domingo, 7 de maio de 2017

Aposentado do Estado custa dez vezes mais, OESP

Por ano, União e Estados gastam algo como R$ 315 bilhões para cobrir os déficits do INSS e das previdências públicas. Pouco mais de R$ 150 bilhões ajudam a pagar 30 milhões de benefícios do INSS, no sistema privado. No entanto, um valor maior – R$ 164 bilhões – é drenado para tapar o buraco nas previdências públicas, criado por apenas 3 milhões de servidores civis e militares da União e Estados.

Foto: Infográfico / Estadão
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Infográfico mostra os gastos públicos
A diferença de gasto é ainda mais gritante quando avaliada em termos per capita. Os cofres públicas liberam cerca de R$ 4,4 mil per capita para cobrir o rombo do INSS, onde estão 29,2 milhões de brasileiros que pagaram pelo benefício. Cada um dos 2,7 milhões de inativos civis da União e dos Estados custa R$ 49 mil – praticamente dez vezes mais. Entre os militares, a proporção sobe: cada um dos quase 300 mil inativos custa R$ 113 mil. “Há uma enorme disparidade entre público e privado, porque os servidores têm privilégios que elevam o valor do benefício”, diz Leonardo Rolim Guimarães, ex-secretário de Políticas de Previdência Social.
No INSS, ninguém ganha mais que o teto de R$ 5.531,31. A Previdência pública vive em outro mundo. A regra, desde 2004, permite que o benefício seja a média de 80% dos salários. A maioria que se aposenta nos próximos anos, porém, entrou no Estado antes e segue a regra anterior: se aposenta com o valor integral do último salário.
O inativo do setor público também tem direito à paridade: o reajuste do benefício é igual ao do salário de quem está na ativa. Como a política era dar reajustes aos servidores, os inativos tiveram aumento real de quase 40% na última década.
Esse efeito perdura se nada for feito. “Ao longo dos próximos 15 anos, o servidor que se aposentar terá direito ao valor integral do último salário e a paridade, com sérios efeitos sobre as contas públicas”, diz Claudio Hamilton dos Santos, técnico da área macroeconômica do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
A reforma, se aprovada, reduzirá as diferenças entre público e privado: endurece as regras para o cálculo do benefício, fixa para os servidores o teto do INSS e estabelece reajuste pela inflação, entre outras medidas.
Mas os defensores da reforma dizem que ela não se limita à questão financeira. Teria também um componente de “justiça social”. Os déficits previdenciários são coberto por três fontes. Parte vem da cobrança de tributos. Outra parte, da transferência de recursos: aposentadorias e pensões consomem dinheiro que iria para saúde, educação e, principalmente, investimentos. Entram ainda na conta recursos amealhados com o aumento da dívida. “Como no Brasil os impostos recaem mais sobre os mais pobres, o sistema é perverso: tira de quem tem menos e transfere para a elite do funcionalismo”, diz Paulo Tafner, pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo (Fipe/USP).

Essa questão é considerada tão séria que o economista Nelson Marconi, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), tem uma proposta mais radical ainda para corrigir as distorções. “Deveriam aproveitar a reforma para taxar servidores inativos com aposentadorias elevadas – eles não contribuíram o suficiente para ganhar tanto”, diz.

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Carlos Américo Pacheco é o novo diretor-presidente da FAPESP


20 de julho de 2016

Agência FAPESP – Carlos Américo Pacheco é o novo diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP. A escolha foi feita pelo governador Geraldo Alckmin, a partir de lista tríplice definida pelo Conselho Superior da FAPESP, e publicada no Diário Oficial de São Paulo de 20 de julho de 2016.
Pacheco possui graduação em engenharia eletrônica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (1979), mestrado (1988) e doutorado (1996) em Ciência Econômica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pós-doutorado pela Columbia University (2005).
Foi secretário executivo do Ministério de Ciência e Tecnologia e presidente do Conselho de Administração da Finep (1999 a 2002). Foi secretário-adjunto da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de São Paulo (2007), reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (2011-2015) e diretor-geral do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais - CNPEM (2015-2016).
É professor afastado do Instituto de Economia da Unicamp e assessor da direção geral do CNPEM. Tem experiência na área de economia urbano-regional, economia industrial e tecnológica.


