos só têm a ganhar com isso.

Da mesma forma que o retorno seguro às aulas presenciais significa óbvio reconhecimento da escola como centro do processo da verdadeira e duradoura retomada, seria igualmente óbvio ter um plano de ação detalhado para levar isso a efeito – o que lamentavelmente não existe –, para que mestres, pais e alunos pudessem analisar e debater.

Afinal, escola é o espaço privilegiado de aprender a aprender. Não há lugar mais essencial para a edificação de novos paradigmas. É ali que se formam os cidadãos críticos de que o mundo tanto precisa. É ali que se pode criar o indispensável distanciamento da desinformação que fomenta a alienação coletiva.

Com o contínuo desrespeito à educação estamos deformando, ao invés de formar e preparar a nova geração. Estamos ampliando o obscurantismo, a ignorância e o rancor num país cada vez mais desigual.

Adicione-se a este triste e “pandêmico” cenário outras reflexões necessárias. Primeiramente, é fundamental diminuir as expectativas dos pais quanto a conteúdos programáticos que os filhos têm de ter a qualquer preço. É preciso que sejamos realistas. O ano letivo como o conhecíamos foi perdido. Provas, chamadas orais, aprovação, reprovação, vestibular não podem manter os mesmos critérios.

Um ano na vida de crianças e jovens só não será perdido se contarem com o que hoje se faz imprescindível: o acolhimento. Este favorecerá seu crescimento e desenvolvimento emocional, essência da cognição significativa.

É necessário que as autoridades revejam a exigência do cumprimento de 800 horas. A quem serve isso neste momento de tanto ineditismo? Nunca vivemos situação semelhante na História recente.

É imperativo repensar com seriedade e planejar 2021 a partir de agora, começando por ouvir os professores (eles têm muito a dizer sobre os alunos). A dualidade do voltar ou não às aulas presenciais será racionalmente equacionada se governo e sociedade decidirem pôr a educação no centro da discussão.

Se desejamos continuar comendo, bebendo, comprando, enfim, vivendo, é preciso garantir oportunidade de ensino àqueles que, em poucos anos, estarão produzindo, servindo, enfim, construindo as estruturas indispensáveis à existência de todos nós. E o resumo de tudo isso é um só: educação!

Brasil pode ganhar R$ 2,8 trilhões com 'economia verde', diz estudo. OESP (essencial)

Giovana Girardi, O Estado de S.Paulo

13 de agosto de 2020 | 05h00

O movimento de recuperação da economia, após o abalo provocado pela pandemia de covid-19, pode gerar 2 milhões de empregos e adicionar R$ 2,8 trilhões ao PIB brasileiro, além de ajudar o País a se tornar mais resiliente às mudanças climáticas, caso os investimentos sejam direcionados para uma economia mais verde. Isso representaria um crescimento de 38% em relação ao PIB de 2019, que foi de R$ 7,3 trilhões – é como incorporar uma Argentina aos recursos do Brasil.

É a realidade que revela o estudo Uma Nova Economia para uma Nova Era, desenvolvido pelo WRI Brasil, com a Coppe/UFRJ e revisão de ex-ministros de finanças do Brasil e executivos do Banco Mundial. O trabalho faz parte da iniciativa global New Climate Economy, que busca apontar caminhos que aliem o desenvolvimento econômico com o combate ao aquecimento global. 

Amazônia
Estudo aponta que, para preservar terras, País precisa de pecuária mais produtiva. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A expectativa é que as mudanças climáticas devem causar impactos ainda mais severos do que o novo coronavírus. Por isso, vários países estão estudando formas de adotar medidas que tragam ganhos econômicos e climáticos. A construção de uma economia mais eficiente e resiliente teria essa capacidade, defende o estudo, que será lançado nesta quinta-feira, 13.

