A disparada do deputado Jair Bolsonaro para o segundo lugar da corrida presidencial, com 15% no Datafolha, é uma boa notícia para a direita, mas é melhor ainda para a esquerda. Assim como o ex-presidente Lula bateu nos 30% históricos do PT, Bolsonaro tende a bater rapidamente no teto da extrema direita e é o adversário que qualquer candidato pediu a Deus. Sem liderança, sem credenciais, sem propostas e sem ovelhas como as de Lula, arrisca-se a despencar do palanque ao primeiro sopro.
Num improvável segundo turno entre Lula e Bolsonaro, o grande eleitorado de centro vai votar nulo ou tapar o nariz ao optar por quem é réu cinco vezes (por enquanto) ou quem representa o que há de mais retrógrado na política e na sociedade brasileira. Parece o fim do mundo, mas não vamos esquecer que o Brasil é um país de centro, seus cidadãos estão cada vez mais politizados e a polarização Lula-Bolsonaro abre uma avenida de oportunidades para um nome que não esteja atolado na Lava Jato nem seja um franco-atirador que remeta mais ao passado e à ditadura do que projete um futuro de renovação da política e das relações entre público e privado.
Muito se fala de Lula, que saiu de um casebre miserável, sacudiu num pau de arara até São Paulo, virou o maior líder de massas da história recente e o presidente mais popular, mas jogou tudo isso fora ao cair desavergonhadamente nos braços do grande capital, enquanto encenava o defensor dos pobres. Surgir nas delações de Marcelo Odebrecht com uma conta de R$ 40 milhões na empreiteira para usar a seu bel-prazer é arrasador.
Mas pouco vem se falando de Bolsonaro, um produto mais sociológico do que político. Quem se encanta com sua candidatura se identifica com posições contra os direitos e a independência das mulheres e dos gays e contra a importância da política e da democracia. E como garantiria a governabilidade, as relações com o Congresso, a participação de uma sociedade plural? Como administraria uma economia ainda recolhendo os cacos? Como se relacionaria com um mundo cada vez mais complexo?
Não é preciso nenhuma pesquisa para saber o tamanho do estrago da Lava Jato sobre a imagem de Lula, que se equilibra entre 30% de intenção de voto e 45% de rejeição, e de Aécio, que envelheceu na política com uma rapidez estonteante. Mas há dúvidas sobre Alckmin e Marina Silva, por exemplo, e sobre o fator Temer. E há João Doria...
Se há uma ameaça de fato à maior operação de combate à corrupção no Brasil e no mundo, é Lula e Aécio em 2018 e, principalmente, Lula eleito. Ele é o centro das investigações, pessoalmente atingido por sítios, triplex e contas ilegais e apontado como cérebro da corrupção institucionalizada, logo, sua vitória seria a derrota da Lava Jato. E como imaginar o trabalho monumental do MP, PF, Receita e Justiça desembocando num Bolsonaro, num novo Chávez?
Nenhum analista via Donald Trump com chances reais e lá está ele decidindo se ataca ou não a Coreia do Norte. De outro lado, todo o mundo assustava-se com a família Le Pen na França e eis que surge, pelo centro, Emmanuel Macron. Aqui, tudo também pode acontecer. Depois de estar à beira da depressão econômica, derrapar na depressão política e afundar na depressão moral, o Brasil precisa levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. Não será com um Trump tupiniquim, um Chávez falando português, um candidato que traz de volta os piores fantasmas nem um que seria um escárnio com a Lava Jato. Há uma avenida aberta ao centro e não se descartem Fernando Haddad e Doria, mas quem está sem identidade ou quem joga na rua as flores de uma boa causa ainda não mostrou condições de virar o Macron brasileiro.
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