Se apenas ser observado por uma mulher perturba o raciocínio de um homem, que dirá o estado da paixão?
QUEM VIU o ótimo filme argentino "O Filho da Noiva", com Ricardo Darín (ah, a inveja dos bons roteiristas hermanos), sabe que ele trata de uma senhora com demência, que já vive com seu marido há décadas, mas que ainda sonha com um casamento na igreja, desejo que seu filho se empenha em realizar.
No entanto, a família se depara com um obstáculo: o pároco consultado diz que não pode realizar aquele casamento, pois o sacramento do matrimônio só é dado às pessoas com completos discernimentos e lucidez de escolha, coisas que faltam à velha senhora.
O filho retruca, irritado: "Padre, eu me casei com 21 e me divorciei aos 25. O sr. acredita que fiz aquela escolha em estado de plenos discernimento e lucidez? Acredita realmente? Meus pais vêm reiterando a escolha de um ao outro, que fizeram há mais de quarenta anos, e porque minha mãe sofre de Alzheimer, o sr. vem dizer que ela não pode se casar?"
O diálogo -pleno de discernimento e lucidez que o diferem do senso comum- é um dos pontos altos do filme. Afinal, é aceitável, no senso comum, que um rapaz de 21 anos esteja em condições para fazer essa escolha (casar-se) em pleno uso de suas faculdades mentais.
Não à toa, um jesuíta, renomado conhecedor do direito canônico, concluiu que cerca de 90% dos casamentos católicos poderiam ser anulados, a se levar seriamente esta cláusula de impedimento, e registrou sua opinião em livro que não li, mas me foi assegurado por um amigo católico que o leu, e que, por ser advogado, se interessa muito por tais questões. O autor: Pe. Jesus Hortal, antigo reitor da PUC-RJ. Se algum leitor tiver conhecimento do contrário, por favor, me avise.
Pois bato os olhos na revista "Scientific American" deste mês, em que o holandês Sanne Nants escreve um artigo que vem dar base à nossa percepção intuitiva. Estamos cansados de saber que os homens, em interação com uma mulher que lhes desperta muito interesse, se comportam como bobos, sem saber o que dizer, como se seus cérebros estivessem rateando.
Ora, na pesquisa, ele relata o enfraquecimento cognitivo que nos acomete antes e depois de interagir com uma mulher atraente, e que acontece com a simples antecipação mental de um encontro desses.
O teste de Stroop foi aplicado. Ele exige rapidez cognitiva diante de um truque gráfico. Homens e mulheres o fizeram com a informação de que estariam sendo observados (através de uma câmera) por um homem ou por uma mulher, de quem eles só sabiam os nomes.
As mulheres não mostraram diferenças nas respostas, não importando o gênero do observador. Mas os homens... A despeito de não interagirem com a observadora, mostraram grande dificuldade com o teste, só de imaginar que uma mulher os observava!
Por essas e outras, tenho feito campanha para que os casais só tenham filhos (uma sociedade que não se desfaz) quando passar o estado de paixão. Veja: se o simples saber-se observado por uma mulher é capaz de perturbar o raciocínio de um homem, que dirá a paixão, que é um estado de insanidade transitória?