Foi condecorado Grande Oficial da Ordem do Rio Branco pelo Ministério das Relações Exteriores (2000), comendador da Ordem do Mérito Aeronáutico pelo Ministério da Aeronáutica (2000) e recebeu a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico da Presidência da República (2000).

terça-feira, 2 de maio de 2017

Um Macron tupiniquim?, Eliane Cantanhêde

A disparada do deputado Jair Bolsonaro para o segundo lugar da corrida presidencial, com 15% no Datafolha, é uma boa notícia para a direita, mas é melhor ainda para a esquerda. Assim como o ex-presidente Lula bateu nos 30% históricos do PT, Bolsonaro tende a bater rapidamente no teto da extrema direita e é o adversário que qualquer candidato pediu a Deus. Sem liderança, sem credenciais, sem propostas e sem ovelhas como as de Lula, arrisca-se a despencar do palanque ao primeiro sopro.
Num improvável segundo turno entre Lula e Bolsonaro, o grande eleitorado de centro vai votar nulo ou tapar o nariz ao optar por quem é réu cinco vezes (por enquanto) ou quem representa o que há de mais retrógrado na política e na sociedade brasileira. Parece o fim do mundo, mas não vamos esquecer que o Brasil é um país de centro, seus cidadãos estão cada vez mais politizados e a polarização Lula-Bolsonaro abre uma avenida de oportunidades para um nome que não esteja atolado na Lava Jato nem seja um franco-atirador que remeta mais ao passado e à ditadura do que projete um futuro de renovação da política e das relações entre público e privado.
Muito se fala de Lula, que saiu de um casebre miserável, sacudiu num pau de arara até São Paulo, virou o maior líder de massas da história recente e o presidente mais popular, mas jogou tudo isso fora ao cair desavergonhadamente nos braços do grande capital, enquanto encenava o defensor dos pobres. Surgir nas delações de Marcelo Odebrecht com uma conta de R$ 40 milhões na empreiteira para usar a seu bel-prazer é arrasador.
Mas pouco vem se falando de Bolsonaro, um produto mais sociológico do que político. Quem se encanta com sua candidatura se identifica com posições contra os direitos e a independência das mulheres e dos gays e contra a importância da política e da democracia. E como garantiria a governabilidade, as relações com o Congresso, a participação de uma sociedade plural? Como administraria uma economia ainda recolhendo os cacos? Como se relacionaria com um mundo cada vez mais complexo?
Não é preciso nenhuma pesquisa para saber o tamanho do estrago da Lava Jato sobre a imagem de Lula, que se equilibra entre 30% de intenção de voto e 45% de rejeição, e de Aécio, que envelheceu na política com uma rapidez estonteante. Mas há dúvidas sobre Alckmin e Marina Silva, por exemplo, e sobre o fator Temer. E há João Doria...
Se há uma ameaça de fato à maior operação de combate à corrupção no Brasil e no mundo, é Lula e Aécio em 2018 e, principalmente, Lula eleito. Ele é o centro das investigações, pessoalmente atingido por sítios, triplex e contas ilegais e apontado como cérebro da corrupção institucionalizada, logo, sua vitória seria a derrota da Lava Jato. E como imaginar o trabalho monumental do MP, PF, Receita e Justiça desembocando num Bolsonaro, num novo Chávez?
Nenhum analista via Donald Trump com chances reais e lá está ele decidindo se ataca ou não a Coreia do Norte. De outro lado, todo o mundo assustava-se com a família Le Pen na França e eis que surge, pelo centro, Emmanuel Macron. Aqui, tudo também pode acontecer. Depois de estar à beira da depressão econômica, derrapar na depressão política e afundar na depressão moral, o Brasil precisa levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. Não será com um Trump tupiniquim, um Chávez falando português, um candidato que traz de volta os piores fantasmas nem um que seria um escárnio com a Lava Jato. Há uma avenida aberta ao centro e não se descartem Fernando Haddad e Doria, mas quem está sem identidade ou quem joga na rua as flores de uma boa causa ainda não mostrou condições de virar o Macron brasileiro.