segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Celso Rocha de Barros Olavo de Carvalho resolveu ficar no lado burro da cultura ocidental, FSP

 

Em um dado momento da vida, Olavo de Carvalho resolveu ir morar no lado burro da cultura ocidental. Tornou-se politicamente influente quando o Brasil se tornou seu vizinho.

Se Olavo de Carvalho tivesse morrido, digamos, em 2001, talvez tivesse entrado para a história como um agitador cultural de certo interesse. Já tinha defeitos seríssimos, mas formou alguns alunos bons, que depois abandonaram seu grupo. Divulgava autores conservadores que podem ter sido importantes para os jovens conservadores dos anos 90. Escrevia bem.

No começo dos anos 2000, Lula foi eleito presidente e Olavo foi morar nos Estados Unidos, em circunstâncias estranhíssimas. A partir daí, sua inserção no debate brasileiro muda. Conforme o PT se fortalece, aumenta a demanda por ideias que descrevessem o PT como um participante ilegítimo da democracia brasileira (um braço do Foro de São Paulo, por exemplo). E Olavo adquire o repertório do conspiracionismo reacionário americano, que exacerba seus piores defeitos.

Como divulgador dos influencers da extrema direita americana, conquistou uma audiência razoável na internet brasileira. Se tivesse ficado só nisso, já teria causado algum dano ao nosso debate público. Mas, sejamos honestos, os alunos do "Curso Online de Filosofia" já eram burros antes da matrícula.

Olavo só veio para a primeira divisão em 2018, quando o Brasil caiu para a última. O bolsonarismo adotou o olavismo como ideologia oficial do movimento. Era importante ter uma ideologia oficial, fosse qual fosse. Bolsonaro queria ter um movimento seu, pessoal, que o ajudasse a não ser controlado pelos militares que o cercavam. O sectarismo de Olavo foi instrumental para isolar os bolsonaristas em uma bolha relativamente isolada da discussão (e das denúncias) da grande mídia.

No meio bolsonarista, Olavo floresceu: nunca houve a menor possibilidade de alguém no bolsonarismo saber que ele estava errado sobre Kant, Marx ou Rorty. O atual ministro da Cultura estava na novela "Mutantes", da TV Record. Se Olavo lhe dissesse que Heidegger era uma das Paquitas, o ministro acreditaria.

E foi assim que um sujeito em franca decadência intelectual, que achava Isaac Newton burro e não sabia se a terra era plana ou esférica, indicou, não um, mas dois ministros da Educação brasileiros, além do pior chanceler do mundo. As ideias dos extremistas americanos que Olavo trouxe para o Brasil tiveram evidente influência na atitude negacionista do bolsonarismo diante da pandemia. Olavo defendia um golpe militar abertamente desde o impeachment de Dilma.

E agora morreu Olavo, depois de anos ensinando a direita brasileira a desconfiar da democracia e da ciência. O que devemos nos perguntar é: como o Brasil decaiu a ponto de Olavo ter se tornado mais influente à medida que se deixava degenerar intelectual e moralmente? Por que não houve uma resposta de direita racional à crise do petismo? A direita brasileira é poderosa demais para ter que se preocupar com bons argumentos? Havia defeitos nas ideias de esquerda que facilitaram a proliferação de respostas tão ruins? Em que momento nos tornamos incapazes de falar sobre nossos problemas e começamos a delirar?

E, sobretudo: como se sai desse sonambulismo?

As eleições armadas após descaso com medidas de Bolsonaro, Janio de Freitas, FSP

 O incompreensível descaso com as medidas de Bolsonaro para armar parte da população, sendo tantas as implicações nocivas daí advindas, é tão ameaçador para o futuro próximo quanto a própria ação armadora de Bolsonaro.

Recente descoberta no Rio indica que armas de combate, modernas e caríssimas, estão entrando em alta quantidade e tomando destinos imprecisos. Chegam em importações dadas como legais, amparadas nos atos a respeito, repletos de lacunas, emitidos por Bolsonaro.

