A morte de Francisco causou consternação, tristeza ou indiferença. Cada um, cada um. Nesta quinta (8), Robert Prevost foi eleito. Houve também dilemas. Milhões passaram horas diante da tela do celular na dúvida.
"O papa morreu. Como vou citar isso em um tuíte sobre mim mesmo?"
"Qual o jeito de falar sobre meu sucesso corporativo no Linkedin e compará-lo com Leão 14?"
A internet, que completa neste mês 30 anos no Brasil, trouxe benefícios (não vou desperdiçar seu tempo com isso). Mas criou sérios problemas. Hackers, ódio virtual, apologia ao terrorismo, "eubituários" e os especialistas em tudo, professores de Deus.
O "eubituário", a ânsia de não permitir que o defunto tenha protagonismo na hora da morte, é resultado da falsa sensação de importância que a internet oferece. Faria muito bem reconhecer a própria insignificância. Redes sociais tornaram isso impossível. É legado maldito.
Nos breves instantes em que estamos sem sinal do 5G, percebemos nossa verdadeira irrelevância. E, como disse Perón, a única verdade é a realidade.
É processo involutivo detectado por Susan Cain no livro "O Poder dos Quietos". A sociedade mudou a partir do final do século 20. Foi a vitória da personalidade sobre o caráter. O arquétipo social até então era a introversão, o sujeito sério, cerebral, honorável. O substituto foi a exibição pessoal, a performance, a superconfiança, o charlatanismo.
O humorista Anthony Jeselnik acertou na pinta ao zombar de quem, assim que acontece qualquer tragédia, vai ao X para gritar a própria tristeza.
"O que querem dizer, na verdade, é: ‘Olhem para mim. Eu existo e também estou triste. Não esqueçam!’"
Claro que a rede revolucionou nossa vida. Mas a penicilina e a roda também, então… E daí?
Quem previu mesmo onde isso tudo ia dar foi Paulo Francis. Ao ser informado sobre o que era a internet, ele não ficou nada impressionado.
"Eu não vou entrar porque tudo o que tem lá eu já sei."
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