O trabalho focou estratégias que poderiam ser adotadas em três setores estratégicos da economia brasileira: infraestrutura, indústria e agronegócio. Em infraestrutura, a ideia é desenvolver “projetos de qualidade” – como define o estudo – e que não prejudiquem o meio ambiente. Elas podem se valer, por exemplo, dos próprios recursos da natureza e de soluções renováveis, como a energia solar.

“Uma infraestrutura de qualidade reduz os custos e impactos da degradação ambiental e permite maior resiliência a eventos extremos cada vez mais intensos e frequentes (como inundações e secas)”, aponta o relatório.

“Em qualquer crise, investir em infraestrutura é em geral o plano A para a recuperação de emprego. Mas o Brasil está há 30 anos tentando fazer isso. O País vai precisar atrair investimento privado, internacional, mas como vai fazer isso sem um ‘selo’ de desenvolvimento sustentável, sem garantir que uma determinada obra não vai ter conflito socioambiental?”, disse ao Estadão Carolina Genin, diretora de Clima do WRI Brasil e coordenadora do estudo. 

Na indústria, a proposta é inovar a partir de tecnologias sustentáveis que reduzam o consumo de combustíveis fósseis, os principais responsáveis, globalmente, pelo aquecimento do planeta. A ideia é investir mais em biocombustíveis e em veículos elétricos

Na agricultura, a direção é o aumento da eficiência da produção a partir de um uso mais eficiente do solo, reduzindo, por exemplo, a pressão sobre a Amazônia. Uma nova e importante frente de investimento é a recuperação de 12 milhões de hectares de pastagens degradadas. O cálculo é que o setor poderia ganhar R$ 19 bilhões em produtividade agrícola até 2030  e ainda arrecadar R$ 742 milhões em impostos, além de diminuir significativamente a pressão por desmatamento.

Todas as ações propostas juntas poderiam promover, de acordo com a pesquisa, uma redução de 42% nas emissões de gases de efeito estufa do Brasil até 2025, em relação a 2005.

Sem ruptura

O trabalho também levou em conta que já existe no País uma série de políticas que, uma vez implementadas, podem abrir o caminho para a economia verde. “Mostramos claramente que, se o Brasil optar pela transição para uma economia de baixo carbono (ou seja, que emite menos gases de efeito estufa, causadores do aquecimento global), para uma recuperação verde, esse não será um processo disruptivo”, afirma Carolina.

“Não vai prejudicar os principais setores da economia. Ao contrário, vai torná-los mais produtivos e eficientes do que hoje”, complementou. 

O trabalho, comparou três cenários: um em que a recuperação econômica se dê em modelos tradicionais do século passado; outro, que envolve uma série de medidas com baixas emissões de carbono, como investimento em veículos híbridos e elétricos, maior uso de carvão vegetal no segmento de ferro, redução da perda e desperdício de alimentos, manutenção da produtividade agrícola e redução do ritmo de desmatamento; e um terceiro que traz um cenário semelhante ao anterior, mas com aumento da produção agrícola e menor pressão por desmatamento.

Os resultados citados ao longo dessa reportagem se referem ao terceiro cenário, ante o que ocorreria se a economia seguisse sua trajetória tradicional. "O crescimento do PIB provavelmente será negativo em 2020, dada a crise econômica, mas esses novos caminhos econômicos oferecem ao Brasil uma trajetória de recuperação econômica mais forte e com aumento de emprego em relação a uma recuperação baseada na trajetória atual", aponta o relatório.

“Existe uma janela de oportunidade que se fecha em alguns meses. Os planos de recuperação vão obrigar os países a botar muito dinheiro nisso e ele vai para alguns setores. Se a gente ‘casar’ com a tecnologia errada, isso vai ficar pelos próximos 30 anos. É preciso pensar nos melhores planos para não usar esses recursos de modo equivocado e ficar preso nisso”, afirma.

Ela cita, como exemplo, investimentos em transporte. “Se vamos pensar em ter mais ônibus, que já sejam ônibus elétricos. É uma questão ambiental, mas é também uma discussão para tornar a economia mais competitiva”, diz.