quinta-feira, 15 de maio de 2025

Influencers e a banalidade do mal das bets, Thiago Amparo - FSP

 Em um mundo governado pelo visual, nenhuma imagem é por acaso. A participação de Virginia Fonseca na CPI das Bets no Senado é uma aula de semiótica em que cada detalhe —do moletom com a foto da filha à cor rosa do copo térmico, passando pela maquiagem leve e os óculos de grau— importa para imprimir uma mensagem de desconcentração e leveza (de inocência, portanto), em contraste com a aspereza da realidade de milhões de brasileiros cujo orçamento tem sido consumido pela compulsão em jogos e a vida devastada por depressão.

Em um mundo imagético —como é hoje o da política institucional, ao qual os senadores pertencem, e o do marketing digital, em que influenciadores faturam milhões—, a imagem não é acessória ao conteúdo; ela é o próprio conteúdo; e o conteúdo é a banalidade da desgraça alheia.

Influenciadores contribuem, dolosamente, com empresas cujo negócio é promover a perda financeira de famílias inteiras, mas se portam como peças inocentes da engrenagem que fingem desconhecer, embora esta não existiria se não lhe emprestassem seus milhões de seguidores.

Alguém desavisado que ligue a TV na sessão da CPI das Bets com influenciadores digitais, regada a perguntas despreparadas e selfies, talvez esqueça que não é uma live ou programa de amenidades.
Contrasta com a aparente descontração o fato de que, a cada mês, 3,5 milhões de novos jogadores passam a apostar em jogos online e bets, que apostadores no país perderam em 12 meses R$ 23,9 bilhões nesses jogos e que quintuplicou o gasto com o setor nas famílias mais pobres e triplicou na população em geral.

Ao assinar contratos que preveem bonificação por metas de lucro das casas de jogos online e bets apenas alcançáveis pela promoção da desgraça alheia (afinal, de nenhum outro lugar vem o lucro exponencial desses jogos destinados a viciar), influenciadores subscrevem um modelo de negócio peçonhento. Influenciadores deveriam responder por vender a imagem de que tal impacto, pimenta nos olhos dos outros, é um refresco cor-de-rosa.

Uma pessoa com cabelo longo e liso, usando óculos e um suéter preto com uma estampa colorida. Ela segura um copo rosa e está em um ambiente com um fundo de paredes em padrão geométrico. A expressão facial da pessoa é pensativa.
Virginia Fonseca na CPI das Bets no Senado - Gabriela Biló/Folhapress

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