quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Deirdre Nansen McCloskey - A gangue de Trump, FSP

 Meu país acaba de eleger uma gangue de idiotas e criminosos para o governo. Confiei no bom senso dos meus concidadãos e tinha certeza de que eles não elegeriam pela segunda vez um trapaceiro, um estuprador, um criminoso condenado. Mais idiota sou eu.

O escolhido por Trump para Secretário da Defesa não tem qualificações para liderar uma das maiores burocracias do mundo. Ele não quer mulheres nas Forças Armadas e declarou que está disposto a demitir generais que não concordarem em usar o exército de forma inconstitucional —por exemplo, para prender 11 milhões de estrangeiros ilegais. Sua primeira escolha para liderar o Departamento de Justiça foi outro membro ferozmente leal a Trump da Câmara dos Deputados, também sem experiência administrativa, quase nenhuma como advogado e nenhum compromisso perceptível com a Constituição. Ele estava prestes a ser revelado como traficante de meninas menores de idade e decidiu recuar.

Eu também fui enganada, você sabe, pelo seu criminoso condenado eleito para o cargo supremo, e o achei preferível ao imitador de Trump, Bolsonaro. Mas Bolsonaro não se cercou de idiotas e criminosos, como Trump pretende fazer em seu segundo mandato. No primeiro mandato, ele começou com pessoas razoáveis, embora as tenha dispensado constantemente até se tornar um carro de palhaços. O Senado dos Estados Unidos deve aprovar as escolhas do segundo mandato, mas eles obedecerão ao seu Padrinho. Estamos prestes a assistir a uma reprise do filme, no estilo Washington.

Donald Trump em Washington - Allison Robbert/via Reuters

Sua segunda escolha é pelo menos uma promotora experiente na Flórida, embora também esteja disposta a usar o departamento [ministério] para investigar os inimigos de Trump no Congresso e na imprensa. Outro de seus méritos aos olhos de Trump é que ela tem sido uma defensora no estilo Máfia do alto crime de Trump de levar para seu palácio na Flórida depois do primeiro mandato grande quantidade de documentos supersecretos, que ficaram inseguros num banheiro. Ele se gabava de sua importância, no estilo adolescente, e depois os mostrava no almoço para os visitantes.

Sua escolha para liderar o FBI, também acredita em processar os inimigos de Trump. E todas as suas escolhas para cargos relacionados à saúde no governo federal se opõem à imunização. Todos, porém, são estrelas da Fox News e leais a Trump. Essas certamente são qualificações para proteger a saúde dos americanos.

A única qualificação de seu escolhido para Secretário do Tesouro é que ele ganhou muito dinheiro em Wall Street. Pelo menos Bolsonaro escolheu para seu czar da economia um excelente economista (um aluno meu na Universidade de Chicago naquela época). Ele não fez todo o trabalho contra as regulamentações absurdas que paralisam a economia brasileira e certamente não fez o trabalho completo que a equipe de economistas verdadeiramente liberais de Milei está fazendo este ano na Argentina. Mas pelo menos ele sabia do que estava falando. O único candidato de alto escalão de Trump que faz isso é o senador Marco Rubio para liderar o Departamento de Estado, embora ele também, como todos os "trumpsters" prestes a tomar as rédeas do governo dos Estados Unidos, não tenha experiência em administrar uma grande burocracia.

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Volte, Jair. E coloque novamente um liberal no comando da economia.

Ruy Castro - Otto e o óbvio, FSP (definitivo)

 Nelson Rodrigues gostava de contar esta história. Otto Lara Resende, morador da Gávea, ia todos os dias pelo Aterro do Flamengo para o jornal em que trabalhava, no centro da cidade. Um dia, ao passar pelo Morro da Viúva, olhou casualmente à direita e viu um corpo estranho na enseada: uma pedra gigante com uma casinha no cocuruto. Era o Pão de Açúcar. Embora morasse no Rio desde 1945 e todos os empregos que tivera o obrigassem a passar em frente a ele, Otto nunca se dera conta de sua existência. Atônito, meteu o pé no freio. Os pneus faiscaram e obrigaram os motoristas atrás dele a fazer o mesmo.

Para espanto de todos, Otto saiu do carro e começou a zanzar entre eles, apontando mudo, de boca aberta, para o Pão de Açúcar. Assustadas, as pessoas também desceram, para acudi-lo. Asmático, veio-lhe a falta de ar e ele puxou a bombinha. Uma senhora, abanando-o, dizia: "Calma, meu senhor, calma!". E, sempre apontando para o Pão de Açúcar, só então Otto balbuciou: "Ontem não estava ali! Ontem!". E Nelson completou: "Foi um momento para a eternidade —o grande confronto entre Otto Lara Resende e o óbvio ululante".

Foi a primeira vez que Nelson usou a expressão "óbvio ululante", para dizer que o óbvio ulula à nossa frente, implorando para ser percebido. Mas não o vemos. "Só os profetas enxergam o óbvio", concluiu Nelson. Por isso, Otto nunca enxergara o Pão de Açúcar —ele era o óbvio ululante.

Tudo o que aconteceu durante Bolsonaro e só agora está vindo à tona do pântano era óbvio desde o começo. Bolsonaro não dedicou um único dia de seu suposto governo a governar. A educação, a saúde, a segurança, nem mesmo a economia, nunca lhe disseram nada. A partir do primeiro dia, empenhou-se em sua recondução ao poder em 2022, precavendo-se de que, se isso não acontecesse pelas urnas, viria na forma de um golpe.

Uma consulta aos arquivos mostrará que, com as mesmas palavras, isso foi dito várias vezes neste espaço naqueles quatro anos. Nenhuma vantagem —era o óbvio. E tão óbvio que o próprio Bolsonaro o ladrava nos palanques, caçambas e motociatas, na certeza de que ninguém o enxergaria.

Otto Lara Resende
Otto Lara Resende - Banco de Dados Folha