Com permissões para colecionadores, atiradores e outros, um casal jovem importava lotes volumosos de armas, dezenas de fuzis modernos e ainda metralhadoras, pistolas, revólveres e projéteis aos muitos milhares. Dispensadas, agora, as autorizações e a vigilância do Exército. O casal associava operações em Goiás e no Rio, onde foi localizada uma casa cheia de armas em bairro residencial.

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O presidente Jair Bolsonaro defende o porte de armas em post no Instagram - Reprodução - 03.mar.21/Instagram

As alternativas permitidas pelas liberações de Bolsonaro são tantas —registros pessoais e comerciais sem limite, importações sucessivas, inexistência de fiscalização, entre outras— que um só operador pode armar para combate todo um contingente. É o que está acontecendo. Com quantidades ignoradas de importadores, de armas, munições e de financiadores. Certo é não haver motivo, muito ao contrário, para supor exclusividade do casal no fornecimento de armas bélicas.

A quem, é a questão mais importante. Aos bandos conhecidos e à milícia, veio pronta a afirmação na única e precária notícia policial (em O Globo de 26.jan) sobre o arsenal encontrado. Provável final de um lote importante, os 26 fuzis e até metralhadora de chão, além de outras armas e muita munição, indicam custo além do conveniente para aquela freguesia, cliente dos preços no contrabando, solidários e sem impostos.

"Se não tiver voto impresso, não vai ter eleição" pode ser uma frase simbólica dos tantos avisos públicos de um propósito anti-eleitoral. Reforçado no que as atuais sondagens do eleitorado sugerem. E já sonorizado na volta à mentira de fraude nas eleições de 2018. Tal propósito não se consumaria no grito, nem deve contar com a sabotagem eleitoral de outro Sergio Moro e de procuradores bolsonaristas à disposição de Augusto Aras. Armas potentes, porém, se ajustam bem ao propósito.

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As medidas de Bolsonaro para o armamento de civis obedeceram a um plano. Mostrou-o a escalada em que se deram. Primeiro, a posse doméstica, depois facilidades para o porte. Então os primeiros incentivos à compra e às munições, com possível importação, e aí a posse ampliada. Até chegar à compra de 60 armas por cabeça e mil projéteis por arma/ano. Sem restrição a várias importações. Para atenuar o comprometimento do silencioso Exército nesse plano sinistro, suas obrigações ligadas à posse de armas foram extintas quase todas.

Essas medidas não vieram do nada para o à toa. São uma denúncia de si mesmas e de suas finalidades criminosas. Fuzis e metralhadoras não se prestam ao alegado "direito do cidadão de se defender", argumento da má-fé de quem, assaltado, entregou sua arma, a moto e a falsa valentia ao jovem assaltante.

As importações de fuzis e metralhadoras não são suspeitas: são, com toda a certeza, armas para o crime. Contra pessoas, grupos, instituições constitucionais e o regime de liberdades democráticas.

Estamos já no ano eleitoral. É preciso identificar e comprovar o destino das armas de uso bélico importadas, em quantidade, por decorrência de medidas programadas e impostas por Bolsonaro, sem resistência institucional, dos meios de comunicação ou dos setores civis influentes. Do contrário, quem puder, e tiver tempo, saia da frente dessas armas.

BOM ENCONTRO

O charlatanismo de Marcelo Queiroga vai encontrar nos próximos dias a indignação da medicina honesta.

Mais de uma corrente de médicos e a própria Academia Brasileira de Medicina discutem reações aos ultrajes de Queiroga à medicina e à defesa científica da população. Queiroga tem pretensões eleitorais na Paraíba. Sua eleição seria uma vergonha irreparável para o estado.

FONTE E PONTE

O interesse por saber os ganhos de Sergio Moro através do escritório americano Alvarez & Marsal lembra outras investigações no gênero. A constatação depende menos das contas pessoais do que de investigação na empresa pagadora.

É comum que escritórios de advocacia e consultorias sirvam ao repasse, como remunerações suas, de pagamentos em que o pagador não pode aparecer, sob pena de causar escândalo ou incorrer em crime junto com o recebedor.

No caso de Moro, se tal investigação fosse desejada pelos que o questionam, precisaria ser feita nos Estados Unidos. O que é impensável.